Familiares de perseguidos pela ditadura militar criticam Comissão da Verdade
funcionamento dos trabalhos, que consideram pouco transparente,
moroso e acompanhado por "divergências"
17/07/2013
da Redação
Na
segunda-feira (15), os familiares de perseguidos pela ditadura militar
encaminharam uma carta aberta à Comissão Nacional da Verdade (CNV) em
que criticam os métodos de trabalho do grupo. Eles cobram mudanças na
formação do colegiado e no funcionamento dos trabalhos, que consideram
pouco transparente, moroso e acompanhado por "divergências".
Além
de pedirem o retorno do ex-ministro Claúdio Fonteles, ex-presidente do
grupo, os familiares pedem a substituição de Gilson Dipp, que se afastou
por motivos de saúde. Eles também cobram a realização de mais
audiências públicas com depoimentos de familiares das vítimas do regime
militar e declaram total apoio à atual coordenadora, Rosa Cardoso.
“Houve
momentos de entusiasmo de nossa parte, com os textos publicados por
Cláudio Fonteles no site da CNV, comprometidos com a busca da verdade em
torno dos mortos e desaparecidos políticos. Qual não foi nossa
surpresa, quando vimos que essa postura era duramente questionada por
outros integrantes da CNV!”, afirmam, em trecho da carta.
“A
partir de então, temos assistido as divergências internas se
transformarem em ataques pessoais e públicos, numa triste demonstração
de descompromisso com a verdade e a história, refletindo na falta de
clareza do papel histórico da CNV”, acrescentam.
A
carta é assinada por 27 instituições que representam os 140 familiares
de mortos e desaparecidos políticos e ex-prisioneiros políticos, entre
eles Luiz Eurico Tejera Lisbôa e Clarice Herzog. (com informações do Brasil247)
Leia abaixo a carta na íntegra:
Senhores Comissários,
Nós,
familiares de mortos e desaparecidos políticos, ex-prisioneiros
políticos, entidades, movimentos de luta pela Verdade e Justiça,
militantes dos direitos humanos e lutadores sociais, vimos externar
nossa indignação com os graves acontecimentos que envolvem a Comissão
Nacional da Verdade e nossa preocupação com a opacidade, falta de
unidade e morosidade com que tem funcionado a CNV.
Consideramos
de extrema gravidade um eventual fracasso da Comissão Nacional da
Verdade na consecução de seus objetivos principais. As consequências de
tal fato serão funestas não só para as gerações presentes, mas para o
futuro de nossa nação.
Desde o inicio dos
trabalhos da CNV, cobramos a apresentação de um plano mínimo de
trabalho, com objetivos e metodologia definidos; enfatizamos a
necessidade de priorizar a investigação sobre os mortos e desaparecidos
políticos e sobre a estrutura de repressão.
Expressamos
a necessidade e importância de convocar os agentes do estado
responsáveis pelos crimes de tortura, assassinatos e desaparecimentos
forçados.
Da mesma forma, consideramos
fundamentais as audiências públicas, amplamente divulgadas pelo sistema
público de comunicação social, com os testemunhos das vitimas,
familiares e sobreviventes.
Houve momentos de
entusiasmo de nossa parte, com os textos publicados por Cláudio Fonteles
no site da CNV, comprometidos com a busca da verdade em torno dos
mortos e desaparecidos políticos. Qual não foi nossa surpresa, quando
vimos que essa postura era duramente questionada por outros integrantes
da CNV!
A partir de então, temos assistido as
divergências internas se transformarem em ataques pessoais e públicos,
numa triste demonstração de descompromisso com a verdade e a história,
refletindo na falta de clareza do papel histórico da CNV.
A
divulgação do relatório parcial da CNV demonstrou desconhecimento das
informações acumuladas, ao longo de mais de 40 anos, pelos envolvidos na
luta pelo resgate da memória e da verdade histórica.
A
existência da CNV, fruto da luta dos familiares de mortos e
desaparecidos políticos, ex-prisioneiros e militantes dos direitos
humanos, significa mais do que uma necessidade, é um momento impar da
história de nosso país, quando ainda é possível construir a verdade com a
participação dos últimos sobreviventes - testemunhos oculares dos
fatos.
