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segunda-feira, 7 de abril de 2014

Opinião: O geopolítico jogo de xadrez EUA - Rússia


Opinião: O geopolítico jogo de xadrez EUA - Rússia



Alex Corsini*

Que o presidente da Rússia, Vladimir Putin, está empreendendo a reconstituição da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas – com outro nome – não resta a menor dúvida. Então, qual é a estratégia norte-americana neste tabuleiro, considerando que, após o imbróglio da Ucrânia e a indexação da Criméia à Federação da Rússia, os Estados Unidos, mesmo sem querer – porque Rússia não é Afeganistão, muito menos Iraque – foram envolvidos em uma nova queda de braço, justamente com a Rússia, o pior de seus pesadelos.
Enquanto a Rússia não faz segredo de sua intenção de aumentar suas áreas de influência do Mar Báltico ao Mar Cáspio, os EUA desfecharam uma campanha cortejando Romênia, Polônia, Estônia (de conquista difícil) e Turquia e Azerbaijão (de conquista facílima), cinco países que na avaliação dos conselheiros da Casa Branca representam pontos de extraordinária importância geopolítica e geoestratégica para o traçado fronteiriço entre Europa e Rússia, que os EUA estão planejando riscar no mapa da Europa, avançando a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) a Leste e isolando a Rússia.
Nos últimos dez anos, armado com petróleo e gás natural, Putin reconquistou o “espaço vital” da antiga União Soviética, disseminando sua influência sobre os cinco países que os EUA estão tentando conquistar. Já os norte-americanos, após a sua “experiência” com a Guerra Fria, seguida pelas guerras da Coréia e do Vietnã e de suas fracassadas tentativas para “Exportação de Democracia” no Afeganistão e no Iraque, estão tentando agora deter a expansão do poder da Rússia na região.
Os EUA lançam mão de uma nova estratégia que lhes garanta coesão política, militar e, principalmente, econômica de seus parceiros atuais e futuros, para que possam enfrentar a Eurásia – o maior condomínio geoestratégico, geopolítico e geoeconômico do mundo – que está sendo construído por Putin.
Escudo antimísseis
Com o escudo antimísseis da Otan nas fronteiras de Polônia e Hungria e com os países do Mar Báltico (Letônia, Estônia, Lituânia) dentro da União Européia (UE) e da Otan, a Rússia sente o bafo quente dos EUA distante a apenas 145 quilômetros de São Petersburgo.
A Polônia faz fronteira com os países do Mar Báltico e lidera o grupo Visegrad, composto ainda por Hungria, República Tcheca e Eslováquia, cujos ministros de Defesa já formalizaram uma carta de intenções para a constituição de um “grupo de batalha” (battle group) de seus respectivos países, destinado a funcionar como Força de Reação Imediata da UE (European União Rapid Reaction Force).
Destes quatro países, a Polônia é o mais disposto para uma relação militar mais estreita com os EUA, por considerar que sua estratégia nacional está baseada sobre garantias de terceiras forças. Já a Romênia e a Moldávia são fronteiriças a duas superpotências, Rússia e UE (nem tanto). A Moldávia, aliada à UE, estava ameaçando há alguns dias o porto de Odessa; mas, aliada à Rússia, ameaça a Romênia.
O Azerbaijão, o mais importante país na ponta da Eurásia por sua importância geoestratégica, situa-se no litoral do Mar Cáspio e é fronteiriço com a Rússia e o Irã, junto com os quais – além de Casaquistão e Turcomenistão – compõe o condomínio energético do Mar Cáspio, região de grandes reservas de petróleo e gás natural.
A posição da Turquia assemelha-se com a da França durante a Guerra Fria. Tanto alinhada, quanto independente e auto-suficiente militarmente, mas apoiando-se sempre sobre a ação eficaz de terceiros. A Turquia desempenha agora um papel semelhante, porque está interessada no futuro do Mar Negro, do Cáucaso e do Sudeste Europeu.

* Sucursal da União Européia do Monitor Mercantil.


Imagem: Artur Bainozarov/Reuters

Fonte: Monitor Mercantil

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