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terça-feira, 29 de julho de 2014

Bombas em vez de brinquedos: crianças têm infância perdida em Gaza e Síria

Bombas em vez de brinquedos: crianças têm infância perdida em Gaza e Síria


Atualizado em  28 de julho, 2014

Sírios (Reuters)
Tanques viraram brinquedos para muitas crianças sírias
"Quando você vê na TV, não é como é na vida real."

Syed, de 12 anos, se inclina e olha atentamente uma estreita parede de concreto cinza, como se seus olhos fossem capazes de abrir um buraco capaz de ajudá-lo a escapar de sua vida. Morador de Gaza, ele assistiu à morte de seu irmão mais novo.
"Quando sentamos na ambulância juntos, pensei que ele fosse sobreviver, então me senti um pouco melhor", diz. Mas quando chegaram ao hospital, Mohammad já estava morto.
Três de seus primos também morreram naquele 16 de julho. Eles brincavam em uma praia perto do porto de Gaza quando Israel atingiu a área duas vezes.
Os conflitos modernos são travados em ruas e escolas, deixando pouco de pé. Cada vez mais crianças morrem, e o próprio conceito de infância está sendo destruído.
Israel alega que não atinge civis intencionalmente, mas Gaza é um pedaço de terra estreito, densamente povoado e, agora, perigoso, onde crianças não têm onde se proteger.
O Hamas e outros grupos armados palestinos negam o uso de civis como escudos humanos, mas a BBC presenciou foguetes sendo disparados de dentro de prédios e em áreas abertas.

Antes amigos, agora inimigos

A Organização das Nações Unidas destacou, na semana passada, que uma criança morre por hora em Gaza.
Mas antes de Gaza dominar as manchetes, eram as crianças da Síria que despertavam a consciência do mundo.
Syed (BBC)
Syed perdeu seu irmão e três primos em ataque aéreo israelense em uma praia em Gaza
Na violenta guerra síria, já em seu quarto ano, mesmo os mais jovens estão sob o alvo de atiradores. Até crianças têm sido torturadas. Milhões delas vivem com fome e medo, e muitas sofrem em áreas cercadas.
Nos últimos seis meses, a BBC acompanhou as vidas de seis crianças sírias. As histórias delas esboçam o mapa político e social desse país e dão uma perspectiva turbulenta do que pode ser o futuro sírio.
"Eu sou uma criança apenas na idade e na aparência", diz Ezadine, de 9 anos, com naturalidade. "Mas em termos humanos, eu não sou. No passado, alguém de 12 anos era considerado jovem, mas não agora. Agora, aos 12 anos, você deve se juntar à jihad."
Ezadine se parece com qualquer criança da idade dele. Mas ele é um refugiado em um campo no sul da Turquia, local com forte presença do Exército de Libertação da Síria, e seu irmão adolescente que já se juntou aos combates do outro lado da fronteira.
A centenas de quilômetros de distância, em Damasco, o mundo de Jalal, de 14 anos, está enraizado no apoio ao presidente Bashar al-Assad, incluindo o pai e tios que lutam em uma unidade de defesa de bairro.
Jalal lamenta o quanto "a crise mudou a gente. Agora as crianças entendem e falam sobre política. Estamos todos prontos para morrer pelo nosso país".
Jalal e Ezadine veem antigos amigos, agora do outro lado, como alvos de uma "lavagem cerebral".
E as crianças veem suas próprias situações com uma clareza surpreendente.
Mariam (BBC)
Mariam, 9 anos: "Eu não vejo porque eu tinha que perder a minha perna só porque Assad queria permanecer no poder"
"Eu não vejo por que eu tinha que perder a minha perna só porque Bashar al-Assad queria permanecer no poder", diz Mariam, de 9 anos.
Ela se lembra de todos os detalhes do dia no qual um avião de combate sírio veio em direção a sua casa, em um vilarejo na região de Homs. "Nós tínhamos uma grande janela. Eu olhei por ela e vi (o avião) vindo em nossa direção. Ele jogou o barril (com explosivos) e foi embora".
Até hoje, ela não consegue sentar em uma sala. E não consegue brincar com outras crianças em um parquinho no sul da Turquia.

