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quinta-feira, 24 de outubro de 2013

Veiculado pelo Correio da Cidadania


Veiculado pelo Correio da Cidadania a partir de 23/10/13


Paulo Metri – conselheiro do Clube de Engenharia - 23/10/2013



Um amigo me perguntou, assim que soube do resultado do leilão de 
Libra, se ele tinha sido um sucesso ou um fracasso. O interessante é 
que, em muitos momentos na vida, respostas curtas não satisfazem. 
Comecei a explicar a ele que, se compararmos com a alternativa de 
entregar Libra através da lei das concessões (no 9.478), o que ocorreu 
foi um sucesso. Se compararmos com a alternativa de entregar o campo à 
Petrobras, sem leilão prévio, para ela sozinha assinar um contrato de 
partilha com a União em melhores bases para a sociedade, o ocorrido 
foi um fracasso.



Neste momento, vem a célebre argumentação da falta de recursos da 
Petrobras. É verdade que o superbônus definido pelo governo atingiu 
seu duplo papel de conseguir arrecadar recursos para o superávit 
primário e de desalojar esta empresa da pretensão de ficar sozinha com 
o campo. A curtíssimo prazo, segundo autoridades, a empresa tem falta 
de recursos, sim. Mas, se ela passasse a ter, no seu portfólio, um 
campo com mais de 10 bilhões de barris, considerando que sempre foi 
competente para produzir petróleo, não teria a mínima dificuldade para 
obter financiamentos. Com o superbônus, o governo trocou o benefício 
de satisfazer o superávit primário, de curtíssimo prazo, por perdas 
que irão durar 35 anos.



Considerando os impactos para a sociedade brasileira, a alternativa 
com a Petrobras, que está dentro da lei, pois atende ao artigo 12 da 
lei no 12.351, é a melhor, à medida que ficamos com 100% do petróleo, 
assim como 100% do lucro. Não sei se consegui, mas tentei explicar ao 
amigo que o leilão ocorrido consistiu em um “meio fracasso” e um “meio 
sucesso”. Meus amigos de esquerda dirão que foi um fracasso total. 
Quero lembrar a eles que a manchete principal de um dos jornalões, no 
dia do leilão, era que a lei dos contratos de partilha precisava ser 
reformulada, pois criava grandes dificuldades. Obviamente, queriam o 
retorno das concessões para o pré-sal.



Infelizmente, existe no nosso país uma dicotomia também na mídia. Acho 
que a sigla PIG foi criada pelo jornalista Paulo Henrique Amorim, 
representando o Partido da Imprensa Golpista, que congrega a imprensa 
do capital. Aquela que busca iludir nossa sociedade para colher o 
máximo de aceitação dela, contrariando até os seus próprios 
interesses. Concordo integralmente com o criador da sigla PIG. 
Entretanto, existe também, para mim, o PIP, o Partido da Imprensa 
Petista, que é sempre favorável a qualquer decisão do governo Dilma. O 
PIP está mais em sites e, na maioria das vezes, concordo com as 
posições que ele toma. Mas, na questão de Libra, o PIP e a presidente 
se comportaram pessimamente. Não ouviram, não dialogaram, quiseram 
“criar verdades”, igual aos manipuladores do PIG.



Não concluam que, por não apoiar a posição neoliberal tucana, nem 
concordar com a posição privatista petista, eu seria adepto da dupla 
Marina e Campos, até porque, possivelmente, eles devem concordar com a 
posição tucana. Aliás, é sofrido ser de esquerda em um país como o 
nosso, onde há total controle das massas através da disseminação 
abusiva de posições de interesse do capital ou do governo, pelos meios 
de comunicação, sobre quase todos os temas. Esta mídia irreal, 
incompleta e falsa não analisa os fatos, omite opiniões, desvirtua 
acontecimentos e conclui, na maioria das vezes, errado, não ajudando 
em nada a sociedade. Não há um debate público na mídia sobre pontos 
relevantes.



