América Latina não consegue transformar crescimento econômico em influência global, diz estudo
Brasil é o país latino-americano que melhor aparece na lista, em 19º
O crescimento econômico e as melhorias sociais apresentadas pelos países da América Latina nos últimos anos não repercutiram na projeção da região no mundo. Esta é uma das conclusões do estudo Presença Global, realizado pelo Real Instituto Elcano de Madri, capital da Espanha. Em uma conferência realizada nesta quinta-feira (16/01), os responsáveis pelo trabalho apresentaram as conclusões do estudo, que realizam desde 1990 e cujos dados mais recentes são de 2012.
O instituto calcula a presença global de 60 países (as 49 maiores economias do mundo mais os países da OCDE e da União Europeia) de acordo com três categorias: presença econômica, presença militar e presença branda (soft power). Apenas um país latino-americano aparece entre os 20 primeiros no ranking elaborado com os resultados finais do estudo. Liderada pelos Estados Unidos, a lista traz o Brasil na 19ª posição, atrás de países como Suíça, Cingapura e Arábia Saudita.
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Mapa mostra presença mundial de cada país; quanto mais escuro, maior a influência
Segundo o presidente do instituto, Emilio Lamo de Espinosa, “existe uma diferença entre poder e presença”. Isso explicaria o fato de uma grande economia como a brasileira ou um boom de crescimento como o latino-americano não influenciarem tanto na posição final do ranking.
“A maioria dos economistas classificam a última década como a década da América Latina, mas precisávamos averiguar se essa projeção chegaria a ser mundial e, segundo os dados deste relatório, a resposta é não”, afirma Carlos Malamud, pesquisador do instituto e especialista em América Latina. Ele destaca que apesar do crescimento econômico, os países latino-americanos não avançaram em sua presença branda, categoria que engloba educação, ciência, tecnologia, cultura, esportes, turismo, migrações e cooperação ao desenvolvimento.
Para Malamud, os países da região estão na “armadilha da renda média”. Este termo é utilizado por economistas e refere-se a uma situação em que um país, que alcançou o status de um país de renda média por meio da extração de seus recursos naturais para exportação ou usando sua força de trabalho abundante e barata na fabricação de manufaturas, tem dificuldade em desenvolver e alcançar o status de um país de alta renda. Isso ocorre porque não consegue competir com as economias de baixos renda e salários e nem com as economias avançadas em por seu alto grau de inovação e especialização.
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Lista dos 20 países com maior influência no mundo nos últimos anos
“Para sair desta armadilha é necessário uma série de reformas: econômica, política, social, educativa, tecnológica e etc.”, diz o pesquisador, que também destaca que outro ponto importante na região é a posição de liderança no Brasil em relação aos outros países latino-americanos.
Diferentes prioridades
O fato de não se destacar em relação a outros países não significa necessariamente um retrocesso, segundo conta a coordenadora do estudo, a pesquisadora Iliana Olivie. “Quando se quantifica algo, parece que todos os países têm que buscar sempre o topo. Mas não é assim que funciona, ou deveria funcionar. Há muitos países que buscam, em primeiro lugar, o desenvolvimento nacional, acima de sua projeção internacional”, explica.
Outro motivo para o mau resultado dos países da América Latina é apontado pelo presidente do instituto. “A Ásia tem mais presença? É porque tem 60% da população mundial. A América Latina tem pouca presença? É porque tem 10% da população mundial. Isso pesa muito”, assume Espinosa.
Entretanto, a ascensão asiática detectada no estudo tem outros fatores. Todos os países do continente analisados aumentaram sua presença militar, especialmente China e Japão. “Há um aumento na rivalidade militar destes dois países”, afirma Mario Escobar, especialista na região, que também destaca o investimento das nações asiáticas em ciência e tecnologia: “o investimento em ciência e tecnologia aumenta a presença branda e também ajuda na projeção econômica. Este investimento [asiático] deveria ser um exemplo para todos os países”.
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