'Eu odeio o futuro'

Baraa, de 8 anos, cuja família deixou o bairro antigo de Homs, sitiado, fala com vergonha sobre a mudança que o conflito provocou em sua vida. "Em vez de aprender a ler e escrever, eu aprendi sobre todos os tipos de armas. Agora, eu sei o nome de balas".
A menina diz que nem ela nem suas irmãs conseguem ouvir direito por causa das explosões. A guerra, afirma, foi "muito dura".
BBC
Baraa teve que comer carne de gato
"Na nossa casa tinha cerca de 40 ratos, então tínhamos uma gata. Ela comia todos os ratos, até que um dia resolveram comer ela. Não nos disseram o que era no início, mas no dia seguinte disseram que era carne de gato", contou.
No subúrbio de Damasco, Kifah, de 13 anos, vive no campo de refugiados palestinos em Yarmouk. Ele diz que sua vida é "normal".
Mas a determinação do jovem de manter seriedade desaba quando perguntado sobre o que ele estava comendo. "Não tem pão", diz, imerso em lágrimas.
Há uma nova e preocupante "normalidade" para crianças que vivem sob a guerra.
Amer Oda chefia uma grande família que vive no bairro de Zeitoun, em Gaza. Crianças de todas as idades se amontoam nas escadas atrás dele ou sentam-se de pernas cruzadas sobre um chão de concreto.
Há o som regular de artilharia israelense ou fogo de tanques na mesma rua. Há, também, o barulho alto de foguetes sendo disparados contra Israel.
Kifah (BBC)
Fome é uma realidade diária para Kifah, de 13 anos, que vive em um campo nos arredores de Damasco
Amer Oda ignorou as advertências israelenses para levar sua família de 45 membros para fora desta área, perguntando, como toda Gaza faz, "Para onde posso ir?"
"Isto se tornou vida normal para elas (crianças)", diz, enquanto puxa a pequena Dima, de 4 anos. "Isso é tudo o que elas conhecem".
Dima já viveu duas guerras de Gaza. Todo cidadão local, com idades entre seis e mais, já presenciou três ou mais.
Em Gaza, três crianças de uma mesma família foram mortas por um ataque de advertência de Israel conhecido como "toque no telhado". Eles estavam brincando com pombos no telhado.
"Eu odeio o futuro tanto", disse Daad, de 11 anos, da Síria, que se veste de rosa e tem pesadelos. "Podemos viver, ou podemos morrer."

El Niño não deve trazer chuva ao Sudeste, dizem meteorologistas

El Niño não deve trazer chuva ao Sudeste, dizem meteorologistas

O fenômeno meteorológico El Niño, que pode ocorrer no segundo semestre deste ano, e que altera o clima global, não deve aumentar a quantidade de chuvas no Sudeste, nem amenizar a seca que afeta o Sistema Cantareira, conjunto de reservatórios que abastece a Região Metropolitana de São Paulo e parte do interior do estado, segundo especialistas ouvidos pelo G1.
Eles afirmam que as taxas pluviométricas nos próximos três meses devem continuar baixas na região, índice normal para o período – que é de transição entre o inverno e a primavera –, e a temperatura pode subir até 2ºC, caso o El Niño se confirme.
Batizado em homenagem ao Menino Jesus (em espanhol, “El Niño”), o fenômeno ocorre quando a temperatura do Oceano Pacífico aumenta e provoca alterações na atmosfera.
Segundo os cientistas, a anomalia na costa pacífica da América do Sul deixa o mar ao menos 0,5ºC mais quente e enfraquece os ventos alísios (que sopram de leste para oeste) na região equatorial. Isso provoca uma mudança no padrão de transporte de umidade pelo globo, variações na distribuição de chuvas em regiões tropicais e de latitudes médias e altas, além de inconstância nas temperaturas.
A Organização Meteorológica Mundial (OMM) vê como provável a ocorrência do El Niño neste ano, mas ele ainda estaria em desenvolvimento. Se consolidado, o que pode acontecer entre o fim de agosto e início de setembro, seu pico de força deve ser relativamente fraco, segundo Alexandre Nascimento, da Climatempo.
Efeitos incertos no Sudeste

