China ‘esfria’ e contempla mudanças em modelo econômico
Atualizado em 15 de julho, 2013
Desde que abriu as portas, em 2006, o estaleiro
Rongsheng, na costa leste da China, sempre foi considerado um símbolo da
economia pujante do país.
O local refletia o crescente poder industrial chinês, alimentado por um gigantesco boom de investimentos.
Trata-se de um dos maiores estaleiros da China: suas gruas e
guindastes são capazes de construir alguns dos maiores navios do mundo.
O estaleiro foi inaugurado como parte do plano
anunciado pelo país asiático de ser o maior fabricante de navios do
mundo em 2015.
Mas hoje Rongsheng passou a ser visto como um símbolo do pessimismo que paira sobre a economia chinesa.
A maior parte do pátio está ociosa, e 20 mil funcionários foram demitidos nos últimos dois anos.
Cidade fantasma
Por trás da derrocada de Rongsheng está um fato
comum a outros setores industriais chineses: o excesso de investimento,
que criou um imenso excedente de capacidade instalada de produção. Na
China, por exemplo, há um total de 1.647 estaleiros.
A cidade de Changqingsha, que foi construída ao
redor de Rongsheng, também sofreu com o ocaso do estaleiro. Ela agora é
uma cidade fantasma, à sombra do crescimento econômico chinês
acompanhado pelo mundo nos últimos anos.
Uma das principais ruas comerciais da cidade, a uma curta caminhada dos portões do estaleiro, é uma imagem desse declínio.
Loja e mais lojas, dos dois lados da rua, estão
trancadas a cadeado com cartazes colados nas vitrines em que se leem
ofertas de aluguel.
Os poucos comerciantes que permaneceram vêm
dando duro para pagar pelo menos os custos do aluguel até o vencimento
dos contratos.
Situação semelhante acontece com os donos dos
restaurantes, que tentam atrair alguns dos 7 mil homens e mulheres que
ainda mantêm seus empregos, de um total de 28 mil há dois anos.
Ajuda governamental
"Nós todos sabemos que falta dinheiro a Rongsheng", diz um dos trabalhadores. "Se o governo puder ajudar, será uma boa coisa".
O estaleiro pediu mais ajuda do governo, embora já tenha recebido centenas de milhões de dólares de financiamento público.
Apesar de ser uma empresa privada, Rongsheng segue a lógica da relação entre burocratas e empresários na China.
Quando a reportagem da BBC pediu permissão para
fazer entrevistas e gravar imagens no local, a resposta ─ negativa ─
veio do escritório de propaganda do Partido Comunista.
O cenário desolador, entretanto, contrasta com
as taxas ainda elevadas do crescimento chinês, em um patamar superior ao
de muitos países desenvolvidos e emergentes. Em 2012, por exemplo, a
alta do PIB foi de 7,8%.
Nesta segunda-feira, o Escritório Nacional de
Estatísticas (o IBGE chinês) divulgou que o país cresceu 7,5% no segundo
trimestre deste ano em comparação com o mesmo período de 2012.
A taxa, apesar de elevada, confirmou as
expectativas de desaceleração, já que no trimestre anterior, de janeiro a
março, o PIB da China havia crescido 7,7%.
Com uma economia fortemente baseada em
exportações, o país vem sofrendo com a menor demanda mundial, em
especial de seus principais parceiros, os Estados Unidos e a Europa.
Esfriamento
Para muitos especialistas, o futuro crescimento da China dependerá de uma fonte muito mais sustentável: o consumo interno.
Eles afirmam que os anos de expansão econômica
de dois dígitos já ficaram para trás, e o esfriamento da economia já
teria começado.
A dúvida é sobre como esse esfriamento vai prosseguir.
A meta oficial de crescimento para este ano é de
7,5%, mas alguns já se perguntam se a taxa deverá ser revisada para
baixo de novo, após um comentário feito pelo ministro das Finanças, Lou
Jiwei, na semana passada.
Na ocasião, Jiwei deu sinais de que estaria satisfeito com uma alta de 7%.
Se seu redirecionamento for feito da forma
correta, então a economia chinesa poderá ser salva de seus próprios
problemas estruturais, e o governo poderá se concentrar em tornar
realidade o chamado “sonho chinês” – o slogan usado pelo presidente
chinês Xi Jinping para se referir a sua visão de futuro do país,
evocando paralelos com o “sonho americano”.
Mas há enormes riscos, e eles já estão aparentes, talvez pela primeira vez, em locais como Changqingsha.
"Não há esperança", afirma um dos comerciantes que sobreviveram à decadência da cidade. "Não há sonho nenhum aqui."
Até agora, a China dependeu do forte crescimento
econômico para assegurar a estabilidade social. Mas o país estará
pronto para frear seus gastos?
Nesse sentido, Rongsheng pode vir a se tornar um
teste para as verdadeiras intenções do governo, um indicador de quão
rápida e tranquila será a transição da economia.
Alguns analistas sugerem que é inevitável que,
no caso de um estaleiro desse tamanho, o governo seja obrigado a mostrar
clemência e injetar mais dinheiro em algum tipo de pacote de resgate –
algo que vem tentando deixar de fazer.
Mas existe também a possibilidade de que as
autoridades em Pequim prefiram usar Rongsheng para enviar um sinal de
que a muito antecipada, grande e dolorosa mudança no modelo de PIB
chinês esteja verdadeiramente em andamento.
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