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quarta-feira, 4 de setembro de 2013

O estúpido comentário de uma professora de Direito

O estúpido comentário de uma professora de Direito


Comentário ignorante, racista e xenofóbico é incompatível com a posição que ela ocupa

Reprodução













Nessa última quinta-feira (29), a professora de direito internacional da USP, 
Maristela Basso, ao comentar notícia sobre o episódio da fuga do senador 
boliviano, Roger Pinto Molina, para a embaixada do Brasil em La Paz, criando 
uma crise diplomática nas relações entre Brasil e Bolívia, afirmou que:

Maristela Basso, professora de Direito Internacional pela USP
(Reprodução / Tv Cultura)














“(…) a Bolívia é insignificante em todas 
as perspectivas, é um país, sim, que tem 
uma fronteira enorme com o Brasil, dos 
nossos vizinhos o que tem a maior fronteira 
terrestre, mas nós não temos nenhuma 
relação estratégica com a Bolívia, nós não 
temos nenhum interesse comercial com a 
Bolívia, os brasileiros não querem ir para a 
Bolívia, os bolivianos que vêm de lá, vêm tentar 
uma vida melhor aqui, não contribuem com o 
desenvolvimento tecnológico, cultural, social 
e desenvolvimentista do Brasil. Então, a 
Bolívia é um assunto menor! (…)”



Abaixo segue trecho do Jornal da Cultura no qual a professora Maristela Basso 
faz o comentário.





Depois de certa incredulidade ao ser informado de que a professora teria proferido tal 
comentário em rede nacional, fui verificar a edição do telejornal e, ainda embasbacado, 
não pude deixar de questionar como poderia ser que, uma pessoa na posição de 
Maristela Basso, tenha um pensamento tão equivocado em relação a um país extremamente 
estratégico para o Brasil no cenário regional – quer no presente, quer projetando para o 
futuro – como a Bolívia. Foi inevitável não indagar-me sobre como uma pessoa com pensamento 
tão medíocre poderia estar ocupando a cadeira de Direito Internacional de uma das mais 
renomadas universidades do país, a Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo e da 
manutenção de tal pessoa no cargo após tamanho disparate.

Embora a professora não tenha levado em consideração, atualmente a Bolívia é um dos 
principais fornecedores de gás natural para o Brasil, segundo uma apuração simples que 
pode ser feito na própria Internet, verifica-se que aproximadamente três quartos de todo o 
gás natural consumido pelas indústrias de São Paulo são provenientes da Bolívia. Na relação 
comercial estabelecida entre os países – que inclusive gerou uma polêmica quando Lula 
sentou com Evo Morales para rever os valores dos contratos – o gás chega ao Brasil através 
de um gasoduto de mais de 3000 quilômetros interligando a Bolívia (Rio Grande) ao Brasil, 
entrando no país através de Corumbá, passando por cidades como Campo Grande (MS), 
Três Lagoas (MS), Campinas (SP), São Paulo (SP), Curitiba (PR), Florianópolis (SC) até 
chegar ao seu destino final, Porto Alegre (RS), sendo fundamental para todo o parque industrial 
da região sul-sudeste do país.

Abaixo segue mapa com o gasoduto Bolívia Brasil.


Gasoduto Bolívia-Brasil.
Fonte: Maria de Fátima Salles Abreu Passos para a
Revista Economia e Energia. Ano II, n. 10, 1998.
















Ora, se eliminássemos o teor xenofóbico 
das declarações de Basso, o simples fato 
dela ter desconsiderado que atualmente 
a Bolívia é um parceiro comercial mais do 
que estratégico no fornecimento energético 
do Brasil, já seria uma declaração polêmica 
por revelar uma ignorância incompatível com 
a posição ocupada pela professora de Direito Internacional.


