Os Moocs e o desafio de democratizar o conhecimento
A missão de democratizar o conhecimento de qualidade por meio dos
Moocs (os cursos on-line, abertos e gratuitos ofertados por
universidades de prestígio) ainda está por ser cumprida. Mesmo
oferecendo livre acesso ao conteúdo de qualidade a qualquer estudante
desde 2011 (ou com grande barulho em 2012), os Moocs ainda não
conseguiram levar o conhecimento para todos os extratos da população
mundial, especialmente aos mais pobres. Isso é o que mostra recente
pesquisa da Universidade da Pensilvânia publicada nesta semana. Segundo o
estudo, cerca de 80% dos usuários dos cursos massivos provenientes de
nações em desenvolvimento como Brasil, Rússia, China e África do Sul
compõem a elite econômica de seus países. São estudantes e profissionais
já formados que fazem parte de 6% da parcela mais rica de suas
populações e que fazem os cursos, em sua grande maioria, em inglês.
Só nos Estados Unidos, o berço dos Moocs, a grande maioria dos
usuários (mais de 80%) já possuem nível superior. Lá, o número total de
diplomados no país é bem mais modesto, não ultrapassa os 30%. Para
chegar a todos esses dados e conclusões, investigadores da Universidade
da Pensilvânia pesquisaram cerca de 35 mil estudantes provenientes de
mais de 200 países. Esse universo representa a quantidade de usuários
inscritos em 32 Moocs presentes no Coursera,
plataforma que possui a maior quantidade de estudantes cadastrados: são
mais de 5 milhões. O portal é bem mais representativo que seus dois
principais concorrentes: o Udacity, com 1,5 milhão de usuários, e o edX, com 1,3 milhões de pessoas cadastradas, segundo dados do The Wall Street Journal (WSJ).
Ao analisar o resultado das entrevistas, os pesquisadores conseguiram
definir um perfil do usuário de Moocs. Analisando o amostra de 35 mil
usuários, cerca de 57% eram do sexo masculino. Ao focar os países que
não pertencem à Organização para a Cooperação e Desenvolvimento
Econômico (OCDE), ou seja, os menos desenvolvidos, o número chega a
quase 65%. Analisando os usuários provenientes de países em
desenvolvimento como Brasil, percebeu-se que 63% deles possuem menos de
30 anos. Além disso, perto de 80% dos usuários possuem nível superior de
escolaridade e a principal razão que o fazem buscar os cursos on-line
tem a ver com o aprimoramento profissional de suas carreiras.
“Longe de realizar os grandes ideais dos seus defensores, os Moocs
parecem estar reforçando as vantagens daqueles que já ‘têm’, ao invés de
educar aqueles outros que ‘ainda não têm’”, afirma o autor do estudo
Ezequiel Emanuel ao WSJ.
Segundo o pesquisador, primeiro, é necessário melhorar o acesso à
tecnologia e a qualidade da educação básica, para que então os Moocs
“consigam cumprir com sua promessa” de democratização do conhecimento,
especialmente nos países menos desenvolvidos. Ao analisar o perfil de
usuários do Coursera, observa-se que 40% dos participantes da plataforma
provêm, exatamente, de países em desenvolvimento, como os BRICS (sigla
para Brasil, Rússia, China e África do Sul).
O gerente de projeto para iniciativas globais da Universidade da
Pensilvânia, Christensen Alcorn, também “culpa” a falta de acesso à
tecnologia pelos países menos desenvolvidos como o principal empecilho à
democratização dos Moocs. “Além disso, Muitas pessoas não concluíram
sequer níveis básicos de educação e instrução que os tornam menos
capazes de cursarem o nível universitário”, disse Alcorn ao portal Phill.
Ao serem consultadas pelos pesquisadores, as principais plataformas
que oferecem os Moocs e as instituições que produzem esses cursos
afirmam que ainda estão no estágio inicial do processo. Eles alegam que
ainda estão numa fase de testes da ferramenta e das possibilidades que a
tecnologia pode trazer em termos de melhoria no aprendizado. O fato é
que, a “elitização” dos Moocs não é apenas o único “problema”
diagnosticado pela pesquisa recente. Mesmo com a oferta cada vez mais
ampla de cursos por universidades de elite, como Harvard e Stanford,
além da tradução de cursos no idioma local e a criação de plataformas
nacionais como a da China, da França e do Reino Unido, a maioria dos estudantes cadastrados simplesmente abandonam o curso.
Segundo dados do site especializado em tecnologia Business Insider,
a taxa de abandono ultrapassa os 90% de usuários inscritos. Estima-se
que apenas 7,5% concluam os Moocs. Os dados ainda mostram que a maioria
dos usuários cadastrados em cursos disponibilizados em uma dessas
plataformas nem sequer chegam a finalizar a primeira parte do
treinamento. Um dos principais motivos, segundo a publicação, não é
mistério para ninguém. Aproveitando a novidade da emergência desse tipo
de curso, oferecido gratuitamente, muitos usuários não veem problema
algum em abandonar o Mooc tão logo surja algum “imprevisto”. Seja por
falta de tempo, de despreparo para essa nova forma de aprendizado ou
simplesmente desinteresse pelo curso logo após a inscrição.
Ciente dessa realidade, o Porvir publicou recentemente um guia que pode auxiliar o candidato a não desistir do Mooc, confira as dicas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário