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quinta-feira, 21 de novembro de 2013

Reformas sinalizam rompimento com passado recente na China

Reformas sinalizam rompimento com passado recente na China


Atualizado em  21 de novembro, 2013
Xi Jinping, presidente da China (Reuters)
Reformas propostas por Xi Jinping devem sofrer resistência de indivíduos e grupos de interesse

Pouco mais de uma semana depois de o Partido Comunista Chinês encerrar uma plenária considerada crucial, a portas fechadas durante quatro dias, observadores leem os desdobramentos - divulgados na imprensa oficial - com um misto de ceticismo e expectativa.

O comunicado divulgado imediatamente após a plenária - que reuniu o presidente Xi Jinping e a cúpula do Partido - trazia diversas promessas, mas poucos detalhes.
Mas um documento de 20 páginas anunciado três dias depois despertou o otimismo de alguns observadores, que já começam a debater o legado de Xi e de seu premiê, Li Keqiang. Seus planos de reforma, dizem esses otimistas, são tão significativos quanto os lançados por Deng Xiaoping nas décadas de 1970 e 1980.
O documento detalha 60 metas de reforma para transformar as faces econômica e social da China na próxima década. Xi tem explicado essas reformas em editoriais emitidos pela agência estatal Xinhua. Dada a escala e profundidade do plano, este certamente exigirá todo o peso da figura do presidente, além de seu esforço pessoal.

'Dias duros'

Em 1978, quando Deng implementava reformas econômicas vitais (como abrir para o mundo o mercado da China, na época um país isolado), ele enfrentava a resistência de conservadores dentro do partido, que viam o investimento estrangeiro como um prelúdio para uma invasão de capitalistas estrangeiros.
No caso de Xi, a oposição pode vir de cada indivíduo ou grupos de indivíduos que tenham algo a perder no caso de mudanças político-econômicas radicais.
O jornal estatal Global Times já advertiu que "dias duros" virão, à medida que as reformas propostas afetarem interesses de determinados grupos. Mais especificamente, os planos de cortar a gordura das enormes empresas estatais, que há tempos dominam a economia chinesa.
Novas medidas exigem que elas paguem 30% de seus lucros ao governo. Sob as regras atuais, aparentemente exige-se delas que paguem entre 5% e 20% de seus dividendos. Mas muitas resistem a ceder até mesmo essas porcentagens ao governo central.
Laços estreitos com o governo, somados a décadas de monopólio, colocam essas gigantes estatais acima das leis aplicadas a negócios menores. Por que elas se submeteriam a essas regras agora, quando têm ainda mais a perder?
Outra reforma exaltada como radical é a promessa de tratamento igualitário a trabalhadores migrantes em áreas urbanas, nas províncias e nas cidades menores. Se for bem-sucedida, essa medida pode transformar a cara da China, à medida que dezenas de milhões de agricultores poderão vender suas terras e começar uma vida nova em empregos urbanos.
Mas a contrapartida é que isso exigiria realocar o dinheiro gasto na saúde, na previdência em educação. Para que alguns ganhem, outros terão de perder, mesmo que no curto prazo. Pode ser difícil convencer a classe média urbana a aceitar a redução de seus benefícios em prol de reformas.

Resistências

Um lembrete: o plano de 20 páginas recém-divulgado é, por enquanto, só um plano. E o problema está tanto nos detalhes quanto na implementação.
Xi e seus colegas vão enfrentar resistência em diversos níveis: de governos locais a empresas estatais, bem como dos burocratas que os supervisionam. O governo central pode ter suas metas, mas são os governos locais que terão de encontrar maneiras de cumpri-las.
Algumas cidades e províncias anunciaram como pretendem executar as reformas. Na província de Anhui, no leste, que há tempos luta contra a pobreza, há tentativas em curso para permitir que agricultores façam hipotecas ou transfiram o controle de suas terras.
Não é de se surpreender que Xi e seus colegas tenham estipulado 2020 como o prazo mínimo para ver resultados positivos. Ninguém sabe como será a China daqui a dez anos. Mas talvez já possamos concluir que a atual liderança do país pretende fazer um rompimento claro com o passado recente.
Antes do 18º Congresso do Partido Comunista, em novembro do ano passado, os debates giravam em torno da identidade dos líderes chineses, cada vez menos perceptível para o público. O antecessor de Xi, o ex-presidente Hu Jintao, colocava uma ênfase quase obsessiva em decisões tomadas em coletivo. Parecia que a liderança chinesa pós-Mao e Deng havia se tornado uma questão coletiva.
No mínimo, o plano atual e suas 60 metas confirmam que Xi não pretende presidir sobre mais uma "década perdida". A relativa robustez de sua mensagem e o alcance das mudanças propostas evidenciam um homem em pleno comando após apenas 8 meses desde sua posse. E um homem que sabe que, para a China, reformas são essenciais.

Suprema Corte chinesa veta tortura policial

A polícia chinesa não poderá mais usar a tortura para extrair confissões de suspeitos, determinou nesta quinta-feira a Corte Suprema do país.
O tribunal afirmou, em seu microblog oficial, que é ilegal submeter prisioneiros "ao frio ou calor extremo, à fome, a queimaduras ou à exaustão" para extrair confissões.
Com isso, provas obtidas sob tortura perdem validade, "em uma tentativa de promover a justiça imparcial", informou a agência oficial Xinhua.
A medida é a mais recente de uma série de normas destinadas à reformar a polícia e outras agências de segurança do país.
Na semana passada, a China afirmou que vai abolir "a reeducação" em campos de trabalho forçado.
O sistema, que começara a vigorar nos anos 1950, permitia à polícia mandar qualquer pessoa à prisão por até quatro anos, sem julgamento. Era praticamente impossível recorrer de uma sentença imposta nesse regime.

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