Se considerarmos a relação Brasil-Bolívia 
em uma projeção futura, a mesma segue 
sendo de fundamental importância estratégica 
na área do fornecimento energético, pela 
simples fato de a Bolívia ser a detentora da 
maior reserva mundial de Lítio, tal como já observado 
em post publicado neste blog: O lítio na América 
do Sul e o eixo da geopolítica energética mundial.

Depois de ter passado muitos anos “amargando” com baixa demanda mundial, a situação do 
lítio mudou completamente quando cientistas descobriram sua enorme capacidade de armazenar 
energia elétrica. Logo passou a ser utilizado como matéria prima na produção de baterias de longa 
duração em aparelhos eletrônicos como celulares e notebooks e, posteriormente, verificou-se que 
sua capacidade de armazenamento era tão grande que o lítio acabou transformando os automóveis 
movidos à baterias elétricas na grande opção ecológica e sustentável em substituição aos veículos 
movidos à base de petróleo.





















O fato do lítio ser um mineral que se concentra em região de salares, 
faz com que países como Bolívia (Uyuni), Chile (Atacama) e Argentina 
(Hombre Muerto) estejam situados entre os maiores detentores 
mundiais de reservas deste recurso. Se considerarmos somente a 
Bolívia, onde está localizado o Salar de Uyuni, veremos que 
aproximadamente 29% de toda a reserva mundial de lítio está 
concentrado nesta região, segundo tabela da United States 
Geological Survey. Saindo da escala nacional para olhar os números 
continentais, as reservas sul americanas são mais expressivas e 
atingem um montante de 20,6 milhões de toneladas, ou 62,6% do 
total. Tais dados revelam, diferentemente do asseverado pela 
professora Basso, que a Bolívia se trata de um país com o qual o 
Brasil deve manter uma relação estreita nas próximas décadas, em 
função de uma estratégia da nova geopolítica energética que se 
formula com a substituição do petróleo por novas fontes de energia.

Aos que ficaram interessados em obter maiores informações sobre 
o papel do lítio na geopolítica energética mundial, recomendo a 
leitura do post em que trato sobre o assunto.

Por fim, há ainda o teor racista e xenofóbico empregado pela professora Maristela Bassos em sua 
declaração. A comunidade boliviana residente em São Paulo reagiu imediatamente às declarações 
divulgadas no Jornal da Cultura e, segundo matéria do portal R7, a comunidade “recebeu de forma 
indignada as declarações de Maristela Basso. Carmelo Muñoz Cardoso, presidente da ADRB 
(Associação de Residentes Bolivianos), que existe desde 1969, encaminhou pedido de direito de 
resposta à TV Cultura”.

Segundo a declaração de Carmelo Muñoz Cardoso:

“As declarações proferidas têm um alto grau ofensivo a toda comunidade boliviana. A afirmação de 
que a Bolívia é insignificante demonstra notório racismo, total xenofobia, absoluto preconceito e 
desrespeito pelo nosso país. Além das medidas legais, requeremos à TV Cultura o direito de resposta”.

Ao ver as declarações da professora, não há como negar o teor xenofóbico embutido no infeliz 
comentário. Ao proferi-lo, Basso parecia reproduzir comentários de alguns setores nacionalistas 
europeus ao se posicionarem a respeito dos imigrantes africanos em seus países.

Concluo o post, uma vez mais, estarrecido com a ignorância, o racismo e a xenofobia demonstrado 
pela professora em seu comentário. Incompatíveis com a posição da professora na cadeira de Direito Internacional da Faculdade de Direito da USP, entendo que os mesmos mereciam até um comunicado 
formal da Faculdade pedindo esclarecimentos da professora.


Declaro meu total repúdio às declarações de Maristela Basso e faço coro à comunidade boliviana 
que exige direito de resposta da TV Cultura e, mais do que isso, um pedido formal de desculpas da 
professora pelo comentário infeliz proferido nesta última quinta-feira.

José Rogério Beier, Hum Historiador e Pragmatismo Politico 

Fonte: http://www.folhasocial.com/2013/09/o-estupido-comentario-de-uma-professora.html

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