Obama sacrifica a promoção da democracia por acordo com o Irã?
Atualizado em 20 de novembro, 2013
Negociações entre EUA e Irã marcam uma nova abertura entre os dois países
O presidente dos Estados Unidos,
Barack Obama, é mais conciliador com os líderes iranianos do que seu
antecessor. Alguns acreditam que sua abordagem em relação à Teerã, e à
promoção da democracia, é muito discreta.
Obama vem tentando negociar um acordo com o
presidente Hassan Rouhani, na esperança de retardar - ou interromper - o
programa nuclear iraniano.
"Estamos chegando perto de um primeiro passo que poderia parar o
programa nuclear iraniano", disse um alto funcionário do governo
americano.
Representantes do Irã e do grupo P5 +1, formado
pelos cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU (EUA,
Grã-Bretanha, França, Rússia e China) e Alemanha), estão reunidos nesta
semana em Genebra.
A fria relação entre EUA e Irã começa a amornar, e as negociações marcam uma nova abertura entre os dois países.
Mais de uma década atrás, o presidente George W
Bush disse que o Irã era parte de um "eixo do mal". Em 2006, ele ampliou
o apoio dos EUA a ativistas no Irã, na esperança que eles derrubariam
seu governo.
Foi uma "promoção da democracia feita com
esteroides", disse Thomas Carothers, do Fundo Carnegie, em Washington.
Já Obama, disse ele, "acredita que os Estados Unidos não devem ser muito
agressivos".
Por essa razão, Obama supervisionou as
negociações dos Estados Unidos com Rouhani e amenizou a campanha
americana pela democracia.
Muitas pessoas, dentro e fora do Irã, elogiaram
os esforços de Obama. "Isso não quer dizer que o regime (iraniano) seja
bom, mas faz sentido priorizar", disse Doug Bandow, pesquisador do
Instituto Cato, em Washington. "Lançar bombas sobre o Irã é uma
alternativa horrível."
Para Alireza Nader, analista da Rand Corporation, "a maioria dos
iranianos pró-democratização acha que esse é um esforço melhor realizado
pelo povo iraniano do que por uma potência estrangeira".
Mas nem todos apoiam a estratégia de Obama. O diplomata americano John Bolton escreveu em um artigo no Wall Street Journal que "Rouhani está brincando com Obama".
'Glasnost'
As diferenças entre os dois presidentes foram discutidas em um evento recente no Arquivo Nacional dos EUA, em Washington.
Para Bill Sweeney, diretor da organização
Fundação Internacional para Sistemas Eleitorais, os dois presidentes
compartilham objetivos comuns, apesar de seus estilos contrastantes:
"Ambos foram muito fortes no apoio pela promoção da democracia."
Em meados da década de 1980, Mikhail Gorbachov estava supervisionando glasnost,
uma política de abertura que iria transformar a sociedade soviética.
Poloneses realizaram eleições livres em 1989, e os húngaros abriram a
fronteira para o Ocidente.
Naquele ano, havia 69 democracias eleitorais de
um total de 167 países, segundo a Freedom House, organização
pró-democracia com sede nos EUA. Desde então, o império soviético se
desintegrou. Hoje, existem 195 países, de acordo com um relatório da
Freedom House, e 118 democracias.
Transições ainda são difíceis. E ninguém sabe
realmente por que elas acontecem ou o que faz uma nação autoritária se
tornar uma democracia. Enquanto isso, os Estados Unidos têm sido um
feixe de contradições.
Autocratas como aliados
No ano fiscal de 2012, o governo americano
gastou US$ 2,82 bilhões (cerca de R$ 6 bilhões) na promoção pela
democracia, diz a Freedom House. O dinheiro cai em uma categoria que
inclui o estado de direito e outros programas relacionados com a
democracia.
O valor tem oscilado ao longo dos anos, mas é
maior agora do que na época de Bush. No ano fiscal de 2006, o governo
gastou US$ 1,758 bilhões.
Desta forma Obama promoveu a democracia no
exterior. Mas, ao mesmo tempo, ele se manteve próximo de líderes
autoritários a fim de promover os interesses dos EUA. Seu governo tem
oferecido suporte limitado aos dissidentes no Barein, aliado americano
acusado de abusos generalizados dos direitos humanos.
No governo do presidente egípcio Hosni Mubarak,
ativistas receberam o apoio americano. Era um "trabalho decente e bem
intencionado", disse Carothers. No entanto, como ele ressaltou, "a
política geral dos Estados Unidos apoiou Mubarak".
"Glasnost iraniano"
Sweeney tentou ajudar os egípcios durante
eleições sob o regime de Mubarak. As cédulas eram armazenadas em caixas
de vidro, que às vezes eram quebradas. Funcionários corruptos chegavam
nas caixas e mudavam o resultado.
"Os votos não estavam seguros", disse Sweeney.
Seus funcionários conseguiram convencer autoridades egípcias a usar
caixas de plástico resistente, com "vários selos e fechaduras", disse.
Mas Mubarak ainda estava no comando, o que
significava que havia outros obstáculos para a realização de eleições
justas. Hoje o país caminha para uma nova fase.
Enquanto isso, os participantes do evento no
Arquivo Nacional disseram que estavam tentando ajudar as pessoas em
outros países a trabalharem por sociedades livres. Eles pareciam
esperançosos sobre o futuro - no Egito, no Irã e em outros países.
Alguns acreditam que Rouhani representa uma nova
forma de abertura - e vem à tona a pergunta de se um "glasnost
iraniano", como a jornalista da Radio Free Europe escreveu, poderia
surgir.
O caminho para a democracia é longo, Sweeney
disse, mas tem marcos importantes: "Há 30 anos o muro de Berlim ainda
estava de pé."
Negociações em Genebra
O líder supremo do Irã, aiatolá Ali
Khamenei, advertiu que seu país não recuará "nenhum passo" em seus
direitos nucleares, no momento em que Teerã volta a negociar, nesta
quarta-feira, seu pograma atômico com os EUA e outras potências, em
Genebra.
Khamenei disse que não vai intervir diretamente nas negociações, mas definiu "limites" aos representantes iranianos.
Do lado americano, o presidente Barack Obama instou senadores dos EUA a não impor novas sanções contra o Irã, dando espaço aos esforços diplomáticos.
Ele ressaltou, porém, que não sabe se será possível chegar a um acordo em breve.
Khamenei disse que não vai intervir diretamente nas negociações, mas definiu "limites" aos representantes iranianos.
Do lado americano, o presidente Barack Obama instou senadores dos EUA a não impor novas sanções contra o Irã, dando espaço aos esforços diplomáticos.
Ele ressaltou, porém, que não sabe se será possível chegar a um acordo em breve.
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