“Seremos uma pequena China europeia”
26 junho 2013
Novi List
Rijeka
26 junho 2013
Novi List
Rijeka
Eloisa d'Orsi/Presseurop
O mercado de Rijeka, em
junho de 2013. Imagem da série "Adesão,
a grande ilusão", realizada por
Eloisa d'Orsi para o Presseurop.
Na opinião dos croatas, o que é que a adesão à UE
lhes vai trazer? Para tentar saber como veem a entrada do seu país na
União, o “Novi List” fez a pergunta aos habitantes de Rijeka.
Testemunhos.
O que é que a entrada na União vai realmente trazer às
pessoas comuns? Ninguém sabe verdadeiramente. E apesar de estarmos
apenas a alguns dias da adesão, o que é que vai mudar, de facto, quais
são as consequências dessa integração na vida quotidiana, nos salários,
nos preços, na procura de um emprego, nas viagens…? Nada disto é claro
para ninguém.
Considerando as experiências de outros países, podemos dizer que cada
um tem uma história diferente, por isso, não podemos senão supor aquilo
que a Europa vai trazer aos cidadãos croatas. Nem tudo é preto, nem
tudo é branco. Uma coisa é certa, não vai ser fácil.
E apesar dos políticos dizerem que, a partir de 1 de julho, o ouro
correrá como um rio, fomos ao encontro dos habitantes de Rijeka para
saber o que pensam da adesão da Croácia à UE – como é que essa adesão
vai influenciar as suas vidas.
Adesão aguardada com prudência
Segundo Zdravko-Ćiro Kovačić, reformado e lenda do polo aquático
croata, “os dois primeiros anos vão ser piores do que agora. Mas a
adesão era inevitável; seria absurdo um pequeno país como a Croácia não
ser membro da UE. Por outras palavras, a tarefa que nos espera será
árdua; estamos longe do modelo típico do cidadão europeu, sobretudo no
que diz respeito ao trabalho”, declara. “Os croatas vão ter de se
adaptar aos hábitos do mercado europeu, que se desmorona sob a pressão
de um desemprego recorde, sobretudo no que diz respeito aos jovens.”
Não serve de nada lamentarmo-nos, é a opinião de Mirjana Šafar,
vendedora: “Pessoalmente, espero que isto melhore. Sou otimista por
natureza e é por isso que encaro esta mudança com otimismo. Espero que
seja melhor para os jovens, que tenham mais possibilidades de estudar,
de viajar, etc... E evidentemente, passar a fronteira vai ser mais fácil
– deixará de haver alfândega para ir a Trieste. Quanto aos produtos
regionais, sei que as pessoas têm medo de terem de deixar de os vender,
mas acho que não vai ser assim. Os outros países também vendem os seus
queijos e as suas natas.”
No entanto, é com prudência que Hasna Jukić, dono de uma loja na
praça principal de Rijeka, aguarda esta adesão. Na sua opinião, a subida
dos preços já é percetível mesmo antes da Croácia entrar na UE:
“Sinceramente, acho que vai ser pior. Quem diz o contrário está a
contar-nos histórias da Carochinha. Tenho dois filhos em casa que, em
breve, acabarão a universidade e irão procurar emprego e tenho medo que
não encontrem. Hoje, é muito difícil arranjar trabalho”, diz ela.
Comenta o desaparecimento de fronteiras de maneira muito franca: “se eu
tivesse dinheiro já tinha ido a Trieste fazer compras. Mas como não
tenho dinheiro, haver ou não haver fronteira tanto me faz”.
Uma China europeia
Os profissionais do setor de turismo esperam que o desaparecimento
das fronteiras e o simples facto de a Croácia fazer parte da UE atraia
mais turistas. É o que nos diz Nenad Kukurin, industrial hoteleiro:
“Para começar, deixará de haver fronteiras e, depois, vai ser mais fácil
comprar produtos que, até agora, não encontrávamos aqui. Por isso, para
a hotelaria é uma mudança positiva. Do mesmo modo, o preço de alguns
produtos vai baixar, como o do champanhe, por exemplo, ou o dos vinhos,
do parmesão, do azeite – ou seja, produtos que usamos muito neste
negócio. Quanto ao resto, não estou muito otimista, mas no que diz
respeito ao meu trabalho, é uma mudança positiva”.
Na sua área profissional, Ante Bočina, pescador, também vê a União
como uma mudança positiva: “Na minha opinião, a situação, para quem
trabalha, vai melhorar. Pelo contrário, quem não trabalha deve estar
preocupado. Quem tem trabalho não precisa de ter medo, a concorrência é
sempre bem-vinda”. Para ele, a abertura das fronteiras equivale a um
comércio mais aberto para os pescadores porque poderão vender mais
facilmente o peixe, em Itália, por exemplo.
Os pequenos artesãos, por seu lado, estão muito céticos. Segundo
Dinče Jovanovski, sapateiro, o pânico já é evidente. Toda a gente tem
medo e ninguém vê nada de positivo. “A chegada da UE é igual à chegada
de um tsunami. Infelizmente, ninguém vê nada de positivo nisso, toda a
gente está preocupada, o poder de compra caiu de forma dramática e não
vemos o que é que a Europa nos pode trazer de bom. Pessoalmente, não
espero nada de bom. A União Europeia tem mais a ganhar do que nós. Há
muito que consideram que a nossa mão-de-obra é cara; a Europa não nos
recebe para melhorar o nosso nível de vida, mas sim para fazer de nós a
China europeia. Uma pequena China onde não faremos mais nada senão
trabalhar. Arranjar um estágio ou ter um salário, de qualquer maneira,
já é pedir de mais.”
As opiniões parecem bastante divididas. Quem está enganado, quem tem razão, dentro de muito pouco tempo saberemos.
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