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quinta-feira, 24 de outubro de 2013

ENANPEGE - Uma semana de desafios?

ENANPEGE - Uma semana de desafios?

"Já estamos em pleno século XXI. Se não reconhecermos a nossa identidade e o nosso papel no Brasil do presente perderemos uma oportunidade histórica de atuação."[1] Esse é um dos desafios propostos na apresentação do X ENANPEGE. Anuncia a ANPEGE como lugar precípuo para pensarmos nossas atividades aonde se reúne- por definição - um conjunto significativo da pesquisa que se realiza no âmbito da Geografia. Um lugar constituído por uma identidade.

Há sempre um espaço profícuo para o debate e a troca de ideias. Há sempre há algo que se constrói coletivamente e que permite a Geografia avançar. A ementa de apresentação do X ENANPEGE aponta um debate que não pode ser esquecido. Este é o forum que associa pesquisadores de GF e GH separados, na prática, por pesquisas fragmentadas. Único lugar onde a convergência destes "campos de pesquisa", esta posta como princípio. Momento em que o livre curso de pesquisadores pode gerar aproximações questionadoras de subdivisões, superando workshop de experts. Portanto, o lugar aonde se abriria a possibilidade do novo que é sempre uma aposta que deve conter, em si, a critica ao que existe. É assim que o conhecimento caminha.

Mas pensar a Geografia num mundo em transformação, num pais aonde as pessoas resolveram em massa se manifestarem contra o status quo, é um desafio ao qual não podemos nos furtar. Requer o debate sobre os impasses da pesquisa e suas dificuldades criando o ambiente necessário à construção de um projeto coletivo. "É um bom momento para sairmos mais dos intramuros das universidades e das instituições de pesquisa no sentido de contribuir com as grandes questões nacionais."[2] Requer que  cada um de nos, reconheça os desafios e situações de crise, significa estar aberto ao diálogo, reconhecer o fato de que o processo de conhecimento é coletivo. Que a critica é o comportamento precípuo a partir do qual o conhecimento se gesta e o debate pode iluminar caminhos de pesquisa.

O espaço da ANPEGE, numa universidade fragmentada deveria ser um ambiente de tolerância necessário à construção de um diálogo diante de um  mundo em transformação muito rápida. Um mergulho no desafio de (re)- encontrar o que une a Geografia e os geógrafos - e sua responsabilidade social.

Das dificuldades: pelo direto de discordar?

Entre tanto diretos conquistados um tabu parece estar longe de ser derrubado: o exercício da critica e a  "criminalização" da divergência de opiniões que impede que o diferente aflore e seja respeitado em sua situação de divergência. Porque temos que pensar todos da mesma forma, num único caminho para a pesquisa e para a universidade? Porque temos que desqualificar a divergência? O homogêneo só se conquista pela força, a meu ver, incompatível com o sentido da universidade. Se no  mundo acadêmico, numa reunião de pesquisadores, não se pode manifestar  divergências de pensamento e colocar ideias para o debate aonde vamos fazê-lo? Aonde e como vamos superar os cenários de crise teórico e prática? Porque a critica de ideias tem que se reduzir e ser confundida a uma critica  pessoal. Quando atingiremos o amadurecimento necessário para que o debate acadêmico possa se realizar plenamente, sem a desqualificação do outro?

Mas o que me parece mais grave: como superar o modelo competitivo que se instaura entre nós e que  compromete o debate e desqualifica o papel que a Geografia poderia assumir no mundo moderno? Porque temos que submeter a autonomia universitária á lógica da política das instituições de fomento? Porque nos submetermos, como cordeiros, exigência do ranqueamento imposto pela CAPES que nos leva perigosamente á construção de um "mercado acadêmico"? Como superar o deslocamento de nossas preocupações do currículo lattes e, da nota da CAPES, para uma preocupação em compreender a realidade brasileira em suas contradições e conflitos? Como superar a avassaladora voracidade daqueles que acreditam que os foros de debate de pesquisa devam ser usados para aumentar superficialmente o lattes - como se o reconhecimento acadêmico viesse do tamanho do currículo e não da qualidade da pesquisa? Mas sobretudo, como a comunidade geográfica avalia que 70% dos Grupos de trabalho, nesta edição do ENANPEGE, traz coordenadores ( cuja função é aquela de analisar/ escolher, portanto avaliar os trabalhos a serem apresentados) em situação de apresentadores de trabalho? Pior ainda, como compreender e justificar que em dois casos, coordenadores de GT aparecem com 7 trabalhos de sua autoria/coautoria no mesmo GT ( sem esquecer que em outros casos temos com 5, outro, ainda com 4, alguns com dois, etc.) ?

Como urgência coloca-se para a reflexão. O fim do preconceito inaugurando o direito de divergir e o exercício da crítica como condições  necessárias e indispensáveis à criação do ambiente da pesquisa e do trabalho acadêmico. Uma ética que mova nossas relações sustentada pela transparência nas avaliações dos trabalhos realizados em todos os níveis. O compromisso da Geografia como possibilidade de compreensão do mundo em que vivemos. Afinal, "o papel da Geografia sempre foi o de interpretar a rede complexa que envolve a produção social do espaço, em suas várias dimensões e escalas, funcionando nesta engrenagem como uma ferramenta capaz de compreender a imbricada trama das lógicas socioespaciais e, por isso mesmo, de orientar  as ações sobre as dinâmicas territoriais"[3] ?
[1] Ementa de apresentação do X ENANPEGE, 2013
[2] X ENANPEGE op cit
[3] Apresentação X ENANPEGE

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