Arrogância, seu nome é EUA
Edward Snowden, Julian Assange e o soldado
estadunidense Bradley Manning devem ser defendidos pela violência que
estão sofrendo por parte dos Estados Unidos
10/07/2013
Mário Augusto Jakobskind
A arrogância dos Estados Unidos não chega a ser uma surpresa, mas sempre provoca indignação.
No
caso de Edward Snowden, ex-agente da CIA, realmente passou dos limites.
Snowden concretamente está prestando um serviço de utilidade pública
para a humanidade ao fazer as revelações sobre a ação imperial de
grampeamento de e-mails e telefônicos por parte da potência hegemônica
em várias partes do mundo.
O Brasil, como se
sabe, não ficou de fora e foram monitoradas mais de um bilhão de
mensagens da internet e telefônicas. Ou seja, uma intromissão indevida
em assuntos internos de um país.
Mas não é o que
pensam parlamentares estadunidenses, que lançaram ameaças contra países
latino-americanos que eventualmente concedam asilo político a Snowden.
Republicanos e democratas querem que o governo estadunidense promova
sanções econômicas e comerciais para quem conceder o asilo político ao
novo herói dos tempos cibernéticos.
O primeiro a
fazer a ameaça foi o obscuro republicano Mike Rogers, que pregou a linha
dura contra empresas latino-americanas que, segundo ele, “gozam dos
benefícios do comércio com os Estados Unidos”.
Já
outro parlamentar arrogante, desta feita o democrata Robert Menendez,
titular do Comitê de Relações Exteriores do Senado, ameaçou a Venezuela,
Nicarágua e Bolívia ao afirmar que “é evidente que qualquer aceitação
de Snowden, qualquer dos três países ou qualquer outro, vão ficar
diretamente contra os Estados Unidos”. Na verdade, não é de hoje que os
Estados Unidos se intrometem indevidamente em assuntos internos do
Brasil.
O site Wikileaks revelou há anos
que telegramas da diplomacia estadunidense mostram ações concretas da
Casa Branca para impedir, dificultar e sabotar o desenvolvimento
tecnológico brasileiro em duas áreas estratégicas: energia nuclear e
tecnologia espacial.
E tudo foi feito com a colaboração da mídia de mercado nacional. Ainda no governo de Fernando Henrique Cardoso, segundo o WikiLeaks,
os EUA pressionaram autoridades ucranianas para emperrar o
desenvolvimento do projeto conjunto Brasil-Ucrânia de implantação da
plataforma de lançamento dos foguetes Cyclone-4 – de fabricação
ucraniana – no Centro de Lançamentos de Alcântara, no Maranhão.
WikiLeaks
informou também que representantes ucranianos, através de sua embaixada
no Brasil, fizeram gestões para que o governo estadunidense revisse a
posição de boicote ao uso de Alcântara para o lançamento de qualquer
satélite fabricado nos EUA. A resposta deixou claro que os EUA “não
querem” nenhuma transferência de tecnologia espacial para o Brasil.
Para
quem tem memória curta, vale lembrar que a Base de Alcântara explodiu e
houve denúncias segundo as quais o acidente teria sido provocado por
agentes da CIA. As informações do WikLeaks demonstram as
pressões estadunidenses para evitar que o Brasil continuasse com o
programa em Alcântara e indicam que não seria surpresa alguma se a
inteligência estadunidense fosse a responsável pela explosão que matou
cientistas brasileiros e provocou estragos incalculáveis ao programa
espacial.
Por estas e muitas outras, que remontam
inclusive fatos relacionados com o suicídio do presidente Getúlio
Vargas e o golpe civil-militar que tirou do poder o presidente
constitucional João Goulart, causou espécie a declaração em um primeiro
momento do ministro Paulo Bernardo, das Comunicações, de que as
denúncias do ex-agente da CIA Edward Snowden o surpreenderam.
É muito lamentável o fato de que um ministro brasileiro desconheça tais fatos da história brasileira.
No
mais, Edward Snowden, Julian Assange e o soldado estadunidense Bradley
Manning devem ser defendidos pela violência que estão sofrendo por parte
de um país que se julga o dono do mundo. Defendê-los é até uma questão
de direitos humanos.
Mário
Augusto Jakobskind é correspondente no Brasil do semanário uruguaio
Brecha. Integra o Conselho Editorial do Brasil de Fato. É autor, entre
outros livros, de América que não está na mídia, Dossiê Tim Lopes –
Fantástico/IBOPE.
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