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quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

20 km/h a mais fazem muita diferença

20 km/h a mais fazem muita diferença


Quando o veículo passa de 30 para 50 km/h, o risco de morte em caso de atropelamento sobe de 5% para 45%. Campanha defende zonas com limites menores de velocidade

Publicado em 07/04/2013 | MAURI KÖNIG


Hugo Harada/ Gazeta do Povo / Mobilização defende que em áreas residenciais ou escolares o limite seja de 30 km/h
Mobilização defende que em áreas residenciais ou escolares o limite seja de 30 km/h
Um leve toque no acelerador pode significar variação de 20 quilômetros na velocidade do carro e, mais do que isso, um grande salto nas estatísticas de atropelamentos letais. Quando o acidente se dá a 50 km/h em vez de 30 km/h, por exemplo, há uma elevação de 5% para 45% no risco de morte. Essa é uma das razões que levaram o jurista Luiz Flávio Gomes a iniciar uma campanha para criar nas cidades brasileiras zonas em que o limite de velocidade seja de 30 km/h em áreas residenciais ou escolares. A medida já é comum na Europa.
Gomes recorre às estatísticas para provar que a velocidade tem relação direta com mortes no trânsito, à razão de uma a cada 11 minutos. Porém, somos levados a confiar em demasia na nossa sensatez ao volante e a crer na segurança que o carro proporciona. A engenharia automobilística salva vidas e é capaz de amortecer impactos, mas as capacidades humanas continuam as mesmas, falíveis e limitadas frente ao inesperado.
Mesmo diante do imponderável, as pessoas não costumam pisar no freio. O brasileiro criou uma cultura de impunidade e um culto à velocidade no trânsito, avalia o coordenador do Programa Ciclovida, da Universidade Federal do Paraná, José Carlos Assunção Belotto. Como uma mudança de hábito não se processa tão rápido, ele salienta que só será possível mudar o comportamento dos motoristas com perseverança na fiscalização e punição dos infratores.
Para o coordenador do Ciclovida, a “Zona 30” só teria sucesso se fosse acompanhada de campanha educativa e punição. O diretor de Fiscalização da Secretaria de Trânsito de Curitiba, Éder Carlos Rodrigues, concorda que educação é fundamental para mudar a cultura de associar o carro à velocidade e ao status social. Ainda segundo ele, nada mudará se não houver conscientização de que alguns quilômetros a mais podem causar acidentes de proporções irreparáveis.
Números
Rodrigues dispõe de estatísticas para embasar seu argumento: em 2011 houve 18.736 multas em Curitiba por excesso de velocidade só em lombadas e barreiras eletrônicas, cujo limite de velocidade é de 40 km/h. As autuações subiram para 22.186 no ano seguinte. “Se não respeitam o limite de 40, imagina o de 30”, observa. Ele diz que na maioria das escolas de Curitiba o limite já é de 30 km/h, mas os motoristas reduzem a velocidade mais por causa dos obstáculos humanos que as crianças representam do que pela sinalização.
Já para o psicólogo e pesquisador do comportamento no trânsito Fábio de Cristo, a velocidade nas vias públicas não tem causa apenas no motorista. “A pista também pode estimular esse comportamento, como, por exemplo, as avenidas largas e retas, que convidam a correr. Assim, o desafio das autoridades consiste em equilibrar as ações, que devem incluir tanto o motorista quanto a infraestrutura viária e a fiscalização”, diz.

Após aderir à Zona 30, Londres teve queda de 40% em acidentes
O jurista Luiz Flávio Gomes usa a seu favor o argumento das estatísticas onde a Zona 30 já foi implantada, em zonas de grande movimento de carros, motos, pedestres e ciclistas. Londres teve queda de 40% no número de acidentes; na Bélgica, eles caíram 72%. Em setembro de 2011 o Parlamento Europeu fez a recomendação para que todas as cidades façam adesão ao projeto e, em 2012, uma iniciativa popular pediu que a União Europeia institua a Zona 30 como lei em todo seu território.
A primeira cidade a implantar a Zona 30 foi Buxtehude, na Alemanha, em 1983. A partir daí muitas cidades da Alemanha, França, Bélgica, Itália, Holanda, Áustria, Dinamarca e do Reino Unido aderiram. Bruxelas, na Bélgica, possui o maior trecho único de Zonas 30 da Europa, com 4,6 km de ruas que só podem ser transitadas a 30 km/h.

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