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quinta-feira, 1 de janeiro de 2015

Lituânia fecha ciclo de adesão ao núcleo de países da zona euro

Lituânia fecha ciclo de adesão ao núcleo de países da zona euro



País do Báltico torna-se no 19.º membro do clube, mas não se sabe quando é que a moeda única terá novas adesões.

As primeiras notas de euro chegaram à Lituânia de barco no dia 23 de Outubro, mas só agora é que começam a ser usadas em detrimento da moeda nacional, a litas (com cada euro a valer 3,45 litas). Fabricadas no banco central alemão, pesavam 114 toneladas, no valor de 132 milhões de euros, e foram transportadas em segredo por questões de segurança. Guardadas nos cofres dos bancos, chegou agora a vez de iniciarem uma nova viagem, através das mãos dos lituanos, espalhando-se depois pelo resto da zona euro que, a partir desta quinta-feira, é composta por 19 países membros.
Esta pode parecer uma conjuntura estranha para uma nova adesão à moeda única, já que a zona euro está em risco de entrar em deflação e de voltar a sofrer uma recessão, ao mesmo tempo que as regras impõem controlos apertados ao nível da dívida pública (abaixo dos 60% do PIB) e do défice (tem de ser inferior a 3% do PIB). No entanto, para a Lituânia, que já tentara aderir ao euro em 2007, este parece ser o passo mais lógico, principalmente tendo um vizinho como a Rússia. 
Em declarações ao PÚBLICO, Mauricas Zygimantas, economista-chefe do Nordea Bank da Lituânia e professor na Universidade de Gestão e Economia (ISM) de Vilnius, realça que a adesão ao euro reforça as ligações ao Ocidente e irá trazer benefícios económicos ao país. “O euro representa mais um passo na direcção” da Europa Ocidental, que, realça, é “próspera, democrática, tolerante e transparente”, e mais um passo para se distanciar do Leste europeu, “empobrecido, autocrático, intolerante e corrupto”.
Neste quadro, acrescenta, o euro “pode ser visto como a continuação de uma longa jornada de regresso ao encontro da civilização ocidental, que começou em 1990 após a Lituânia ter recuperado a independência face à União Soviética, e culminou em 2004 com a adesão à União Europeia e à NATO”. Para Mauricas Zygimantas, a crise económica e financeira que atravessa a Rússia torna este movimento ainda mais apelativo, ao mesmo tempo que o conflito militar na Ucrânia faz recordar a grande virtude da União Europeia: a paz. Isto numa altura em que a Lituânia está a reforçar as despesas para a área da defesa.
Depois, deixando de parte as comparações Este/Oeste, Mauricas Zygimantas destaca que a moeda única tem “vários benefícios para oferecer”, destacando quatro elementos-chave: facilita a livre movimentação de bens, serviços, pessoas e capital, potenciando os benefícios do mercado único; elimina riscos que ainda subsistiam de desvalorização da moeda (apesar da litas orbitar junto do euro desde 2002); permite influenciar as políticas do Banco Central Europeu; e vai facilitar o comércio, investimento e turismo entre os três países bálticos.
A Estónia e Letónia usam, respectivamente, a moeda única desde 2011 e 2014 (a Letónia foi o membro mais recente), e a entrada da Lituânia coloca o país em pé de igualdade com os dois vizinhos, além de representar o fim de um período em que cada um dos pequenos países do Báltico tinha a sua própria moeda.
Ao PÚBLICO, Algirdas Miskinis, responsável pelo departamento de política económica da Faculdade de Economia da Universidade de Vilnius, destaca ainda que a adesão ao euro representa “uma tentativa de um pequeno país se tornar mais visível na União Europeia e no resto do mundo”. Além disso, diz, “há fortes argumentos económicos” para entrar na moeda única, como o acesso a financiamento mais barato, facilidade de pagamentos, transacções mais baratas e mais investimento directo estrangeiro.
Desafios pela frente
Nem tudo, no entanto, são apenas vantagens, e a Lituânia terá vários desafios pela frente. Algirdas Miskinis destaca dois deles: o do crescimento económico, “que está a desacelerar devido ao embargo russo e ténue crescimento na União Europeia”, e o social, uma vez que “os salários são baixos e a desigualdade é bastante elevada”. Para já, estima-se que em 2015 os ordenados cresçam acima da inflação, fazendo aumentar os salários reais, o que faz alguns analistas lançar alertas sobre o risco de perda de competitividade do país.

De resto, Algirdas Miskinis considera que nem a dívida pública nem a inflação são problemas, e que o défice público está controlado, embora “graças aos baixos salários e pensões”. De acordo com dados de Dezembro do banco central da Lituânia, a procura interna e as exportações vão crescer menos do que o estimado inicialmente, principalmente devido ao embargo russo aos produtos alimentares, e que representam 38% das vendas de bens do país ao exterior.
Já Mauricas Zygimantas sublinha que o maior desafio do país será não cair no erro da “euforia pós-euro” e continuar a “controlar os níveis da dívida do sector privado e do sector público”. Para já, diz, os exemplos da Estónia e da Letónia são “muito encorajadores”, uma vez que os dois países têm dos défices públicos mais baixos da União Europeia. Para já, o Orçamento do Estado da Lituânia para o ano que vem, o primeiro da vida no euro, aponta para um défice público de 1,2% do PIB, com a economia a crescer 3,4%.
Com a adesão da Lituânia, a zona euro fecha um ciclo de crescimento, sem que haja mais nenhum país da UE na lista de espera. Em 2002, quando se deu o grande pontapé de saída,  entraram 12 países de uma só vez, Portugal incluído. Depois disso, foi preciso esperar até 2007 para o clube da moeda única voltar a crescer, com a Eslovénia, e demorou nove anos a passar de 12 para 19 países, quando há 29 na União Europeia.
Não obstante haver a expectativa de que o euro se torne a moeda de todos os Estados-Membros, como passo inevitável, o Reino Unido é a prova de que dificilmente haverá uma só moeda para todos os países. Outros, como a Polónia, já ensaiaram várias aproximações, mas continuaram com a moeda local, e sem coletes de força no défice.
Silvia Merler, do think tank Bruegel, afirmou ao PÚBLICO que “ninguém poderá dizer neste momento qual será o próximo país a aderir” ao euro, nem quando. Esta investigadora refere, no entanto, que após a nomeação do antigo primeiro-ministro polaco, Donald Tusk, para presidente do Conselho Europeu, surgiram novas especulações sobre a entrada deste país no clube da moeda única. Mas, mesmo que isso aconteça, sublinha, “ainda vai demorar algum tempo”.

Fonte: http://www.publico.pt/economia/noticia/lituania-fecha-ciclo-de-adesao-ao-nucleo-de-paises-da-zona-euro-1680861

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