O Brasil e as "potências emergentes"
José Luís Fiori* - 23/10/2013
Considerar a China uma "potência
emergente" é no mínimo um descuido etnocêntrico ou um grave erro
histórico; mas no caso da Rússia, é uma tentativa explícita de diminuir a
importância de uma nação que assombra os europeus, desde que os
soldados de Alexander Nevsky derrotaram e expulsaram do território
russo, os cavaleiros teutônicos germânicos e suecos, na famosa Batalha
do lago Chudskoie, em 1242. E que no século XX alcançou em poucas
décadas a condição de segunda maior potência econômica, militar e
atômica do mundo. Apesar disto, se tornou um lugar comum colocar esses
dois países na categoria das "potências emergentes", ao lado da Índia e
do Brasil, e a própria África do Sul acabou sendo incluída na produção
midiática do Brics
A somatória simples indica que o peso
demográfico e econômico desses cinco países é considerável. Juntos,
governam cerca de 3 bilhões de seres humanos, quase metade da população
mundial, e desde 2003 o crescimento do grupo representou 65% da expansão
do PIB mundial. O produto interno bruto desses países já é de cerca de
U$ 29 trilhões, ou seja, 25% do PIB mundial, e já é superior ao dos EUA,
e da União Europeia, tomados isoladamente, pela paridade do "poder de
compra".
A formação de um grupo de cooperação diplomática e econômica, e a existência de um fluxo comercial e financeiro significativo dentro deste grupo de países é um fato novo e pode vir a ser a base material de algumas parcerias setoriais e localizadas entre todos ou alguns deles. Mas não é suficiente para justificar uma "aliança estratégica" entre estes cinco países que ocupam posição de destaque nas suas regiões pelo seu tamanho, território, população e economia, mas são muito diferentes do ponto de vista de sua inserção internacional, geopolítica e econômica.
A formação de um grupo de cooperação diplomática e econômica, e a existência de um fluxo comercial e financeiro significativo dentro deste grupo de países é um fato novo e pode vir a ser a base material de algumas parcerias setoriais e localizadas entre todos ou alguns deles. Mas não é suficiente para justificar uma "aliança estratégica" entre estes cinco países que ocupam posição de destaque nas suas regiões pelo seu tamanho, território, população e economia, mas são muito diferentes do ponto de vista de sua inserção internacional, geopolítica e econômica.
Logo depois da dissolução da União
Soviética, e durante toda a década de 90, muitos analistas vaticinaram o
fim da grande potência eurasiana. Mas a Rússia já foi destruída e
reconstruída muitas vezes por meio da sua história milenar. Por sua vez,
China e Índia controlam um terço da população mundial, possuem 3.200
quilômetros de fronteiras comuns, possuem arsenais atômicos e sistemas
balísticos de longo alcance, e já se enfrentaram em várias guerras.
Brasil tem potencial de projeção internacional de sua influência maior que o dos africanos, dos russos e dos asiáticos
Dentro do xadrez geopolítico asiático,
China e Índia disputam várias zonas de influencia sobrepostas, e possuem
algumas alianças regionais antagônicas. Por sua vez, Brasil e África do
Sul compartem com os gigantes asiáticos o fato de serem as economias
mais importantes de suas respectivas regiões e de serem responsáveis por
uma parte expressiva do produto e do comércio da América do Sul e da
África.
Mas os dois países não têm disputas territoriais com seus vizinhos, não enfrentam ameaças externas imediatas a sua segurança e não são potências militares relevantes. Mesmo assim, o Brasil é mais extenso, populoso, rico e industrializado do que a África do Sul, dispõe de recursos estratégicos, tem capacidade para ser auto-suficiente do ponto de vista alimentar e energético e possui uma importância e uma projeção regional, política e econômica dentro da América do Sul, muito maior do que a da África do Sul dentro do continente africano. E por isto também, o Brasil também tem, no médio prazo, um potencial de expansão pacífica e de projeção internacional de sua influência muito maior que a dos africanos, e talvez, mais desimpedida ou desbloqueada do que a dos russos e dos asiáticos.
Mas os dois países não têm disputas territoriais com seus vizinhos, não enfrentam ameaças externas imediatas a sua segurança e não são potências militares relevantes. Mesmo assim, o Brasil é mais extenso, populoso, rico e industrializado do que a África do Sul, dispõe de recursos estratégicos, tem capacidade para ser auto-suficiente do ponto de vista alimentar e energético e possui uma importância e uma projeção regional, política e econômica dentro da América do Sul, muito maior do que a da África do Sul dentro do continente africano. E por isto também, o Brasil também tem, no médio prazo, um potencial de expansão pacífica e de projeção internacional de sua influência muito maior que a dos africanos, e talvez, mais desimpedida ou desbloqueada do que a dos russos e dos asiáticos.
Nas próximas décadas, o mais provável é
que a Rússia tente reverter suas perdas depois do fim da Guerra Fria, e
se proponha um imediato retorno ao núcleo central das grandes potências,
deixando de ser "potência emergente". Enquanto a China tende a se
afastar de qualquer aliança que restrinja sua ação no tabuleiro
internacional, já na condição de quem participa diretamente da gestão
econômica do poder mundial. Por sua vez, a Índia não tem nenhuma
perspectiva nem projeto expansivo global e deve se dedicar cada vez mais
ao seu "entorno estratégico", onde a expansão da China aparece como sua
principal ameaça regional.
Comparado com estes três "países continentais", o Brasil tem menor importância econômica do que a China e muito menor poder militar do que a Rússia e que a Índia. Mas ao mes mo tempo, o Brasil é o único destes países que está situado numa região onde näo enfrenta disputas territoriais com seus vizinhos e, por isto, é o país com maior potencial de expansão pacífica, dentro da sua própria região. Por último, o Brasil, mais do que a África do Sul, deve manter e ampliar sua posição de Estado relevante, dentro do sistema mundial, mas com pouca capacidade ainda de projetar seu poder fora do seu "entorno estratégico" durante as próximas décadas.
Comparado com estes três "países continentais", o Brasil tem menor importância econômica do que a China e muito menor poder militar do que a Rússia e que a Índia. Mas ao mes mo tempo, o Brasil é o único destes países que está situado numa região onde näo enfrenta disputas territoriais com seus vizinhos e, por isto, é o país com maior potencial de expansão pacífica, dentro da sua própria região. Por último, o Brasil, mais do que a África do Sul, deve manter e ampliar sua posição de Estado relevante, dentro do sistema mundial, mas com pouca capacidade ainda de projetar seu poder fora do seu "entorno estratégico" durante as próximas décadas.
Somando e subtraindo, a categoria das
"potências emergentes" pode gerar iniciativas diplomáticas importantes,
mas o mais provável é que este grupo perca coesão e eficácia, na medida
em que o século XXI for avançando, e que cada um destes cinco países
seja obrigado a tomar o seu próprio caminho, mesmo na contramão dos
demais, na luta pelo poder e pela riqueza mundial.
Nenhum comentário:
Postar um comentário