Neste momento em que tantas vozes se
erguem pelo Brasil exigindo mais seriedade, respeito e presteza na
consecução de políticas publicas, apelamos para a consciência cidadã de
cada um dos membros dessa Comissão, para que coloquem os princípios dos
direitos à Memória, Verdade e Justiça do nosso povo e, principalmente
dos familiares dos mortos e desaparecidos, acima de quaisquer
desentendimentos ou divergências, e propomos:
1. A
imediata recomposição dessa Comissão, com a volta de Cláudio Fonteles, a
substituição de Gilson Dipp e a garantia de que todos os integrantes
estejam voltados prioritária e realmente para os trabalhos da CNV, e que
estejam ainda comprometidos não apenas com o Direito à Verdade, Memória
e Justiça, mas também com a concepção de Comissão que trabalhe com e
para a sociedade, entendendo que o processo é tão importante quanto o
relatório final;
2. Que a CNV intensifique as
audiências públicas, devidamente organizadas, convocando agentes do
Estado envolvidos nas graves violações aos direitos humanos, bem como as
testemunhas - vítimas, familiares, sobreviventes;
3.
Que o foco das investigações da CNV seja o esclarecimento dos casos dos
mortos e desaparecidos políticos, motivo esse que levou à criação e
constituição da CNV;
4. Que a CNV se transforme
num coletivo, forte o suficiente para garantir a abertura total dos
arquivos dos órgãos de repressão e informação da ditadura, tanto a nível
federal como estadual.
Por fim, entendemos que o
resgate da verdade não se restringe à elaboração de um relatório final
pela Comissão Nacional da Verdade, mas sim, é o produto de trabalho
coletivo que depende de interação com as diversas formas de organização e
expressão da sociedade civil. Por isso, os signatários desta carta
apresentam propostas e se solidarizam com o Dr. Claudio Fonteles, que,
no seu período à frente da Comissão Nacional da Verdade, sinalizou o
caminho a ser trilhado. Manifestamos também nossa total solidariedade à
atual coordenadora Rosa Cardoso, que se identifica com nossas propostas e
tem buscado o diálogo e a participação da sociedade.
"A única luta que se perde é a que se abandona."
São Paulo, 15 de julho de 2013.
In memoriam aos familiares
Agrícola Maranhão do Vale
Alice Pereira Fortes
Alzira Grabois
Anita Lima Piahuy Dourado
Ariston Lucena
Arnaldo Xavier Cardoso Rocha
Benigno Girão Barroso
Berel Reicher
Blima Reicher
Carlos Alberto De Ré
Clélia Tejera Lisbôa
Consueto Ferreira Callado
Cristovam Sanches Massa
Cyrene Moroni Barroso
Davi Capistrano Filho
Dilma Alves
Edgar Corrêa
Edmundo Dias de Oliveira
Edwin Costa
Elza Joana dos Santos
Ermelinda Mazzafero Bronca
Eunice Santos Delgado
Euthália Rezende de Souza Nazareth
Fanny Akselrud de Seixas
Felícia Mardini de Oliveira
Guilhermina Bezerra da Rocha
Helena Pereira dos Santos
Ilma Linck Haas
Iracema Merlino
Irene Guedes Corrêa
Izabel Gomes da Silva
James Wright
João Baptista Xavier Pereira
João Luiz de Moraes
Julieta Petit da Silva
Lais Maria Botelho Massa
Luiza Monteiro
Lulita Silveira e Silva
Majer Kucinski
Manoel Porfírio de Souza
Márcia Santa Cruz
Márcio Araújo
Maria de Lourdes Oliveira
Maria Helena Carvalho Molina
Maria Madalena Cunha
Maria Mendes Freire
Odete Afonso Costa
Paulina da Silva
Rosalvo Cypriano Souza
Walter Pinto Ribas
Zuleika Angel Jones
Adilson Oliveira Lucena
Alberto Henrique Becker
Alessandra Gasparotto
Alípio Freire
Aluizio Palmar
Ana Maria Muller
Ângela Mendes de Almeida
Ângela Telma Oliveira Lucena
Antônio Pinheiro Salles
Aton Fon Filho
Beatriz Cintra Labaki
Bernardo Kucinski
Carlos Alberto Lobão Cunha
Carlos Gilberto Pereira
Carlos Lichtsztejn
Caroline Silva Bauer
Celso Carvalho Molina
César Augusto Teles
Cesar Cavalcanti
Clarice Herzog
Claudio Antonio Weyne Gutierrez
Claudio Carvalho Molina
Clélia de Mello
Clóvis Petit de Oliveira
Criméia Alice Schmidt de Almeida
Damaris Oliveira Lucena
Darcy Miyaki
Denise Oliveira Lucena
Derlei Catarina De Luca
Dulce Maia de Souza
Edson Luis de Almeida Teles
Edgardo Binstock
Edival Nunes Cajá
Eliete Ferrer
Elio Cabral
Elma Dutra
Elza Ferreira Lobo
Elzira Vilela
Enzo Luiz Nico Jr.
