Construindo o muro verde africano, peça por peça
Um exemplo de Níger mostra como uma iniciativa pan-africana para lidar com a desertificação e degradação da terra está tomando forma
No
vilarejo de Koloumboutey, em Níger, ao recuperar centenas de hectares
de terra degradada, o povo e as autoridades locais acrescentaram mais
uma peça a um grande mosaico que vem sendo montado em toda região do
Sahel e Sahara para lidar com a desertificação e a degradação da terra.
Ibrahim
Dan Ladi, um agricultor de 47 anos de idade do sul do Níger, lembra que
sua vila - Kouloumboutey - costumava ser cercada por floresta fechada.
As árvores protegiam os moradores contra o vento, e suas folhas e
vegetação rasteira eram usadas de forragem para os animais.
Mas as árvores começaram a desaparecer com o El Bouhari, a grande fome de 1984-1985, causada pela seca.
"O
sobrepastoreio e a derrubada excessiva fez o restante do trabalho e
transformou uma floresta em uma área de terra estéril", diz o comandante
Sidi Sani, do serviço para o meio ambiente e luta contra a
desertificação do Níger.
Sem a proteção das
árvores e vegetação rasteira, o solo facilmente se torna uma fina camada
de terra arável à mercê do vento e da chuva.
Trabalhando juntos
Mas
a degradação da terra pode ser parada e o solo precioso restaurado,
como nos mostra o exemplo de Kouloumboutey. Desde o ano passado, a
comunidade e Sidi Sani uniram forças para colocar um fim à degração ao
redor do vilarejo.
Juntos, identificaram as áreas
a serem restauradas, assim como a vegetação a ser plantada, de forma a
ter árvores e relva onde os animais pudessem se alimentar.
Os
moradores do vilarejo montaram terraços no solo para impedir que a água
se esvaísse e plantaram relva e árvores para evitar que o vento
carregasse as partículas do solo.
Base científica
Iniciativas
como essas são cruciais para o Sahel e o Sahara, onde a vida e a
sobrevivência de milhões de pessoas nas áreas rurais estão sendo
ameaçadas pela dessertificação e a degradação da terra.
Para reverter essa tendência, Chefes de Estado e de Governo da África endossaram a iniciativa pan-africana chamadaGrande Muro Verde para o Sahara e o Sahel
em 2007. Ela mobilizou mais de 20 países, organizações internacionais,
institutos de pesquisa, sociedade civil e organizações de base.
A
partir da ideia inicial de levantar uma fileira de árvores de leste à
oeste do deserto africano, a visão do Grande Muro Verde Africano evoluiu
para um enfoque mais científico e integrado: um mosaico de intervenções
adaptadas aos ecossistemas locais e customizadas às necessidades de
suas comunidades.
Ação
Desde 2010,
a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) -
em colaboração com a União Europeia (UE) e o Mecanismo Global das Nações
Unidas para a Convenção de Combate à Desertificação (UNCDD) - tem
apoiado a Comissão da União Africana (AUC) e seus países parceiros na
promoção e desenvolvimento dessa iniciativa.
Por
exemplo, os planos estão em ação em Burkina Faso, Chade, Djibuti,
Eritrea, Etiópia, Gambia, Mali, Níger, Nigéria e Senegal, enquanto na
Argélia, Egito, Mauritânia e Sudão estão sendo desenvolvidos.
Os
resultados começam a ser atingidos. No Senegal, a plantação de 11
milhões de árvores contribuiu para a restauração de 27.000 hectares de
terra degradada, enquanto os jardins multiuso - pomar, horta e pastagem
em um só local - permitem que as mulheres aumentem sua renda e produzam
alimentos para sua família ao mesmo tempo.
A
fixação de dunas tem sido bem sucedida na Mauritânia. Mali, Burkina Faso
e Níger trabalham juntos com o Jardim Botânico Real de Kew (no Reino
Unido) na produção das árvores, arbustos e ervas mais adequadas para
tornar terra degradada em áreas produtivas.
Mas
para tornar a visão do Grande Muro Verde uma realidade, grandes desafios
ainda estão pela frente em termos de compromisso político,
financiamento, capacidade de desenvolvimento, assim como apoio da
população local.
De volta à vida
"Se queremos vencer essa batalha, precisamos trabalhar com a população local", diz Sidi Sani em Kouloumboutey.
Em um ano, um total de 115 hectares de áreas degradadas foram restauradas.
"Nós
podemos ver a florestas voltando", diz Ibrahim Dan Ladi, acrescentando:
"algo que estava morto está voltando à vida de novo".
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