Provocação espanhola no País Basco
Provocação espanhola resulta em prisão de 18 membros de grupo de direitos humanos no País Basco
02/10/2013
Raphael Tsavkko Garcia
Em
mais uma demonstração de força colonial, o governo espanhol lançou uma
nova campanha de perseguições e ilegalizações contra organizações
bascas, chegando ao ponto de ameaçar até mesmo representações políticas
legais e respaldadas por amplos espectros da população basca, como o
partido Sortu.
No dia 30 de setembro, 18 membros
da organização Herrira foram presos nas 4 regiões históricas bascas,
Álava, Guipuzkoa, Bizkaia e Navarra acusados de "enaltecimento ao
terrorismo". O grupo, fundado ha pouco mais de um ano, trabalha em prol
dos direitos humanos e dos presos políticos bascos, ou seja, daqueles
presos - muitos torturados - pela Espanha, dispersos por cadeias em
outras e distantes regiões, impedindo visitas familiares, sob acusações
de pertencer à ETA ou de a enaltecerem.
Logo após
as prisões, o ministro do interior espanhol, Jorge Fernández Diaz,
anunciou para redes de televisão que "um tentáculo da ETA" havia sido
cortado para, no dia seguinte, em tom de desmentido, declarar que "a ETA
já não existe e não voltará a cometer atentados".
Tal
declaração ou declarações claramente opostas causaram revolta em parte
da população basca, que exige o fim da perseguição política espanhol a
organizações de solidariedade bascas.
A ETA não
comete um atentado ha pelo menos 4 anos, tendo dado passos consistentes
no caminho da resolução do conflito, subscrevendo a acordos políticos
junto a diversas outras organizações da sociedade basca e anunciando
claramente sua intenção de por fim à luta armada, esperando apenas um
gesto por parte do governo espanhol - dos pós-franquistas do PP, Partido
Popular - para sua dissolução.
O governo
espanhol por sua parte se recusa sequer a reconhecer a ETA como ator,
exigindo seu fim unilateral e sem aceitar qualquer condição para tal. O
que, para muitos, soa como provocação.
Não é de
hoje que o termo "tudo é ETA", usado com gosto tanto por lideranças do
PP quanto do PSOE, se encaixa como uma luva nas políticas repressivas
espanholas. A ETA tornou-se, já ha tempos, a desculpa ideal para sufocar
o movimento nacionalista basco e a nova onda de prisões vem em um
momento em que a Cataunha dá passos largos no caminho de sua soberania
que poderia vir a ser seguido pelo País Basco.
A
ETA, enfim, acaba se tornando o instrumento preferencial da Espanha na
legitimação da repressão, ao passo que tal repressão faz apenas aumentar
a revolta. Não é fácil compreender, então, o que leva a Espanha a
insistir nessa via, a não ser a compreensão do passado recente do país,
onde a repressão era a única lei.
A Espanha
jamais passou por um processo de reconhecimento de seu passado. Os
crimes de ontem foram esquecidos ou perdoados. Assassinatos, torturas e
desaparecimentos, comuns mesmo após o franquismo, continuaram a ser
ignorados sempre que as vítimas eram bascas (ou catalãs, galegas...) e
isto acabou por criar o clima atual de medo, repressão e constante
revolta.
Logo, a declaração de Fernandez Diaz
sobra a ETA existir e não existir não surpreende, mas apenas retrata a
situação onde é preciso acalmar a população espanhola com bravatas de
que está tudo sob controle, mas aterrorizar a população basca e ampliar
as investidas violentas contra ela em um momento em que o processo de
paz caminha a passos largos - por iniciativa única e exclusiva da
cidadania basca e em um processo interno de reconhecimento e perdão.
Os
18 membros da Herrira foram presos e tiveram suas sedes devassadas em
uma decisão política, referendada por um Tribunal Constitucional de
maioria conservadora e alinhada aos interesses do atual governo e com
requintes de crueldade e provocação, visto que a ação foi realizada em
sua maioria pela Guarda Civil Espanhola, quando a Ertzaintza - polícia
regional basca - teria total capacidade de executar as ordens de prisão.
Mas
é muito mais cinematográfico e manda uma mensagem muito mais poderosa
usar a odiada Guarda Civil em uma ação política contra o processo de paz
no País Basco.
E a ação foi vista por lideranças
políticas, como Paul Rios (Lokarri), Oskar Matute (Alternatiba), dentre
outros, como líderes do PNV e mesmo o Lehendakari (presidente regional)
Iñigo Urkullu, como um passo atrás no processo de paz. Como uma ação
política e absurda que visa apenas aterrorizar a população basca e
provocá-la a reagir e implodir todo o diálogo que vem sendo feito entre
diferentes autores e partidos ao longo dos últimos anos.
A
paz não interessa a Espanha, pois a paz pode levar a uma união de
forças soberanistas como na Catalunha que leve à dissolução do Estado
Espanhol como conhecemos.
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