Na última semana, a ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, já havia comentado que a possível presença do fenômeno não aumentaria as chances de chuva no Cantareira. Segundo ela, a partir da perspectiva de especialistas da Agência Nacional de Águas, a ANA, havia preocupação com um “cenário conservador em relação a chuvas abundantes” nos próximos meses.
Na ciência climática, o nível de certeza sobre o impacto do El Niño em certas regiões do mundo, entre elas o Sudeste brasileiro, não é tão preciso quanto em outras áreas, como Sul, Norte e Nordeste do país.
Segundo o Centro de Previsão do Tempo e Estudos Climáticos (Cptec), ligado ao Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, o Inpe, o último El Niño que afetou o Brasil, entre junho de 2009 e maio de 2010, foi de intensidade fraca. De acordo com a Climatempo, na época, o volume de chuvas no Sudeste foi considerado normal e acima da média entre agosto e novembro, e durante o verão choveu menos que a normalidade.
Fábio Rocha, meteorologista do Cptec, afirma que em outras edições do fenômeno foi possível estabelecer que o Norte e Nordeste são afetados constantemente com o aumento da temperatura e escassez de chuvas, enquanto o Sul do país é castigado com chuvas abundantes. Mas que o impacto no Sudeste ainda continua incerto — não há relação estabelecida entre as chuvas na região e o El Niño.
Apesar, disso, segundo ele, estima-se que o período seco em São Paulo, Rio de Janeiro, Espírito Santo e Minas Gerais deve ser persistente, insistindo até meados de setembro, e que o volume de chuva de agosto, setembro e outubro para boa parte do território paulista deve variar entre índices de 200 mm e 300 mm – média registrada para o período conforme estimativas entre 1961 e 1990.
‘Chuvas para reservatórios’ – Segundo Nascimento, da Climatempo, a partir de novembro podem começar as chuvas de forma abundante, mas não suficiente para encher os reservatórios. “Essas chuvas para reservatórios (período constante, com intermitência em alguns dias, deve acontecer só em janeiro. Mas acreditamos que não será capaz de melhorar os níveis em 2015. Prevemos um cenário ainda caótico no ano que vem”, complementa.
O Sistema Cantareira opera atualmente com apenas 16,6%% de seu volume total. Em 15 de maio, o sistema passou a operar com o chamado volume morto, espécie de reserva técnica. Caso o período de chuvas, que geralmente começa em outubro, atrase este ano, há risco de esgotamento das reservas.
Ele é formado pelas represas Jaguari, Jacareí, Cachoeira e Atibainha. Elas ficam no estado de São Paulo e no sul de Minas Gerais. Juntas, as represas fornecem água para cerca de 9 milhões de pessoas na cidade de São Paulo (zonas Norte, Central e parte das zonas Leste e Oeste), além de Franco da Rocha, Francisco Morato, Caieiras, Osasco, Carapicuíba, Barueri e Taboão da Serra, São Caetano do Sul, Guarulhos e Santo André. Parte do interior do estado também recebe água do sistema.
Além da captação de água do volume morto desde maio, o governo paulista também começou, em março, a usar água dos sistemas Alto Tietê e Guarapiranga para compensar a queda na produção do sistema Cantareira e tentar evitar o racionamento.

segunda-feira, 28 de julho de 2014

Depois da África, China avança sobre América Latina

Depois da África, China avança sobre América Latina



Atualizado em  27 de julho, 2014
Xi Jinping (Reuters)
O presidente chinês Xi Jinping fez um giro pela América Latina na última semana
Depois de "conquistar" a África com contratos bilionários de comércio e investimentos na produção de matérias-primas, a China está voltando sua atenção para outra região capaz de suprir os bens necessários para o seu crescimento: a América Latina.

Países com dificuldades financeiras, como Venezuela, Argentina e Cuba, foram destaque no giro que o premiê chinês, Xi Jinping, fez pela região na última semana, levando a tiracolo um 'pacote de bondades' financeiras.
Em um momento em que o setor de manufaturas "made in China" mostra sinais de declínio (ou talvez por causa disso), o fluxo de dinheiro do gigante asiático para a América Latina continua forte e poderoso.
Soja, minérios, petróleo e bens básicos são alvos de contratos bilionários de empréstimos e investimentos chineses na região - o que ajuda o gigante asiático a reforçar a sua influência internacional.
Um estudo das Nações Unidas prevê que até 2016 a China deve ultrapassar a União Europeia para se tornar o segundo maior parceiro comercial da América Latina, atrás apenas dos Estados Unidos.
E de acordo com um artigo publicado em janeiro na revistaChina Policy Review, em 15 anos a China ultrapassará até os EUA, tornando-se o principal sócio comercial da região.

