O que está em jogo nas eleições iranianas?
Atualizado em 13 de junho, 2013
Eleições locais e presidenciais serão realizadas na mesma rodada
Os iranianos vão às urnas nesta sexta-feira para eleger um novo presidente.
As opções dos eleitores, porém, serão bastante
limitadas – já que importantes líderes da oposição estão em prisão
domiciliar e nenhum candidato reformista aparecerá na cédula eleitoral.
A última eleição presidencial foi marcada por denúncias de fraude e
uma onda de protestos contra o presidente reeleito Mahmoud Ahmadinejad.
Agora, ao que tudo indica, o grupo conservador
ligado ao líder supremo do Irã, aiatolá Ali Khamenei - chefe de Estado
do país e figura que detém o poder de facto no Irã – está empenhado em recuperar a "estabilidade" do regime, colocando no poder um aliado incondicional.
Todos os candidatos são vistos como figuras
leais a Khamenei e acredita-se que nenhum deles representaria uma grande
mudança nas políticas internas e externas do regime -o que inclui sua
conflituosa relação com as potências do Ocidente.
Há indícios, entretanto, de que os reformistas poderiam tentar unir forças em torno do centrista Hasan Rouhani.
Mohammad Reza Aref, o único reformista que
recebeu autorização para participar da eleição, desistiu da disputa na
terça-feira, aparentemente depois de conversar com o ex-presidente
Mohammad Khatami, líder moderado que apoia Rouhani.
Entenda aqui como funciona a votação e o que está em jogo:
Os candidatos se organizam em partidos políticos?
No Irã não há partidos políticos no sentido tradicional do termo, mas os candidatos se organizam em movimentos.
Uns são conservadores, outros reformistas, e há os que estejam em algum ponto entre esses dois extremos (centristas).
Após os protestos que denunciaram fraude nas
eleições de 2009, a oposição reformista a Ahmadinejad se organizou em
torno do chamado Movimento Verde.
Desde então, porém, muitos dos integrantes desse
movimento foram detidos ou condenados à morte e dois de seus líderes, o
clérigo Mehdi Karroubie o o ex-premiê Hussein Mousavi (que disputou a
Presidência com Ahmadinejad em 2009), foram colocados sob prisão
domiciliar.
As eleições são livres e justas?
Para concorrer, os candidatos precisam do aval
do Conselho dos Guardiães – órgão que zela pela aplicação da lei
islâmica no país e sofre grande influência do Líder Supremo.
Apenas 8 passaram pelo crivo desse órgão, de uma
lista de mais de 678 pré-candidatos e, desses, dois desistiram de
concorrer antes da votação - o que limita bastante as opções dos
eleitores.
Todos os reformistas foram vetados à exceção de Aref, reformista moderado que acabou saindo da disputa.
Além da questão do veto de candidatos, outra sombra sobre o sistema político iraniano são as denúncias de fraude.
Nas últimas eleições, milhares de pessoas saíram
às ruas denunciando irregularidades. O líder supremo, porém, acabou
apoiando a vitória de Ahmadinejad.
Que figuras importantes foram vetadas?
Entre os impedidos de concorrer estão líderes políticos de peso, como o reformista Akbar Hashemi Rafsanjani.
Comandante de facto das tropas
iranianas durante a guerra contra o Iraque, Rafsanjani também teve um
papel importante na escolha de Ali Khamenei para ser o Líder Supremo do
país, nos anos 80.
Ele foi presidente do Parlamento, presidente da
República e membro do chamado Conselho dos Especialistas, que
supervisiona o trabalho do Líder Supremo. Também candidatou-se para a
Presidência em 2005, perdendo para Ahmadinejad no segundo turno.
Opções em votação são limitadas porque não há candidatos reformistas na disputa
Outra figura importante vetada pelo Conselho dos Guardiões foi Esfandiar Rahim Mashaei, um aliado próximo de Ahmadinejad.
Isso indicaria que o atual presidente também já caiu em desgraça aos olhos de Khamenei.
Por que Ahmadinejad não concorre?
Os presidentes iranianos só podem governar por dois mandatos consecutivos.
Além disso, apesar de Khamenei ter apoiado sua
vitória em 2009, declarações feitas pelo líder supremo desde então
sugerem que a relação entre os dois se deteriorou.
O veto à candidatura de Mashaei seria mais um desses indícios.
