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terça-feira, 29 de julho de 2014

El Niño não deve trazer chuva ao Sudeste, dizem meteorologistas

El Niño não deve trazer chuva ao Sudeste, dizem meteorologistas

O fenômeno meteorológico El Niño, que pode ocorrer no segundo semestre deste ano, e que altera o clima global, não deve aumentar a quantidade de chuvas no Sudeste, nem amenizar a seca que afeta o Sistema Cantareira, conjunto de reservatórios que abastece a Região Metropolitana de São Paulo e parte do interior do estado, segundo especialistas ouvidos pelo G1.
Eles afirmam que as taxas pluviométricas nos próximos três meses devem continuar baixas na região, índice normal para o período – que é de transição entre o inverno e a primavera –, e a temperatura pode subir até 2ºC, caso o El Niño se confirme.
Batizado em homenagem ao Menino Jesus (em espanhol, “El Niño”), o fenômeno ocorre quando a temperatura do Oceano Pacífico aumenta e provoca alterações na atmosfera.
Segundo os cientistas, a anomalia na costa pacífica da América do Sul deixa o mar ao menos 0,5ºC mais quente e enfraquece os ventos alísios (que sopram de leste para oeste) na região equatorial. Isso provoca uma mudança no padrão de transporte de umidade pelo globo, variações na distribuição de chuvas em regiões tropicais e de latitudes médias e altas, além de inconstância nas temperaturas.
A Organização Meteorológica Mundial (OMM) vê como provável a ocorrência do El Niño neste ano, mas ele ainda estaria em desenvolvimento. Se consolidado, o que pode acontecer entre o fim de agosto e início de setembro, seu pico de força deve ser relativamente fraco, segundo Alexandre Nascimento, da Climatempo.
Efeitos incertos no Sudeste

Na última semana, a ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, já havia comentado que a possível presença do fenômeno não aumentaria as chances de chuva no Cantareira. Segundo ela, a partir da perspectiva de especialistas da Agência Nacional de Águas, a ANA, havia preocupação com um “cenário conservador em relação a chuvas abundantes” nos próximos meses.
Na ciência climática, o nível de certeza sobre o impacto do El Niño em certas regiões do mundo, entre elas o Sudeste brasileiro, não é tão preciso quanto em outras áreas, como Sul, Norte e Nordeste do país.
Segundo o Centro de Previsão do Tempo e Estudos Climáticos (Cptec), ligado ao Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, o Inpe, o último El Niño que afetou o Brasil, entre junho de 2009 e maio de 2010, foi de intensidade fraca. De acordo com a Climatempo, na época, o volume de chuvas no Sudeste foi considerado normal e acima da média entre agosto e novembro, e durante o verão choveu menos que a normalidade.
Fábio Rocha, meteorologista do Cptec, afirma que em outras edições do fenômeno foi possível estabelecer que o Norte e Nordeste são afetados constantemente com o aumento da temperatura e escassez de chuvas, enquanto o Sul do país é castigado com chuvas abundantes. Mas que o impacto no Sudeste ainda continua incerto — não há relação estabelecida entre as chuvas na região e o El Niño.
Apesar, disso, segundo ele, estima-se que o período seco em São Paulo, Rio de Janeiro, Espírito Santo e Minas Gerais deve ser persistente, insistindo até meados de setembro, e que o volume de chuva de agosto, setembro e outubro para boa parte do território paulista deve variar entre índices de 200 mm e 300 mm – média registrada para o período conforme estimativas entre 1961 e 1990.
‘Chuvas para reservatórios’ – Segundo Nascimento, da Climatempo, a partir de novembro podem começar as chuvas de forma abundante, mas não suficiente para encher os reservatórios. “Essas chuvas para reservatórios (período constante, com intermitência em alguns dias, deve acontecer só em janeiro. Mas acreditamos que não será capaz de melhorar os níveis em 2015. Prevemos um cenário ainda caótico no ano que vem”, complementa.
O Sistema Cantareira opera atualmente com apenas 16,6%% de seu volume total. Em 15 de maio, o sistema passou a operar com o chamado volume morto, espécie de reserva técnica. Caso o período de chuvas, que geralmente começa em outubro, atrase este ano, há risco de esgotamento das reservas.
Ele é formado pelas represas Jaguari, Jacareí, Cachoeira e Atibainha. Elas ficam no estado de São Paulo e no sul de Minas Gerais. Juntas, as represas fornecem água para cerca de 9 milhões de pessoas na cidade de São Paulo (zonas Norte, Central e parte das zonas Leste e Oeste), além de Franco da Rocha, Francisco Morato, Caieiras, Osasco, Carapicuíba, Barueri e Taboão da Serra, São Caetano do Sul, Guarulhos e Santo André. Parte do interior do estado também recebe água do sistema.
Além da captação de água do volume morto desde maio, o governo paulista também começou, em março, a usar água dos sistemas Alto Tietê e Guarapiranga para compensar a queda na produção do sistema Cantareira e tentar evitar o racionamento.

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