Parceiro pragmático

Hoje, a China é o maior parceiro comercial do Brasil, Chile e Peru, e o segundo parceiro do México, Argentina e Chile.
Pelos latino-americanos, o país é visto como um ator pragmático, mais interessado na economia do que na política - diferentemente dos EUA e de potências europeias -, como avaliaram, em um artigo recente, os pesquisadores Peter Hakim e Margaret Myers.
Petróleo Venezuela (AP)
A Venezuela fornece cerca de 630 mil barris de petróleo por dia para a China
"Eles não estão preocupados se a China irá ampliar sua crescente influência na região para modificar políticas locais, recrutar parceiros para seus objetivos globais ou competir com os EUA por potenciais aliados", escreveram Hakim e Myers.
Ao mesmo tempo, "a América Latina é importante para a China, por duas razões principais: por seus recursos naturais e pelo potencial de se tornar um mercado importante para os produtos chineses", disse à BBC Joe Chi, diretor-executivo do Centro Comercial Sino-Latinoamericano, com sede em Miami.
Os contratos preferidos dos chineses na região são para compra de matérias-primas ou criação de joint ventures para a extração de matérias-primas.
Os acordos da China com a Venezuela, país com uma das reservas de petróleo mais volumosas do mundo, são os mais vistosos.
De acordo com um estudo da Universidade de Boston, o país de Nicolás Maduro recebeu cerca de US$ 50 bilhões em aportes chineses, dos quais US$40 bilhões seriam empréstimos a serem pagos com petróleo.
Em 2013, o governo venezuelano anunciou um investimento de US$ 14 bilhões da petroleira chinesa Sinopec para desenvolver um campo na bacía petrolífera do rio Orinoco, no leste da Venezuela, com capacidade de produção de 200 mil barris de petróleo.
Na Argentina, de quem a China compra soja, o comércio bilateral quadruplicou nos últimos anos, chegando a cerca de U$ 15 bilhões - e a balança se mantém desfavorável para o país sul-americano.
"Nós temos US$ 10 bilhões de exportações e US$ 5 bilhões de importações: ou seja, o saldo deficitário é de US$ 5 bilhões", explica o economista Luis Palma Cane.

Libra

No Brasil, o consórcio vencedor para explorar o campo de petróleo de Libra, um dos mais promissores do pré-sal, inclui duas empresas chinesas, a China National Offshore Oil Corporation (CNOOC) e o fundo privado China National Petroleum Corp (CNPC).
Libra tem um volume estimado entre 8 e 12 bilhões barris de petróleo, e calcula-se que vá requerer um investimento entre US$ 200 bilhões e US$ 400 bilhões para exploração em 35 anos. Não se sabe quanto desse dinheiro virá da China.
Também em 2013, a PetroChina, uma subsidiária da CNPC, adquiriu todos os ativos da subsidiária peruana da Petrobras por US$ 2,6 bilhões.
O Chile, maior produtor de cobre do mundo, vende um terço da sua produção para o gigante asiático.
Além disso, em 2010, a China assinou um acordo com Cuba para financiar a expansão da refinaria de petróleo de Cienfuegos, que custará US$ 6 bilhões.
Para Alejandro Grisanti, chefe de pesquisa para América Latina do banco britânico Barclays, a China soube aproveitar o que ele considera "um declínio no interesse dos EUA pela região" nos últimos cinco anos.
"A China está buscando aumentar seus investimentos em matérias-primas e tem feito isso de maneira agressiva", diz o economista.

Ambições maiores

Como se não bastassem esses números, o histórico aponta para uma evolução dos interesses chineses na América Latina para além do comércio de commodities.
"Eles agora também investem em infraestrutura, através de licitações ou de acordos privados entre os governos, com financiamento do governo chinês e participação de empresas chinesas", diz Luis Palma Cane.
"Obviamente, o que se busca é garantir trabalho para as empreiteiras chinesas, mas também há uma estratégia geopolítica (por trás dessas iniciativas), que envolve ter uma importância econômica na América Latina."
Na Nicarágua, por exemplo, a China está financiando a construção de um canal interoceânico que deve competir diretamente com o Canal do Panamá.
Especialistas acreditam que o projeto será crucial para a expansão do comércio da China com o resto do mundo.
Em junho de 2013, o governo do presidente Daniel Ortega anunciou a assinatura de um contrato de US$ 40 bilhões com o grupo HKND, do bilionário de Hong Kong, Wang Jing.
O montante garante à China uma concessão de 50 anos pelo direito de construir o canal e mais 50 anos para administrá-lo.
Chi explica que a China também tem interesse em construir fábricas na América Latina no futuro.
"Os custos de produção na China estão subindo lentamente e vai chegar um momento em que (a concentração da produção no país) não será mais sustentável", explica.
Soja argentina (AFP)
A soja representa 75% das exportações da Argetina para a China
A presença chinesa na América Latina, de fato, é cada vez mais evidente: agora é comum encontrar executivos chineses andando pelas ruas de grandes cidades da região, por exemplo.
Nas grandes rodadas de negócios, há uma presença significativa de investidores chineses. E empresas chinesas estabeleceram escritórios em países latino-americanos.
Também estão começando a circular com mais frequência na região carros de fabricação chinesa.
De acordo com a consultoria AT Kearney, em 2015 as montadores chinesas de marcas como Chery, Foton, Geely e Yangtze exportarão cerca de 2 milhões de unidades (em comparação com meio milhão em 2011).
Na região, seus maiores mercados são Brasil, Colômbia, Venezuela, Peru e Argentina.
O carros chineses são vendidos pela metade ou dois terços do valor de modelos de marcas americanas, europeias e japonesas já estabelecidas.