Para alguns aliados próximos de Khamenei, o
atual presidente estaria se desviando do "Islã puro" para abraçar
valores nacionalistas.
Quem são os candidatos?
Entre os candidatos vistos como favoritos estão
os conservadores Saeed Jalili - secretário do Conselho de Segurança
Nacional e negociador-chefe do Irã para temas nucleares - e o prefeito
de Teerã, Mohammad Baqer Qalibaf.
Também estão concorrendo pelos conservadores Ali
Akbar Velayati, assessor de Khamenei, e Mohsen Rezai, ex-comandante da
Guarda Revolucionária incluído na lista de procurados da Interpol pelo
atentado contra um centro judaico que deixou 85 mortos em Buenos Aires
em 1994.
O clérigo e ex-negociador nuclear Hassan
Rowhani, centrista, também é considerado um candidato forte - e seria o
favorito dos reformistas.
O sexto candidato é o independente Mohammad Gharazi, que tem focado sua campanha em promessas de combate a inflação.
Como os candidatos são selecionados?
O processo de escolha prévia dos candidatos teria como objetivo "prevenir corrupção e desvios" segundo autoridades do país.
Críticos veem o sistema como uma maneira de
garantir a eleição de líderes fiéis ao regime, vetando reformistas ou
outros candidatos "menos leais" a Khamenei.
Primeiro, os antecedentes policiais e judiciais
dos pré-candidatos, bem como sua "lealdade" à República Islâmica são
checados em órgãos de Justiça.
Em seguida, seus nomes são submetidos ao
Conselho dos Guardiães, que tem 12 membros – seis nomeados pelo Líder
Supremo e seis aprovados pelo Parlamento.
Como simpatizantes dos reformistas podem responder aos vetos?
Uma das possibilidades é que simplesmente não
apareçam para votar – o que faria os índices de comparecimento caírem e
poderia até minar a credibilidade da eleição.
Mesmo antes do veto aos reformistas, parte do
movimento já defendia o boicote às eleições em protesto contra a
repressão às manifestações de 2009.
Também há a probabilidade de que unam forças em torno de Rouhani, visto como o mais moderado dentro os candidatos.
As autoridades estão preocupadas com a possibilidade de um baixo comparecimento?
Aparentemente sim. Pela primeira vez as eleições
presidenciais ocorrerão junto com as locais e com a eleição de membros
da chamada Assembleia de Especialistas, o grupo de clérigos que escolhe o
Líder Supremo, supervisiona o seu trabalho e em tese pode destituí-lo
(embora, na prática, isso nunca tenha ocorrido).
Como a taxa de participação das eleições locais
costuma ser bem alta, isso pode ter sido feito na esperança de garantir
um alto comparecimento.
Iranianos que vivem no exterior também têm o
direito de participar da eleição depositando seu voto nas representações
diplomáticas.
Qual o principal tema das campanhas?
O tema que mais preocupa os eleitores é a
economia, duramente afetada pelas sanções adotadas contra o Irã em
função da recusa do país em aceitar restrições a seu programa nuclear.
Todos os candidatos criticaram Ahmadinejad por
seu manejo do tema e fizeram propostas para desatar os nós econômicos
que atravancam o crescimento iraniano.
Os conservadores em geral favorecem soluções
internas, como uma melhoria de processos de gestão, a ampliação de
programas de privatização e o combate à corrupção.
Mesmo políticos mais moderados, porém, têm muita cautela ao falar sobre como melhorar as relações com o resto do mundo.
E nenhum candidato questiona a posição do Irã sobre seu programa nuclear.
Como a eleição funciona?
Se nenhum candidato conseguir mais de 50% dos
votos no primeiro turno desta sexta-feira, haverá um segundo turno no
dia 21, disputado apenas pelos dois candidatos mais votados.
O resultado da votação precisa ser ratificado
pelo líder supremo no dia 3 de agosto, antes de o presidente prestar
juramento diante do Parlamento.
Há pesquisas indicando os favoritos?
As pesquisas de intenção de voto não são confiáveis.
Sites de notícias têm suas pesquisas informais
que indicariam um certo favoritismo do centrista Rouhani – com a
possibilidade de que ele vá para o segundo turno com algum dos
candidatos conservadores.
No entanto, reformistas que denunciaram fraude
em 2009 também levantam a possibilidade de que haja uma manipulação
contra candidatos anti-establishment também dessa vez.
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