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sexta-feira, 19 de julho de 2013

Construindo o muro verde africano, peça por peça

 

Um exemplo de Níger mostra como uma iniciativa pan-africana para lidar com a desertificação e degradação da terra está tomando forma

No vilarejo de Koloumboutey, em Níger, ao recuperar centenas de hectares de terra degradada, o povo e as autoridades locais acrescentaram mais uma peça a um grande mosaico que vem sendo montado em toda região do Sahel e Sahara para lidar com a desertificação e a degradação da terra.
Ibrahim Dan Ladi, um agricultor de 47 anos de idade do sul do Níger, lembra que sua vila - Kouloumboutey - costumava ser cercada por floresta fechada. As árvores protegiam os moradores contra o vento, e suas folhas e vegetação rasteira eram usadas de forragem para os animais.
Mas as árvores começaram a desaparecer com o El Bouhari, a grande fome de 1984-1985, causada pela seca.
"O sobrepastoreio e a derrubada excessiva fez o restante do trabalho e transformou uma floresta em uma área de terra estéril", diz o comandante Sidi Sani, do serviço para o meio ambiente e luta contra a desertificação do Níger.
Sem a proteção das árvores e vegetação rasteira, o solo facilmente se torna uma fina camada de terra arável à mercê do vento e da chuva.

Trabalhando juntos

Mas a degradação da terra pode ser parada e o solo precioso restaurado, como nos mostra o exemplo de Kouloumboutey. Desde o ano passado, a comunidade e Sidi Sani uniram forças para colocar um fim à degração ao redor do vilarejo.
Juntos, identificaram as áreas a serem restauradas, assim como a vegetação a ser plantada, de forma a ter árvores e relva onde os animais pudessem se alimentar.
Os moradores do vilarejo montaram terraços no solo para impedir que a água se esvaísse e plantaram relva e árvores para evitar que o vento carregasse as partículas do solo.

Base científica

Iniciativas como essas são cruciais para o Sahel e o Sahara, onde a vida e a sobrevivência de milhões de pessoas nas áreas rurais estão sendo ameaçadas pela dessertificação e a degradação da terra.
Para reverter essa tendência, Chefes de Estado e de Governo da África endossaram a iniciativa pan-africana chamadaGrande Muro Verde para o Sahara e o Sahel em 2007. Ela mobilizou mais de 20 países, organizações internacionais, institutos de pesquisa, sociedade civil e organizações de base.
A partir da ideia inicial de levantar uma fileira de árvores de leste à oeste do deserto africano, a visão do Grande Muro Verde Africano evoluiu para um enfoque mais científico e integrado: um mosaico de intervenções adaptadas aos ecossistemas locais e customizadas às necessidades de suas comunidades.

Ação

Desde 2010, a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) - em colaboração com a União Europeia (UE) e o Mecanismo Global das Nações Unidas para a Convenção de Combate à Desertificação (UNCDD) - tem apoiado a Comissão da União Africana (AUC) e seus países parceiros na promoção e desenvolvimento dessa iniciativa.
Por exemplo, os planos estão em ação em Burkina Faso, Chade, Djibuti, Eritrea, Etiópia, Gambia, Mali, Níger, Nigéria e Senegal, enquanto na Argélia, Egito, Mauritânia e Sudão estão sendo desenvolvidos.
Os resultados começam a ser atingidos. No Senegal, a plantação de 11 milhões de árvores contribuiu para a restauração de 27.000 hectares de terra degradada, enquanto os jardins multiuso - pomar, horta e pastagem em um só local - permitem que as mulheres aumentem sua renda e produzam alimentos para sua família ao mesmo tempo.
A fixação de dunas tem sido bem sucedida na Mauritânia. Mali, Burkina Faso e Níger trabalham juntos com o Jardim Botânico Real de Kew (no Reino Unido) na produção das árvores, arbustos e ervas mais adequadas para tornar terra degradada em áreas produtivas.
Mas para tornar a visão do Grande Muro Verde uma realidade, grandes desafios ainda estão pela frente em termos de compromisso político, financiamento, capacidade de desenvolvimento, assim como apoio da população local.

De volta à vida

"Se queremos vencer essa batalha, precisamos trabalhar com a população local", diz Sidi Sani em Kouloumboutey.
Em um ano, um total de 115 hectares de áreas degradadas foram restauradas.
"Nós podemos ver a florestas voltando", diz Ibrahim Dan Ladi, acrescentando: "algo que estava morto está voltando à vida de novo".

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