Ameaça e oportunidade

Fabricados a custos menores por conta do valor ainda baixo de produção na China, os produtos chineses tiram o sono de muitas empresas latino-americanas - o que faz a relação com a China representar ao mesmo tempo uma ameaça e uma oportunidade para a região.
"Estamos constantemente competindo porque ninguém pode produzir sapatos com os preços da China", disse à BBC Micheline Grings Twigger, proprietária da fábrica de calçados brasileira Picadilly.
"Ao mesmo tempo, (a relação com os chineses representa) uma grande oportunidade, se considerarmos o tamanho do mercado do país. Seria loucura não olhar para a China como um grande mercado para nós."

Galeano: Pouca Palestina resta. Pouco a pouco, Israel está apagando-a do mapa

Galeano: Pouca Palestina resta. Pouco a pouco, Israel está apagando-a do mapa



Reprodução
Desde 1948, os palestinos vivem condenados à humilhação perpétua. Não podem sequer respirar sem autorização. Têm perdido a sua pátria e as suas terras
23/07/2014
Por Eduardo Galeano, 
Para justificar-se, o terrorismo de Estado fabrica terroristas: semeia ódio e colhe álibis. Tudo indica que esta carnificina de Gaza, que segundo os seus autores quer acabar com os terroristas, conseguirá multiplicá-los.


Desde 1948, os palestinos vivem condenados à humilhação perpétua. Não podem nem sequer respirar sem autorização. Têm perdido a sua pátria, as suas terras, a sua água, a sua liberdade, tudo. Nem sequer têm direito a eleger os seus governantes. Quando votam em quem não devem votar, são castigados. Gaza está sendo castigada. Converteu-se numa ratoeira sem saída, desde que o Hamas ganhou legitimamente as eleições em 2006. Algo parecido tinha ocorrido em 1932, quando o Partido Comunista triunfou nas eleições de El Salvador.



Banhados em sangue, os habitantes de El Salvador expiaram a sua má conduta e desde então viveram submetidos a ditaduras militares. A democracia é um luxo que nem todos merecem. São filhos da impotência os rockets caseiros que os militantes do Hamas, encurralados em Gaza, disparam com desleixada pontaria sobre as terras que tinham sido palestinas e que a ocupação israelense usurpou. E o desespero, à orla da loucura suicida, é a mãe das ameaças que negam o direito à existência de Israel, gritos sem nenhuma eficácia, enquanto a muito eficaz guerra de extermínio está a negar, desde há muitos anos, o direito à existência da Palestina. Já pouca Palestina resta. Pouco a pouco, Israel está a apagá-la do mapa.



Os colonos invadem, e, depois deles, os soldados vão corrigindo a fronteira. As balas sacralizam o despojo, em legítima defesa. Não há guerra agressiva que não diga ser guerra defensiva. Hitler invadiu a Polônia para evitar que a Polônia invadisse a Alemanha. Bush invadiu o Iraque para evitar que o Iraque invadisse o mundo. Em cada uma das suas guerras defensivas, Israel engoliu outro pedaço da Palestina, e os almoços continuam. O repasto justifica-se pelos títulos de propriedade que a Bíblia outorgou, pelos dois mil anos de perseguição que o povo judeu sofreu, e pelo pânico que geram os palestinos à espreita. Israel é o país que jamais cumpre as recomendações nem as resoluções das Nações Unidas, o que nunca acata as sentenças dos tribunais internacionais, o que escarnece das leis internacionais, e é também o único país que tem legalizado a tortura de prisioneiros.
Quem lhe presenteou o direito de negar todos os direitos? De onde vem a impunidade com que Israel está a executar a matança em Gaza? O governo espanhol não pôde bombardear impunemente o País Basco para acabar com a ETA, nem o governo britânico pôde arrasar Irlanda para liquidar a IRA. Talvez a tragédia do Holocausto implique uma apólice de eterna impunidade? Ou essa luz verde vem da potência 'manda chuva' que tem em Israel o mais incondicional dos seus vassalos? O exército israelense, o mais moderno e sofisticado do mundo, sabe quem mata. Não mata por erro. Mata por horror. As vítimas civis chamam-se danos colaterais, segundo o dicionário de outras guerras imperiais.