O tema do destino dos royalties tomou todo o tempo do noticiário e 
debates porque era indiferente para o capital e, além disso, ajudava a 
esconder temas cuja conscientização era inconveniente, como os modelos 
para exploração de riquezas minerais no Brasil. Nada foi debatido 
sobre o monopólio, quando ele foi extinto, em 1995. Ouvia-se, à 
exaustão, que no monopólio, por não haver competição, o monopolista 
irá ofertar o produto com baixa qualidade e por preço alto. Isto é a 
mais pura verdade, se for um monopólio privado.



Entretanto, a mídia silenciava por completo sobre o monopólio estatal 
poder ser a melhor opção para a sociedade, desde que controlado para 
evitar o corporativismo.



Retornando a Libra, os royalties a serem destinados para a educação e 
a saúde, tão proclamados por um dos porta-vozes do governo, que 
invadiram nossas televisões nestes dias, seriam idênticos, se 100% 
deste campo tivesse sido entregue à Petrobras, como já descrito. 
Então, não era um argumento que diferenciasse alternativas.



O PIG e o PIP não falaram sobre a existência da alternativa de o campo 
de Libra, friso bem “campo”, posto não ser um reles bloco 
exploratório, dever ser entregue à Petrobras para 100% dos 
rendimentos, assim como 100% do petróleo produzido pertencerem ao 
governo brasileiro. O PIG e o PIP boicotaram esta alternativa. 99,9% 
dos brasileiros não souberam da sua existência. O PIG por querer 
satisfazer ao máximo os interesses das empresas estrangeiras, que só 
aceitam as concessões, e o PIP por querer satisfazer a presidente 
Dilma, que está preocupada com o superávit primário. A Petrobras 
poderia prometer entregar 80% ou mais do excedente em óleo para o 
Fundo Social, enquanto o consórcio ganhador se comprometeu só com 
41,65%. Aliás, 41,65%, que poderão não ocorrer. Poderá ser remetido 
bem menos que este valor. Mas isto terá que ficar para outro artigo.



A presidente Dilma fala que o leilão não correspondeu a uma 
privatização. A Shell e a Total não são empresas privadas 
estrangeiras? A CNPC e a CNOOC não são empresas estrangeiras? Elas não 
passarão a ter a posse de uma parcela do petróleo e do lucro gerados? 
Não poderão fazer com suas parcelas de petróleo o que bem quiserem? 
Não poderão remeter suas parcelas de lucro para o exterior? Então, 
desculpe-me presidente, mas isto é privatização e a negação do fato é 
tergiversação.



A presidente falou também que ficará no Brasil 85% dos rendimentos de 
Libra. Trata-se de uma afirmação corajosa, por vários motivos. Por 
exemplo, para obtenção destes 85%, utiliza-se, dentre outros fatores, 
a arrecadação de 25% do lucro para o imposto de renda. Este imposto é 
cobrado da empresa, e não do campo petrolífero. Existem várias formas 
de se reduzir o imposto a ser pago pela empresa, bastando ver, por 
exemplo, o quanto a Petrobras declara de lucro e o quanto ela paga 
deste imposto. Além do exemplo do imposto de renda, poderiam ser 
feitos outros questionamentos a este número de 85%, mas um artigo só 
não suporta tantas considerações.



A presidente não falou nada sobre a perda da possibilidade de ação 
geopolítica porque o Brasil está entregando em torno de 46% do 
petróleo produzido em Libra para as empresas estrangeiras. A sociedade 
não sabe nada disso. Pelo seu valor político e econômico, Libra 
mereceria um plebiscito com debates prévios diários nas televisões, 
durante uns 30 dias, para conscientizar a população.



Nestes dias, o povo só recebeu os assédios de informações truncadas do 
PIG e do PIP. Em compensação, ficaremos durante 35 anos com a Shell, a 
Total e as chinesas também plantadas em Libra.


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