Quando o Papa e seu rebanho chegar...
Faixas das mais diversas continuam sendo erguidas
pela população e palavras de ordem proliferadas, entre aos quais convém
aproveitar a presença do Papa, como a regulamentação do aborto e a
regulamentação das drogas, temas esses que atingem diretamente os mais
pobres
26/07/2013
Paulo Mileno
Mesmo
quem não acompanha as passeatas que tomaram de assalto o Brasil,
através dos meios de comunicação tradicionais ou pelas novas
tecnologias, é notório que algo profundo, embora que ainda na
superfície, entrou em curso. Ninguém pode ser tão alienado e recluso em
seus ‘mundinhos’ que ainda não conseguiu perceber as manifestações nas
ruas. Isso é o óbvio ululante.
Nesse momento, a
expressão massiva continua pulsando, e, estrategicamente se direciona à
locais explícitos de contestação. Ganha força, ao contrário das ações
feitas por setores reacionários e seus porta-vozes como não chegariam
(um mar de gente) a valer nem R$0,20. Demostrou-se que não era somente
por R$0,20. Se apoiando na sabedoria popular ao sentido “já que não pode
contra eles, junte-se a eles”, a ponta do conservadorismo, isso é, os
policiais, se infiltraram (comprovados em filmagens) nas manifestações
pela tentativa de provocar, de dentro pra fora, a desestruturação do
movimento.
Porque classifico como a “ponta do
conservadorismo”? Sob lema “servir e proteger” seria condizente que a
Polícia Militar prestasse um serviço público, logo, gratuito, de
qualidade e democrático. Vem sendo levantada a discussão da
“desmilitarização” da polícia, pois, ao sairmos da ditadura militar e
entrarmos em nossa jovem democracia, as forças de segurança são ainda
vicejadas como aparelho do regime repressor. O Brasil, segundo meu amigo
Luiz Eduardo Soares (ex-secretário nacional de segurança pública), não
passou para a democracia na área de segurança. Nós transitamos para a
democracia em todas as outras áreas, porém, a segurança ficou esquecida
em função de negociações com a ditadura na época e até hoje não
reformamos o modelo policial. Até hoje é ensinado nas academias
militares, que, o que ocorreu no Brasil a partir de abril de 1964, foi
uma Revolução...
Esse pensamento conservador é
disseminado desde a formação da Guarda Real, uma vez que, sempre foi
primado proteger a classe dominante. Na passagem do Império para a
República, o mesmo contingente continuou em serviço como agentes de
segurança, trocando apenas a farda. E a reforma (?) do Código Criminal
do Império (primeira legislação brasileira no campo do Direito Penal) de
1830, que iria ser revogado, para o Código Penal de 1890 -já em plena
República- foi relatado pelo mesmo jurista. Ou seja, não mudou nada.
O
medo da multidão independente, porém, organizada tentou (ao azar deles,
em vão) fazer que as mudanças pretendidas sejam neutralizadas. O estado
de coisas, do que jeito que estava até então, agradava aqueles que
pensam que o povo não pode tomar conta e muito menos participar das
decisões políticas. De um lado, ficam aqueles que insistem em dizer que o
povo é burro e de outro, ficam esses que acreditam na potência popular
transformadora. De que lado você samba?
Nenhuma
crise, seja de qualquer natureza, é para sempre. Sendo assim, nada
melhor do que aprender com nossos erros a fim de superá-los. Essa crise
de representatividade só faz aumentar o nível de consciência por todos
aqueles que diretamente ou indiretamente contribuem para o jogo
político. Claro que política, economia e etc; são temas chatos. E é,
dessa aparente chatice que políticos profissionais constrói suas
carreiras. Maquiavel dizia que “A desgraça daqueles que não gostam de
política, é ser governado pelos que gostam”. Pois é.
Coincidentemente,
Nicolau Maquiavel teve seu clássico “O Príncipe” permanecido por
séculos na lista dos livros proibidos pelo Vaticano, catalogado no
Índice de Livros Proibidos (Index Librorum Prohibitorum). O Index,
criação do Papa Paulo IV em 1559, chega ao ano de 1571 reformulado como
Congregação Index, o que nada mais seria que uma tentativa de limitar o
conhecimento humano censurando autores do naipe de Jean Paul Sartre,
Voltaire, Heidegger, René Descartes entre outros. Após críticas internas
(?), demorou quase que 400 anos pra ser abolido no ano de 1966, mas
que, coincidentemente na América Latina ocorriam seus anos de censura a
qualquer tipo de pensamento livre. Na Argentina, Jorge Mario Bergoglio,
hoje o Papa Franscisco, segundo se divide opiniões, teria apoiado a
ditadura...
Os golpes de Estado aconteceram em
momentos quando o povo, guiado por suas vanguardas, caminhava para um
outro sistema político que atendesse todas as camadas da sociedade ao
passo de tornar uma nação mais justa, fraterna e liberta de uma minoria
dirigente, mas uma população em pé de igualdade com todos, sem
preconceitos de qualquer ordem, como racial, social, sexual, entre
outras formas de discriminação.
No começo do ano
de 1989, onde teríamos nossas primeiras eleições para presidente, após
20 anos de censura à liberdade de expressão, o carnaval carioca gerou
repercussão ao receber censura da Igreja Católica ao proibir na justiça a
imagem do Cristo em trajes de mendigos (na Bíblia não consta que Jesus
se preocupava com os mais pobres, tendo andando entre mendigos e
leprosos?) protegendo prostitutas, mendigos e todo o pessoal em situação
de rua, abandonado. O revolucionário Joãozinho Trinta cobriu o carro
alegórico com sacos de lixo preto, porém, a frente veio a facha: “Mesmo
proibido, olhai por nós!” Ficou ainda mais forte.
Faixas
das mais diversas continuam sendo erguidas pela população e palavras de
ordem proliferadas, entre aos quais convém aproveitar a presença do
Papa, como a regulamentação do aborto e a regulamentação das drogas,
temas esses que atingem diretamente os mais pobres. Recentemente, em
dados oficiais não foi registrado nenhuma morte de mulheres que
precisaram abortar no Uruguai. Teremos em breve dados oficiais
relacionados ao vigor da regulamentação do uso da maconha. Essas
políticas públicas ganharam o debate no Uruguai ainda quando Jorge Mario
Bergoglio era Cardeal na Argentina. E a própria Argentina também já
descriminalizou o uso.
Positivamente, veremos que
índices de violência e corrupção tenderam a baixar, já que o ciclo
vicioso começa a ser desmontado pelo simples fato de temas que dizem
respeito à saúde e a vida das pessoas, sejam questões politicas
referente à saúde, e não de polícia. Em países como Canadá, Espanha,
Itália, Holanda, entre outros, o uso medicinal e/ou recreativo está
regulamentado ao controle do Estado e não na mão de narcotraficantes. Em
declaração pública sobre essas polêmicas, vemos que o Papa não está bem
informado acerca dos resultados práticos.
O
prefeito da cidade que recebe a Jornada Mundial da Juventude também
tentou, em vão, pedir que as manifestações cessem durante a estadia da
Sua Santidade. É um legítimo movimento de massas que está a impulsionar
‘a grande roda da história’ e aos que não tem coragem: “Se você não pode
ser forte/ Seja pelo menos humana/Quando o Papa e seu rebanho
chegar...” Quem vai mudar o mundo com seus moinhos de vento?
Nenhum comentário:
Postar um comentário