Em Gaza, de cada dez danos colaterais, três são meninos. E somam milhares os mutilados, vítimas da tecnologia do esquartejamento humano, que a indústria militar está a ensaiar com êxito nesta operação de limpeza étnica. E como sempre, sempre o mesmo: em Gaza, cem a um. Por cada cem palestinos mortos, um israelita. Gente perigosa, adverte o outro bombardeamento, a cargo dos meios massivos de manipulação, que nos convidam a achar que uma vida israelense vale tanto como cem vidas palestinianas. E esses meios também nos convidam a achar que são humanitárias as duzentas bombas atômicas de Israel, e que uma potência nuclear chamada Irã foi a que aniquilou Hiroshima e Nagasaki.



A chamada comunidade internacional, existe? É algo mais que um clube de mercadores, banqueiros e guerreiros? É algo mais que o nome artístico que os Estados Unidos assumem quando fazem teatro? Ante a tragédia de Gaza, a hipocrisia mundial destaca-se uma vez mais. Como sempre, a indiferença, os discursos vazios, as declarações ocas, as declamações altissonantes, as posturas ambíguas, rendem tributo à sagrada impunidade. Ante a tragédia de Gaza, os países árabes lavam as mãos. Como sempre. E como sempre, os países europeus esfregam as mãos.



A velha Europa, tão capaz de beleza e de perversidade, derrama uma ou outra lágrima enquanto secretamente celebra esta jogada de mestre. Porque a caça aos judeus foi sempre um costume europeu, mas desde há meio século essa dívida histórica está a ser cobrada dos palestinos, que também são semitas e que nunca foram, nem são, antissemitas. Eles estão a pagar, em sangue, na pele, uma conta alheia.



Artigo publicado no Sin Permiso.



Tradução de Mariana Carneiro para o Esquerda.net.

domingo, 27 de julho de 2014

Brasil recebe autorização para pesquisar recursos minerais no Atlântico Sul






Por Izabela Prates | 25 de Julho de 2014

O Brasil é o primeiro País do Hemisfério Sul a ter aprovado Plano de Exploração na área internacional dos oceanos, considerada patrimônio comum da humanidade pela ONU. A aprovação da proposta do Serviço Geológico do Brasil (CPRM) ocorreu durante a 20ª Sessão Anual do Conselho da Autoridade Internacional dos Fundos Marinhos (ISBA), realizada em Kingston, na Jamaica, do qual participam mais de 160 países. Nessa mesma ocasião foram aprovados outros seis planos da Rússia, Reino Unido, Índia, Singapura, Cook Island e Alemanha.
ventura 2 Brasil recebe autorização para pesquisar recursos minerais no Atlântico Sul
Elevação do Rio Grande localizada em águas internaiconais a cerca de 1.500km do Rio de Janeiro/ Imagem: CPRM








O Plano de Trabalho da CPRM apresentado à ISBA é para pesquisar e explorar, ao longo de 15 anos, recursos minerais no Alto do Rio Grande, uma elevação submarina no lado oeste do Atlântico Sul, a cerca de 1.500km do Rio de Janeiro. Estudos da CPRM demonstram que essa região pode ser um continente submerso.
A aprovação do Plano é o resultado de importantes investimentos do PAC e demonstra a capacidade brasileira de enfrentar novos desafios. O Brasil entra no seleto grupo de países que são referência em pesquisa mineral em águas profundas. O projeto vai promover a formação de recursos humanos e o desenvolvimento científico e tecnológico. Além de viabilizar cooperação com outros países, fortalecendo as relações internacionais, técnicas e científicas. Nos últimos quatro anos foram investidos cerca de R$ 60 milhões em pesquisas no Atlântico Sul. Para este ano estão previstos mais de R$ 20 milhões.
O trabalho é resultado de mais de quatro anos de estudos da CPRM, que contou com a participação de mais de 60 pesquisadores e universitários de diferentes instituições, das áreas de geologia, biologia, geofísica e oceonografia. Com essa iniciativa o Brasil vai aumentar seu conhecimento estratégico sobre recursos existentes em região próxima à plataforma continental brasileira por meio da coleta de dados ambientais, do estudo do potencial econômico desses recursos minerais, bem como do desenvolvimento de estudos oceanográficos.
A proposta de pesquisa é fortemente sustentada em parâmetros técnicos, revelando a preocupação do país com o desenvolvimento sustentável. Inclui, ainda, o compromisso em oferecer oportunidades de treinamento em benefício de outros países em desenvolvimento.
Fonte: CPRM

