Polêmica na Argentina que ajuda brasileiros a refletir
Por Mário Augusto Jakobskind
Os
jornais argentinos estão dando grande destaque à informação segundo a
qual o general César Santos Milani, nomeado pela Presidenta Cristina
Kirchner como chefe do Exército, é suspeito de ter integrado o grupo dos
cara pintadas, que em 1987 se rebelou contra o governo democrático.
Mais ainda, Milani é acusado também de ter participado na ditadura de
ações repressivas na Província de Tucumã.
O
tema é polêmico. Enquanto o Prêmio Nobel da Paz de 1980, Adolfo Perez
Esquivel pediu que a Presidenta revisse a nomeação para o alto comando
do Exército, porque Milani é “uma pessoa que tem em sua vida
profissional situações duvidosas e comprometidas com a época da
ditadura”, o Centro de Estudos Legais e Sociais, (CELS), dirigido pelo
jornalista Horácio Verbiski, exime o militar de responsabilidade em
ações repressivas e garantiu “não ter dúvidas”.
No
comunicado, o CELS lembra que cumpre com a determinação de seus
fundadores, o de informar sobre atos dos oficiais implicados na
participação em violações dos direitos humanos, atentados a ordem
constitucional ou mesmo atividades ilegais no presente. O CELS, criado
em 1984, acrescenta, inclusive que desde 1994 a pedido da Comissão de
Acordos do Senado e, nos últimos anos, também do Ministério da Defesa
ministra informações sobre oficiais designados para comandos.
Em
outro trecho do comunicado, o CELS revela que as suas fontes de
informação são baseadas em documentos produzidos pelas vítimas do
terrorismo de estado, seus familiares e organismos de direitos humanos.
Lembra
ainda o CELS que por ocasião da ascensão de Miliani, em 2010, tinham
sido apresentas as mesmas denúncias e depois de investigadas com rigor
constatou-se que o acusado não só não figurava no grupo “cara pintadas”
ou que também tivesse vínculos com a repressão em Tucumã.
Independente
de chegar a conclusão de quem está certo, se Esquivel ou o CELS, para
os brasileiros é importante ressaltar que na Argentina existe um
organismo vigilante, que impede a participação de militares vinculados à
repressão da ditadura vigente no país de 1976 até a eleição do
Presidente Raul Alfonsín, em 1983.
As
denúncias contra o atual chefe do Exército foram feitas por ex-presos
políticos de Tucumã, província (estado) onde Milani atuou quando era
Primeiro Tenente.
Já
no Brasil, militares das diversas corporações não só seguiram impunes
como alguns deles galgaram a postos de comando ainda nos governos do
período democrático. Nem havia oficialmente um organismo de
assessoramento, como o CELS, para impedir o aproveitamento de
comandantes que tivessem vínculos com a repressão.
Por
aqui, com a exceção de algumas entidades defensoras dos direitos
humanos, como o Grupo Tortura Nunca Mais, que denunciaram um ou outro
oficial, como no caso do Coronel Jacarandá, do Corpo de Bombeiros do
Estado do Rio de Janeiro, não houve uma fiscalização nos moldes
argentinos.
Na
Argentina ainda há um fato a destacar. O então Presidente Nestor
Kirchner revogou a lei da anistia que possibilitou a impunidade de
centenas de agentes servidores da ditadura. Com a medida, vários
integrantes do alto escalão daquela época sombria, entre os quais o
ex-general Rafael Videla, foram julgados, com direito de defesa, o que
não acontecia nos anos obscuros em que mandavam, e condenados, Videla e
outros pegaram prisão perpétua.
Fonte: http://www.rededemocratica.org/index.php?option=com_k2&view=item&id=4784:pol
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