Guerra na Síria eleva tráfego em águas vigiadas por brasileiros no Líbano
Atualizado em 31 de outubro, 2013
ONU teme que litoral libanês seja usado por contrabandistas de armas.
Os dois anos de crise e guerra civil na Síria
provocaram um aumento aproximado de 25% no tráfego de embarcações na
costa do Líbano.
A região já foi usada como porta de entrada de
armas ilegais para rebeldes sírios e é patrulhada por uma força naval da
ONU liderada pelo Brasil.
O contra-almirante Joése de Andrade Bandeira Leandro disse à BBC
Brasil que, nos últimos dez meses, uma boa parte dos navios cargueiros
que costumavam se destinar à Síria passou a operar nas águas libanesas
em busca da proteção da esquadra das Nações Unidas. Ele concedeu
entrevista por telefone, a bordo da fragata brasileira União.
"Houve uma transferência (dos navios destinados à
Síria) para portos libaneses. Depois que a carga chega em portos
libaneses ela é transferida para a Síria por via terrestre", afirmou
Leandro. A costa da Síria é a vizinha do norte da costa libanesa.
Entre os principais produtos que seguem essa rota estão o combustível e derivados de petróleo.
Para lidar com o novo fluxo, o porto de Beirute,
o principal do país, construiu um novo setor de carga e descarga –
inaugurado na semana passada pelo presidente Michel Sleiman. A
capacidade do porto para lidar com contêineres subiu de um milhão de
unidades por ano para 1,5 milhão.
Enquanto isso, analistas calculam que o trânsito de mercadorias em portos sírios tenha caído cerca de 70%.
Esquadra
A esquadra da ONU é formada por nove navios de
guerra e quatro helicópteros do Brasil, Alemanha, Bangladesh, Grécia,
Indonésia, Itália e Turquia. Ela é parte da Unifil, a missão de paz das
Nações Unidas no país.
Os navios patrulham uma faixa de 100 quilômetros
mar adentro a partir da costa libanesa (que tem 220 quilômetros de de
extensão). Seu objetivo é impedir o contrabando de armas ilegais por via
marítima para grupos radicais libaneses e treinar a marinha libanesa
para exercer essa tarefa no futuro.
Uma das maiores preocupações da ONU é que,
acobertados por esse fluxo maior de navios, contrabandistas tentem usar o
litoral do país para levar armas à Síria.
Duas grandes apreensões de armamentos destinados
aos rebeldes, opositores de Bashar al-Assad, foram apreendidos no ano
passado pela esquadra antes de serem desembarcados no norte do Líbano.
Leandro afirmou que o trânsito mais intenso não
prejudicará a fiscalização dos navios. De acordo com ele, desde 2011,
quando o Brasil assumiu o comando da Força Tarefa Marítima da ONU, cerca
de 19.250 tripulações de navios foram interrogadas em alto mar e 2.500
dessas embarcações tiveram suas cargas inspecionadas.
"Essa interrogações visam coletar todos os dados
de navios mercantes transitando nessa área, seja entrando ou saindo de
portos libaneses ou simplesmente transitando pela área", disse Leandro.
Mas se a situação de segurança está sob controle no mar, o dia a dia começa a ficar cada vez mais complicado em solo libanês.
Nesta semana, tropas do Exército do país foram
envidas à cidade nortista de Trípoli, para onde a guerra civil síria
começa a se espalhar. Grupos favoráveis e contrários ao regime de Assad
estão se enfrentando em violentos combates urbanos.
Por enquanto não há planos conhecidos do governo
brasileiro para ampliar sua participação na missão de paz do Líbano com
tropas terrestres. A contribuição do país se restringe ao Estado Maior
da Força Tarefa Naval e à fragata União (com uma tripulação aproximada
de 300 marinheiros).
Dissuasão
O contra-almirante brasileiro atribuiu parte do
aumento do tráfego marítimo no Líbano aos resultados positivos da missão
de paz no país.
"Eu acho que é um resultado de uma percepção da
segurança marítima nessa área de operações. Porque os navios que operam
nessa área são interrogados pelos navios da Força Tarefa Marítima".
"O trabalho desenvolvido pela esquadra permite
que as companhias operem com segurança nessa área que envolve todo o
litoral libanês", disse.
Nenhum comentário:
Postar um comentário