A disputa do capital estrangeiro pelo Porto de Quetzal
05/08/2013
Leonardo Wexell Severo,
de Puerto Quetzal (Guatemala)
Em
Puerto Quetzal, no litoral Pacífico, é latente o enfrentamento do
movimento sindical da Guatemala contra o governo do presidente Otto
Pérez Molina, reconhecido como “major Tito Arias”, ex-parceiro de armas
do genocida Ríos Montt nos anos de 1980.
Localizada
a 98 quilômetros da capital, a principal estrutura portuária
guatemalteca envolve cerca de cinco mil trabalhadores e movimenta mais
de metade das mercadorias que entram e saem do país maia. Devido a sua
infraestrutura, localização e proximidade, tem papel relevante para a
região, principalmente em relação às cargas em direção a Belize, El
Salvador, Honduras e Nicarágua.
A relevância
estratégica do porto é facilmente explicada: os outros dois ficam no
Atlântico: o de Cobigua, pertencente à transnacional bananeira
estadunidense Chiquita Brands; e o de Santo Tomás de Castilla, estatal,
mas que é somente pesqueiro.
O movimento
comercial crescente na última década, entre 6% e 10% ao ano, tem movido
as transnacionais a realizarem influentes e bem remuneradas “gestões”
junto às autoridades pela privatização do Porto de Quetzal.
Para
potencializar os lucros, as empresas acionaram os aprendizes de Luciano
Coutinho (atual presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento
Econômico e Social – BNDES). O objetivo é que a desnacionalização seja
feita com o maior aproveitamento de recursos públicos possível,
travestindo o neoliberalismo da privatização em “usufruto” ou
“concessão”.
Retirados da cartilha do FMI, os
apelos em prol da “modernização” e da “eficiência” de um “porto lento”
em que “as filas prejudicam o país” são repetidos à exaustão,
utilizando-se da mídia para identificar a defesa do patrimônio público
nacional como “corporativismo” e a alienação da soberania como
“progresso e desenvolvimento”.
Com a bússola
virada para o norte, seja Estados Unidos ou Europa, o governo tem
respondido aos sucessivos protestos da população com bastante agilidade.
A criminalização dos movimentos sociais mobiliza tropas do exército
para proteger os interesses do capital estrangeiro nas bananeiras e
mineradoras. O mesmo acontece agora na enorme parte do porto que acaba
de ser repassada em “usufruto” por 25 anos. Para prorrogar este prazo
por outro período igual, a empresa necessitará tão somente enviar uma
“solicitação” com três meses de antecedência.
Concorrência?
Tamanha
identidade com a nação (dos outros) fez com que o governo
disponibilizasse 348.341 metros quadrados de porto, com sua saída ao
mar, à Empresa Terminal de Contêineres Quetzal (TCQ), companhia inscrita
na Guatemala, mas cuja matriz – driblando a lei local – está na
Espanha.
Vale lembrar que tal “consórcio”,
liderado pela subsidiária da Terminal de Contêineres de Barcelona (TCB),
foi constituído em abril deste ano com pífios cinco mil quetzales – o
equivalente a 680 dólares.
Atualmente, o porto
gera anualmente ao Estado cerca de 100 milhões de quetzales, o que
representa 20% dos ingressos brutos do Estado, aponta a Superintendência
de Administração Tributária (SAT).
A fim de
colocar uma pá de cal na concorrência, o lado privado sai na frente para
se converter em porto “hub”(central), ao qual chegam navios de longo
percurso que descarregam suas mercadorias para serem redistribuídas em
trajetos mais curtos.
Com 15 metros de calado
(espaço ocupado pelo navio debaixo d’água) contra 11,5 metros do porto
público, o privado ganhará em profundidade os metros que faltarão ao
“concorrente”, com a anuência e sabotagem da atual administração para
receber as maiores e mais lucrativas embarcações, denunciam os
sindicatos.
Foto: Joka Madruga
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