Páginas

quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

Texto de outubro de 2013 mas vale para fomentar reflexões sobre as cidades que queremos! - Técnicos e cicloativistas debatem conceito de centro acalmado

Técnicos e cicloativistas debatem conceito de centro acalmado




A criação de um centro acalmado – situação em que a velocidade máxima permitida para veículos automotores é de 30 km/h – depende não só de questões técnicas, mas também de um entendimento da comunidade quanto às vantagens da humanização dos espaços urbanos, que é a supremacia das pessoas sobre os veículos automotores. Foi essa a conclusão do debate que lotou o auditório do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (Ippuc).O encontro contou com a presença de técnicos do Ippuc, profissionais de outros órgãos da Prefeitura Municipal de Curitiba, cicloativistas e jornalistas.
O palestrante convidado, Reginaldo de Assis Paiva, especialista em mobilidade urbana e políticas cicloviárias, abriu o evento explicando que o modelo de concessão de espaços públicos para interesses de particulares, adotado historicamente no Brasil – como aconteceu na implantação de ferrovias no estado de São Paulo –, trouxe grandes prejuízos financeiros às comunidades ao longo do tempo, além de prejudicar a integração de diferentes modais de transporte e inverter a lógica que deveria priorizar o ser humano em detrimento de veículos automotores. “Criamos uma relação perversa e esquizofrênica entre seres humanos e veículos automotores, que desumaniza os espaços públicos”, adverte Paiva.
Parte da solução desses problemas passa pela valorização do uso da bicicleta como modal de transporte. “A bicicleta traz de volta a escala humana à circulação viária. E quando os espaços são adaptados para isso, criam-se condições ideais de deslocamento de pessoas de bicicleta ou a pé, reduzindo o número de acidentes e tornando muito mais agradável o convívio nos espaços públicos”, destaca Paiva.
Em Curitiba, são grandes os desafios a serem enfrentados para promover a humanização dos espaços públicos. “Hoje há muitas dificuldades para se locomover a pé no centro da cidade. A velocidade permitida aos veículos não dá tempo para a travessia de pedestres e ameaça a integridade dos ciclistas”, Goura Nataraj, coordenador geral da Associação de Ciclistas do Alto Iguaçu, entidade parceira do Ippuc na promoção do evento. “Além disso, postes, placas e totens publicitários também atrapalham a circulação das pessoas a pé ou de bicicleta e a visibilidade dos próprios motoristas. Como os espaços não são amigáveis, as pessoas se isolam dentro dos carros, criando um cenário que estimula a violência e a falta de civilidade.”
Invisíveis
Um dos grandes problemas dos centros urbanos é a chamada invisibilidade das bicicletas. “Técnicos de trânsito paulistas acreditavam que não havia ciclistas na Via Dutra. Ao fazer a contagem, descobriram que a média é de um ciclista a cada 17 segundos. É muita gente, mas as autoridades de trânsito e as pessoas em geral não percebem essa realidade. Isso acontece em todo lugar e prejudica o estabelecimento de políticas públicas”, alerta Reginaldo Paiva.
Outro fator preocupante é a velocidade permitida para os veículos que, em muitas vias da cidade, é de 60 km/h. “Já está comprovado que para cada fração de velocidade que se diminui, há uma redução no índice de morbidade no trânsito. E isso é algo que devemos considerar no estabelecimento de políticas públicas”, enfatizou o arquiteto do Ippuc Luiz Fernando Gomes Braga.
O coordenador do Plano Cicloviário de Curitiba, Antonio Miranda, destacou que a criação de um centro acalmado em Curitiba deveria ser estabelecido a partir do calçadão da Rua XV de Novembro, espraiando-se em direção à Reitoria da Universidade Federal do Paraná e à Avenida Marechal Deodoro. “É preciso requalificar a área central do ponto de vista do pedestre e do ciclista”, enfatizou Miranda. Por outro lado, Rodolfo Jaruga, que é coordenador jurídico da CicloIguaçu, entende que o centro acalmado deveria incluir também a região da Avenida Cândido de Abreu até o Centro Cívico. “Na sequência, essa experiência deveria ser levada aos bairros”, aponta Jaruga.
A criação de um centro acalmado passa necessariamente pela melhoria das calçadas da cidade. Nessa direção, o Ippuc também está desenvolvendo um Plano Diretor de Calçadas e um Plano Emergencial. “Num primeiro momento, vamos trabalhar na recuperação de calçadas em pontos críticos da cidade, para dar mais segurança e bem estar à comunidade. E levaremos o Plano de Calçadas às Regionais, instalando calçadões em todas elas”, revelou a arquiteta Ana Cristina Gomes que é a responsável por esses projetos no Ippuc.
“Em resumo, é isso que todo cidadão, em todas as cidades, deseja: calçadas seguras e iluminadas, além de vias em boas condições para o tráfego de todos os tipos de veículos”, concluiu Reginaldo Paiva. Para que tudo isso ocorra de maneira adequada, sem prejudicar as necessidades e os interesses de todos os segmentos da comunidade, o poder público precisa atuar de forma não excludente. “Para que a cidade se humanize, é preciso que haja espaços prioritários para pedestres e ciclistas, como, por exemplo, na área central, sem que ocorra a exclusão de circulação de outros modais de transporte. Isso mantém a cidade viva e dinâmica”, destacou o arquiteto do IPPUC Reginaldo Reinert.
VIA CALMA DA SETE DE SETEMBRO
Em Curitiba, a primeira iniciativa com o propósito de humanizar o trânsito será realizada em 2014 com a implantação de uma via calma na Avenida Sete de Setembro, no trecho compreendido entre a Rua Mariano Torres e a Praça do Japão.Com uma extensão de 6,3 km, a Via Calma da Avenida Sete de Setembro tem o propósito de tornar o trânsito mais humanizado, priorizar o ciclista e proteger o pedestre, harmonizando e facilitando o deslocamento intermodal.
Os ciclistas passarão a transitar exclusivamente pelo lado direito da via, sobre área demarcada em linha tracejada. A velocidade máxima permitida para carros e motos é de 30 km/hora. Para tanto, além de ampla sinalização horizontal e vertical, haverá a instalação, a cada 60 metros, aproximadamente, de amplas lombadas que obrigam os veículos automotores a reduzir a velocidade. Os ônibus permanecem circulando nas canaletas exclusivas.
A Via Calma da Avenida Sete de Setembro contará com bicicaixas nos cruzamentos – uma área especial de parada para bicicletas nos semáforos, entre a faixa de pedestres e a área de veículos motorizados. Dessa forma, vão proteger e priorizar os ciclistas quando abrir o sinal. Também irão garantir mais segurança aos ciclistas nos cruzamentos e assegurar a prioridade para as bicicletas na realização de conversões.Com orçamento atualizado, o custo da obra está estimado em R$ 1.518.300,00.

Nenhum comentário:

Postar um comentário