Páginas

sexta-feira, 25 de outubro de 2013

Alemanha adota plano de mobilidade urbana que prioriza uso de bicicletas

Alemanha adota plano de mobilidade urbana que prioriza uso de bicicletas

 

Berlim tem 1000 km de ciclovias e São Paulo, apenas 247 km.
Número de bicicletas na Alemanha supera o de carros e chega a 74 milhões.

 

André Trigueiro Berlim e Freiburg, Alemanha - 25/10/2013


O videomaker Felipe Frozza é brasileiro, trabalha na Alemanha, faz tudo de bicicleta e decidiu mostrar o que é possível fazer pedalando. “A cidade não é grande, não é tão enorme como São Paulo, mas você pode chegar a qualquer lugar, em até uma hora, de bicicleta”, diz Felipe.
A capital da Alemanha tem 1.000 km de ciclovias. São Paulo, por exemplo, com três vezes mais habitantes, tem apenas 247 km. No embalo das bicicletas, o governo alemão anunciou a construção da primeira ciclovia ao lado de uma rodovia. Ao todo, serão 60 quilômetros de extensão para desafogar o tráfego da região mais populosa da Alemanha. Até poderia ser um exagero se não fosse um país onde quase 10% dos deslocamentos diários são feitos na base do pedal. O número de bicicletas chega a 74 milhões e supera o de carros, em torno de 48 milhões.

É muito fácil para quer visitante alugar uma bike na maior parte da Alemanha. Em Berlim, é possível até pegar uma bicicleta emprestada de graça para dar uma voltinha. Para isso, é preciso ter acesso à internet e acessar, por exemplo, o site do Bike Surf. O portal solicita alguns dados pessoais, o internauta preenche, e aí aguarda as instruções para ver como poderá pegar essa bicicleta emprestada de alguém que, de boa vontade, vai emprestar a uma outra pessoa. O repórter André Trigueiro decidiu fazer isso para ver o que acontece.

A equipe de reportagem chegou ao endereço informado pelo site. Ali, André Trigueiro pegou a bicicleta emprestada em meio de outras que estavam na porta de um edifício residencial. Uma delas combinou perfeitamente com a descrição do site e, após digitar o segredo do cadeado, foi possível desbloquear a bicicleta. Depois disso, o único compromisso foi devolver a bicicleta intacta no mesmo endereço.
O Bike Surf é apenas um dos 400 serviços de compartilhamento gratuito de bicicletas em Berlim. O criador conta que a procura dobrou este ano. "Em todo o ano passado, cerca de 400 pessoas usaram o sistema e a média no verão ficou entre 10 e 18 pessoas por semana", conta Graham Pope, que criou o site. De Berlim, a equipe de reportagem seguiu para Freiburg, na fronteira com a Suíça, para visitar aquele que é considerado o bairro mais ecológico do mundo, com 5 mil moradores, construções sustentáveis e um silêncio que chama a atenção.
O nome do bairro é Vauban, que tem uma das menores relações carro por habitante da Alemanha: são 222 veículos para cada 1.000 moradores. Em Berlim, são 324. Em São Paulo, são 600 para 1.000 habitantes. O senhor Wagner conta que ter bicicleta em Vauban é uma questão de economia. E ainda explica: uma vaga fixa de garagem custa 17,5 mil euros – o que corresponde a mais de 50 mil reais. “É o mesmo preço que pagariam para construir uma casa com uma vaga de garagem na frente. Não tem diferença”, conta Hartmut Wagner, morador da cidade.
Mas as bicicletas não são a única saída. Ainda em Freiburg, é possível conhecer outro tipo de transporte muito eficiente e comum em toda a Alemanha: os bondes elétricos. Eles cruzam a cidade sem ruído ou fumaça, e a pontualidade é motivo de orgulho. A equipe pegou a Linha 2, onde a informação é de que falta apenas um minuto pra chegar o bonde elétrico e checar se esse é o tempo de verdade.
O representante da empresa que opera o sistema diz que o sucesso é resultado de eficiência e, claro, custo baixo. O passe para quatro meses custa o equivalente a 154 reais. Domingos e feriados, leva-se a família inteira com apenas um tíquete. No entanto, ele entrega: tudo isso só é possível porque tem subsídio do governo no meio. "Por exemplo, nós, agora, estamos nessa situação: foram construídas quatro novas linhas com investimento de 130 milhões de euros. 80% do montante vem do estado e os 20% restantes são pagos pela nossa empresa", explica Andreas Hildebrandt, porta-voz da Freiburg Verkhehrs AG.
Apesar do sucesso das bicicletas e da eficiência do transporte público, não podemos esquecer que a Alemanha concentra algumas das mais importantes montadoras do mundo. Isso fez com que o governo, dentro do plano de tornar o país mais sustentável, fixasse uma meta audaciosa: ter um milhão de carros elétricos até 2020 - um salto e tanto para uma frota que, hoje, não passa de 10 mil unidades, entre elétricos e híbridos.
Especialistas avaliam que isso será difícil por causa dos custos altos, da resistência de consumidores e montadoras e da falta de infraestrutura. Hoje, existem 4 mil estações de recarga e 40% delas são da maior empresa de energia do país. O gerente de marketing da companhia admite que, só com a ajuda do governo, a meta será alcançada. “Se os preços desses carros caírem, talvez seja possível, mas não estamos certos”, explica Christian Uhlich, gerente da RWE.
Para o diretor da Agência Federal do Meio Ambiente, o Ibama alemão, o sucesso da mobilidade urbana depende da combinação de todas as opções de transporte e do uso de menos energia. ”É um mix, pois fazer isso torna o sistema mais eficiente e conecta as diferentes tecnologias de transporte em uma mesma rede. Isso é o que nós estamos fazendo e eu acho que há muitas coisas que nós podemos fazer melhor. Mas estamos em um bom caminho”, analisa Harry Lehmann, diretor do Ibama alemão.
Se os alemães estão mesmo o caminho certo, só o tempo dirá. Pedalando ou acelerando, eles sabem onde querem chegar. Quanto mais rápido e com menos poluição, melhor.

Nenhum comentário:

Postar um comentário