Francisco Celso Calmon
Gilberto Carvalho Molina
Gilney Amorim Viana
Helenalda Resende de Souza Nazareth
Hugo Albuquerque
Iara Xavier Pereira
Ivan Seixas
Janaína de Almeida Teles
João Carlos Bona Garcia
João Carlos Schmidt de Almeida Grabois
Laura Petit da Silva
Laurenice Noleto Alves
Lilian Celiberti
Lilian Ruggia
Lorena Moroni Girão Barroso
Marcelo Santa Cruz
Maria Amélia de Almeida Teles
Maria Cristina Vannucchi Leme
Maria Eliana de Castro Pinheiro
Maria Lygia Quartim de Moraes
Maria Madalena Prata Soares
Maria Regina Jacob Pilla
Maria Socorro de Castro
Marilda Toledo de Oliveira
Marta Nehring
Maurice Politi
Miriam Marreiro Malina
Nei Tejera Lisboa
Nilce Azevedo Cardoso
Noeli Tejera Lisboa
Orlando Bomfim Netto
Pedro Laurentino
Pedro Pomar
Pedro Rocha Filho
Pedro Serrano
Rafael Freire
Renan Honório Quinalha
Romildo Maranhão do Valle
Sérgio Ferreira
Suzana Keniger Lisbôa
Tatiana Merlino
Terezinha Souza Amorim
Thais Barreto
Togo Meirelles
Valter Pomar
Vera Cortês
Vivian Mendes
Walderes Nunes Loureiro
Yuri de Carvalho
Zilda de Paula Xavier Pereira
-As. dos Amigos do Memorial da Anistia Política do Brasil
-Casa Latino Americana - CASLA de Curitiba
-Centro de Direitos Humanos e Memória Popular de Foz do Iguacu
-Centro Cultural Manoel Lisboa
-Coletivo Catarinense Memória Verdade e Justiça
-Comissão da Verdade Memória e Justiça do Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de Goiás
-Centro de Direitos Humanos do Rio Grande do Norte
-Comissão de Familiares dos Mortos e Desaparecidos Políticos
-Comitê Carlos De Ré da Verdade e da Justiça
-Comitê Catarinense Pró-Memória dos Mortos e Desaparecidos Políticos
-Comitê Goiano da Verdade, Memória e Justiça
-Comitê pela Verdade Memória e Justiça do DF
-Comitê pela Verdade Memória e Justiça – BA
-Comitê Memória Verdade e Justiça Campinas
-Comitê Memória Verdade e Justiça Ceará
-Comitê Memória Verdade e Justiça de Pelotas e região
-Comitê Memória Verdade e Justiça - Espírito Santo
-Comitê Direito Memória Verdade – Imperatriz/Ma
-Comitê Direito Memória Verdade – Paraíba
-Comitê Memória Verdade e Justiça – Pernambuco
-Comitê Memória Verdade e Justiça – Terezina/PI
-Comitê Paulista pela Memória Verdade e Justiça
-Fórum de Reparação e Memória do Rio de Janeiro
-Instituto de Estudos Políticos Mário Alves - Pelotas - RS
-Rede Social de Justiça e Direitos Humanos
-Sindicato dos Jornalistas da Paraíba
Foto: Marcelo Camargo/ABr
Nenhum comentário:
Postar um comentário