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sexta-feira, 15 de novembro de 2013

Com mais poderes, Maduro reforça estratégia para afastar risco eleitoral

Com mais poderes, Maduro reforça estratégia para afastar risco eleitoral


Atualizado em  15 de novembro, 2013
Presidente Nicolás Maduro usa uma metralhadora em exercício (foto: Reuters)
Manobra afastou deputada para possibilitar aprovação de "poderes especiais" para presidente

A três semanas das eleições para prefeitos que colocarão à prova a hegemonia do chavismo e a liderança do presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, a Assembleia Nacional concedeu "poderes especiais" ao presidente para governar por decreto durante um ano.
De olho nas urnas, Maduro diz que empreenderá uma cruzada contra a corrupção e criará mecanismos para conter a crise econômica que tem afetado a popularidade do governo e atingido diretamente os mais pobres, a base do chavismo.
Maduro diz que usará os poderes para limitar o lucro dos empresários em todas as áreas da economia e combater a escassez de produtos básicos e a especulação no câmbio do dólar.
A Lei Habilitante foi votada nesta quinta-feira com a aprovação de 99 votos de 165 deputados. Para aprovar o projeto de lei no Plenário, o chavismo - que detém 98 cadeiras no Parlamento - precisava de só um voto adicional para passar a medida.
O voto do chamado "deputado 99" veio após a suspensão da deputada ex-chavista María Mercedes Aranguren, acusada de corrupção. No seu lugar, assumiu o suplente governista Carlos Flores, que garantiu a maioria necessária para a aprovação da lei.
Na avaliação do analista político Gregory Wilpert, Maduro vê a lei habilitante como um caminho para tentar amenizar o descontentamento de alguns setores do chavismo com a crise econômica e evitar assim um resultado adverso nas urnas. De acordo com as últimas pesquisas, governo e oposição estariam empatados na disputa pelas prefeituras.
"Para não perder as eleições municipais, Maduro tem que utilizar todas as ferramentas possíveis para frear a inflação e a escassez. A Lei Habilitante lhe dá mais uma ferramenta para isso", afirmou Wilpert à BBC Brasil.
De acordo com o Banco Central da Venezuela, o índice de escassez de produtos básicos é de 22,4%, o mais alto dos últimos cinco anos.
Maduro adiantou que tomará uma série de medidas para estabelecer o controle de preços "justos". Emulando o estilo do líder Hugo Chávez, na semana passada, o presidente venezuelano ordenou a ocupação de uma rede de lojas de eletrodomésticos acusada de vender produtos com margem de lucro de até 1000%.
Uma loja chegou a ser saqueada. Os comerciantes foram obrigados a baixar os preços e vender os estoques. Logo depois, foi a vez de vendedores de autopeças, roupas e calçados serem fiscalizados e acusados por "usura". Desde então, os venezuelanos formam gigantescas filas do lado de fora de grandes lojas de eletrodomésticos para aproveitar a "promoção" determinada pelo governo.
"Estas medidas aumentam a popularidade de Maduro. A três semanas das eleições, provavelmente os candidatos do chavismo serão beneficiados", afirmou Wilpert. A seu ver, no entanto, a médio e longo prazo, essas medidas podem agravar ainda mais a crise econômica. "Já podemos ver, os bonds venezuelanos estão perdendo valor, o que significa que aumentará o custo do endividamento no futuro", acrescentou.
A câmara empresarial Fedecamaras advertiu que as medidas adotadas pelo Executivo provocarão "mais inflação, desabastecimento e desemprego".

Dólar paralelo

O economista Mark Weisbrot, especialista em América Latina do instituto americano Center for Economic and Policy Research, considera que Maduro terá a oportunidade de redesenhar a política econômica. Mas, adverte que o chavismo só conseguirá atingir benefícios eleitorais com seus "poderes especiais" se o Executivo adotar medidas "urgentes" para combater a inflação e a escassez de alimentos por meio de importações.
A seu ver, a primeira medida deve ser conter a alta do mercado paralelo do dólar vendido a sete vez mais que o valor oficial da moeda americana. "O governo pode mudar o preço do dólar no mercado paralelo vendendo mais dólares, como já foi feito no passado. Isso é uma bolha. Quando descobrirem que o dólar está supervalorizado, vão acabar vendendo e contribuindo para a queda dos preços", afirma Weisbrot.
O mercado paralelo do dólar é apontado por especialistas como o principal fator de incremento da inflação, que já alcança 54%, a mais alta da América Latina.
Para adotar as medidas sugeridas pelo CEPR, no entanto, o governo teria que converter suas reservas em ouro em divisas, medida que não é bem vista entre os economistas do governo.
Outro elemento que desfavorece Maduro em meio à crise é que ele não pôde herdar de Hugo Chávez o chamado "efeito teflón": em 14 anos de chavismo, a população atribuía os problemas do país ao "governo", nunca responsabilizavam diretamente a Chávez.
A situação agora mudou. Sem poder imprimir uma característica própria de governo, o presidente venezuelano se mantém à sombra do líder bolivariano. Preocupado com o descontentamento provocado pela crise, Maduro aposta em reforçar a imagem do ex-presidente como catapulta eleitoral. O dia 8 de dezembro, data do pleito regional, foi chamado por Maduro de "dia de lealdade a Chávez".

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