Cidade catarinense quer ter apenas 30% dos deslocamentos feitos via carro até 2030

Cidade catarinense quer ter apenas 30% dos deslocamentos feitos via carro até 2030


Plano é aumentar corredores de ônibus e criar ciclovias e calçadas

A redução da utilização de automóveis é uma tendência em certos países e já começa a ser seguida também no Brasil. Na cidade de Joinville, em Santa Catarina, a partir das diretrizes da Política Nacional de Mobilidade Urbana, a prefeitura e a população decidiram priorizar o transporte público e estruturas para ciclovias e pedestres.
Apelidado como PlanMOB, o plano foi lançado em junho de 2014 e ambiciona reduzir o uso de motos e carros de 40% para 20% em 2030 para os deslocamentos dentro da cidade. Isso fará com que, caso a ideia dê certo, o uso de ônibus aumente de 25% para 40% no dia a dia.
Mas para isso são necessárias atitudes. A ideia é melhorar os corredores de ônibus e até reduzir o preço das passagens dos coletivos. Novas calçadas e ciclovias também devem entrar no projeto.
De acordo com a prefeitura da cidade, foram realizadas, até o momento, oito consultas presenciais, com representantes comunitários, empresas, especialistas e ativistas, mas qualquer morador participar da pesquisa através de um questionário on-line, disponível no site do Instituto de Pesquisa para Planejamento Urbano de Joinville.

sexta-feira, 25 de julho de 2014

Recorde de temperatura em maio e junho divide pesquisadores do clima

Recorde de temperatura em maio e junho divide pesquisadores do clima

Os mais recentes números da Administração Oceânica e Atmosférica Nacional dos Estados Unidos (NOAA, na sigla em inglês) revelam que os meses de maio e junho nunca foram tão quentes como os deste ano, pelo menos não desde que começaram os registros, em 1880. A constatação foi feita a partir de médias globais combinadas, resultantes das medições feitas por estações meteorológicas marítimas e terrestres.
Em 2014, maio foi 0,74 grau Celsius mais quente do que a média do século 20, e junho, 0,72 grau Celsius. Esses números dão a impressão de que a mudança climática só ocorre numa direção: o aquecimento.
Mas se considerados os últimos doze meses, então, o aumento registrado não foi o maior dos últimos anos. O período entre julho de 2009 e junho de 2010 foi, em média, apenas 0,01 grau Celsius mais quente do que o mesmo período entre 2013 e 2014.
No entanto, se for levado em conta o ano do calendário, de janeiro a dezembro, o quadro é diferente. Ou seja, 2013 divide com 2003 a quarta posição no ranking de aquecimento, com uma elevação de 0,62 grau Celsius em relação à média do século 20. Os anos mais quentes registrados foram 2010, com um aumento de 0,66 grau Celsius, seguido de 2005 (0,65 grau Celsius), e 1998 (0,64 grau Celsius).
Os números da NOAA também revelam tendências para diferentes décadas a partir de 1880. Por exemplo, entre 1880 e 1911 verificou-se um resfriamento global. Nestes anos, registrou-se uma queda máxima de 0,52 grau Celsius em relação à média de temperatura século 20.
Após esse período frio, veio uma fase de calor, que permaneceu até 1942. Essa, por sua vez, foi seguida por um novo período de resfriamento, que abrange o final da Segunda Guerra Mundial até a metade da década de 1950. A seguir, verificou-se uma tendência de aquecimento constante até 1998.
Desde então, o aquecimento global está desacelerando. Nos últimos dez anos, entre 2004 e 2014, a temperatura média permanece mais quente, porém, num nível constante, mesmo levando em consideração as temperaturas registradas em maio e junho deste ano.
Opiniões divergentes – Defensores e críticos da tese de que as mudanças climáticas são causadas pela ação humana interpretam os dados da NOAA, que em anos mais recentes inclui registros de satélites, de forma diferente.
Aqueles que afirmam que o aumento da concentração de dióxido de carbono (CO2) na atmosfera é responsável pelo aquecimento global apontam para a tendência de aquecimento, especialmente desde o início da industrialização, ligada ao aumento de uso de combustíveis fósseis. Haveria, portanto, uma relação causal entre esses dois fatores.
Em meados do século 19, a concentração de CO2 na atmosfera era menor do que 150 ppm (partes por milhão). Desde 1959, a NOAA mede essa concentração a partir da estação meteorológica de Mauna Loa, no Havaí. A partir daí, foi registrado um aumento constante desse gás na atmosfera, passando de 320 ppm para 400 ppm.
Os críticos da tese de que as mudanças climáticas são causadas pelo ser humano, por sua vez, afirmam que, justamente nos últimos dez anos, houve uma dissociação entre o aumento de CO2 e o aquecimento global e, assim, a causalidade não estaria comprovada.
Além disso, eles acrescentam que, desde o início da história da humanidade, independentemente da concentração de CO2, sempre houve fases quentes, até mesmo com temperaturas bem mais elevadas do que agora.
Entretanto, pesquisadores conceituados reforçam que décadas são períodos muito curtos para fazer afirmações confiáveis sobre o atual desenvolvimento do clima e lembram que a atual pausa no aquecimento ainda não se sustenta por um período longo o suficiente para tirar conclusões.

