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quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

Vidas desperdiçadas e assassinos involuntários | Bike é Legal

Vidas desperdiçadas e assassinos involuntários | Bike é Legal


Maciel de Oliveira Santos, 42 anos, mais um cidadão que utilizava a bicicleta na cidade de São Paulo até ser assassinado nas ruas. Ao que parece somos todos forçados a aceitar que vidas no trânsito são números a serem apresentados em estatísticas no final de ano.
Renata Falzoni
Cartaz durante instalação da Ghost Bike de Lauro Neri, atropelado e morto na Av.Eliseu de Almeida em 2012.
Cartaz durante instalação da Ghost Bike de Lauro Neri, atropelado e morto na Av.Eliseu de Almeida em 2012.
Bicicletas brancas, pedaladas do silêncio etc, estão aí para demonstrar que nenhum ciclista é apenas um número e cada vida humana deve ser lembrada e cada assassinato involuntário cometido por um condutor imprudente, displicente ou negligente deve receber a devida punição.
O simples ir e vir nas cidades não pode ser punido com pena de morte, apesar de muitas vezes ser comum a culpabilização da vítima. Como hoje se faz em São Paulo com os mais de 600 pedestres que são mortos por ousarem atravessar a rua ou caminhar por calçadas até serem atingidos por veículos automotores.
Durante o século XX foram bilhões (trilhões) investidos para nos fazerem acreditar que a velocidade máxima dos carros por ruas, avenidas e estradas era a maior prioridade para as sociedades ao redor do mundo. Com isso tiramos as crianças das ruas, acabamos com a possibilidade de caminhar com tranquilidade de casa até o mercado da esquina, quase matamos as cidades com congestionamentos, poluição etc. E tudo isso sem qualquer saldo positivo, já que a velocidade média dos deslocamentos nas cidades, como se sabe, é inferior ao passo de uma charrete e até mesmo de uma galinha.
Ainda assim, a velocidade continua a ser objeto de culto sem punição. As leis foram postas no papel e a conscientização geral após a promulgação do Código Brasileiro de Trânsito em 1997 ajudou a diminuir as mortes no trânsito do país. Mas aos poucos, sem a devida punição de infratores e assassinos, muito do que foi escrito tornou-se letra morta e as mortes voltam aos poucos aos patamares pré 1997.
Os problemas parecem por vezes grandes demais e a omissão, inação e descaminhos drenam a motivação para modificarmos a realidade que nos foi imposta. Nesse cenário promover o uso da bicicleta é certamente fundamental para que aumente a segurança de todos nas ruas. Afinal as magrelas são o veículos perfeitos para corrigir nossas anti-cidades. Pedalar é a solução para dois graves problemas de cidades que se modificaram para os carros: deslocamentos longos demais para serem feitos a pé e transporte público ineficiente.
Foi justamente na bicicleta que Maciel de Oliveira Santos encontrou a solução para ir e voltar do trabalho. A velocidade e irresponsabilidade de um motorista de caminhão tirou a vida de mais esse cidadão. Uma vida a menos que nos faz lembrar da importância de cada ciclista nas ruas. Cada pessoa em uma bicicleta é um mensagem clara a cada motorista no caminho de que existe vida nas ruas e os habitantes das cidades querem se deslocar de maneira mais agradável, prática, econômica e veloz.
Para a família de Maciel Santos, nosso pedido de desculpas em nome de todos que lucraram e se omitiram na construção de uma cidade em que trafegar pode ser incompatível com a vida.
A cada pessoa que optou pela bicicleta para ir e vir na cidade, nosso muito obrigado. Aos que tem sob seu controle o acelerador de um veículo motorizado, lembre-se sempre das vidas ao redor para não se tornar mais um assassino a desperdiçar uma vida.

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