Do Big Mac ao hambúrguer Frankenstein
As pessoas querem comer, e querem carne, pois carne lhes daremos, parece ser o raciocínio dos "pais” do dito invento
08/08/2013
Esther Vivas
Quando pensávamos que já havíamos visto tudo no mundo dos hambúrgueres, uma vez mais a realidade nos surpreende. Se há uns meses, alguns meios de comunicação ecoavam o achado de um hambúrguer do McDonald’s em perfeito estado de conservação quatorze anos depois de ser servido, anteontem (segunda, 5) se difundia o lançamento do hambúrguer de laboratório, ao qual também podíamos chamar de hambúrguer Frankenstein, desenhado, da mesma forma que o "monstro” de Mary Shelley, em provetas.
Um hambúrguer que contém tudo: sua produção não contamina, gasta pouca energia, quase não utiliza solo e, além de tudo, não contém gordura. Sua "carne” é resultado da extração de algumas células-mãe do tecido muscular do traseiro de uma vaca. O que mais podemos pedir? Hambúrguer light. Perfeito para o verão!
Apesar de que seu preço não ser acessível, ainda, para todos os bolsos. Custa apenas uns 248.000 euros. Incluí-lo no Happy Meal, parece, levará algum tempo. Porém, nos dizem que com tal avanço científico, a fome no mundo se acabará. As pessoas querem comer, e querem carne, pois carne lhes daremos, parece ser o raciocínio dos "pais” do dito invento.
Então, vejo duas questões. Primeira: para nos alimentarmos, é necessário comer tanta carne? Antes de produzir mais carne, independentemente de sua origem, não seria melhor fomentar outro tipo de alimentação mais saudável, respeitosa dos direitos dos animais e sustentável? Porém, quem ganha com esse tipo de comida oriunda de gado vacuno e porcino? Smithfield Foods, o maior produtor e processador mundial de carne de porco, é um dos grandes beneficiários. Em seu currículo destaca-se a violação de direitos trabalhistas, a contaminação ambiental, etc. No Estado espanhol, a Smithfield Foods opera através de Campofrío.
Segunda questão: para acabar com a fome é necessário um hambúrguer de laboratório? Segundo a ONU, hoje se produz suficiente comida para alimentar 12 bilhões de pessoas, no planeta há 7 bilhões; e, apesar dessas cifras, quase uma em cada sete pessoas passa fome. Comida há, o que falta é justiça em sua distribuição. Não se trata de aumentar a produção, nem de engendrar hambúrgueres nos laboratórios, nem de mais agricultura transgênica. Trata-se, simplesmente, de que exista democracia na hora de produzir e distribuir os alimentos.
Não existem soluções "milagrosas” à crise alimentar. Os problemas políticos, como a fome, nunca serão solucionados com atalhos técnico-científicos. Não se trata de rechaçar a investigação científica. Ao contrário. Temos que fomentar uma ciência a serviço da maioria social, não subordinado aos interesses comerciais, nem econômicos; e comprometida com a melhoria das condições de vida das pessoas. Porém, da revolução verde aos Organismos Modificados geneticamente, nos prometeram acabar com a fome. A crua realidade, no entanto, assinala seu fracasso. Apesar de que, em geral, seu grande êxito se oculta: benefícios milionários para a indústria agroalimentar e biotecnológica. O hambúrguer Frankenstein não será uma exceção.
Esther Vivas é militante da Izquierda Anticapitalista. Membro da Rede de Consumo Solidário e da Campanha ‘No te comas el mundo’.
Tradução: Adital
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