Transição demográfica

Transição demográfica



A transição demográfica refere-se às oscilações entre crescimento populacional, taxa de mortalidade, taxa de natalidade e a posterior estabilização desses índices.


Entende-se por transição demográfica a teoria que se preocupa em compreender as transformações no crescimento demográfico natural ou vegetativo a partir das variações das taxas de natalidade e de mortalidade. Essa teoria foi elaborada pelo demógrafo estadunidense Frank Notestein, em 1929, sendo amplamente utilizada desde então para contestar a Teoria Demográfica Malthusiana.
A teoria da transição demográfica basicamente analisa o crescimento populacional das sociedades, com foco na Europa e América do Norte, a partir do processo de industrialização. Antes da I Revolução Industrial, as sociedades estavam condicionadas a passar por elevadas taxas de natalidade, que eram compensadas por uma igual mortalidade populacional.
No entanto, as taxas de mortalidade, em função das melhorias sociais e sanitárias, passaram a cair, o que fez com que o número médio da população aumentasse aceleradamente, o que passou a gerar um temor generalizado sobre o excesso de pessoas no mundo. Uma dessas preocupações foi a própria teoria malthusiana, que afirmava que a população cresceria em uma velocidade maior que a produção de alimentos.
O que ocorre é que as taxas de natalidade só costumam cair após certo tempo, o que, consequentemente, gera a redução gradativa do crescimento populacional e até mesmo um envelhecimento demográfico, tal como ocorre atualmente na Europa.
O gráfico da transição demográfica a seguir apresenta uma síntese dessa evolução:
Esquema/gráfico da transição demográfica
Esquema/gráfico da transição demográfica

Fase 01 – Regime demográfico clássico: taxas de natalidade e mortalidade elevadas, com uma pequena redução nessa última; crescimento vegetativo controlado.
Fase 02 – Explosão demográfica: taxas de natalidade ainda muito altas e queda brusca das taxas de mortalidade, com o consequente aumento no crescimento vegetativo; população jovem.
Fase 03 – Transição demográfica: queda nas taxas de natalidade acompanhando a queda nas taxas de mortalidade; crescimento vegetativo reduz-se aceleradamente; população adulta.
Fase 04 – Regime demográfico moderno: estabilização demográfica; baixo crescimento vegetativo e controle nas taxas de mortalidade e natalidade; envelhecimento da população.
Podemos dizer que a Europa passou por dois períodos diferentes em que ocorreu a Fase 02 acima mencionada, ou seja, um elevado crescimento populacional. O primeiro momento foi na I Revolução Industrial, em que o crescimento populacional foi elevado não tão somente pelas taxas de natalidade, mas também pela forte migração campo-cidade, também chamada de êxodo rural. O segundo momento foi após a II Guerra Mundial, em que as taxas de natalidade intensificaram-se rapidamente, dando origem ao que até hoje se chama de “geração baby boom”.
Atualmente, os países desenvolvidos passam pela fase 04 e sofrem com o problema do envelhecimento populacional, que reduz a proporção de habitantes pertencentes à População Economicamente Ativa (PEA). O Brasil, por sua vez, já passou pela sua explosão demográfica, embora ela não tenha sido tão acentuada, e hoje se encontra na fase 03 da transição demográfica.

Por Rodolfo F. Alves Pena