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quinta-feira, 10 de outubro de 2013

Fórum revela cenário em que uso do carro está saturado em SP; veja soluções

Fórum revela cenário em que uso do carro está saturado em SP; veja soluções


GUSTAVO MIRANDA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA - 10/10/2013

Após dois dias de debates, o Fórum de Mobilidade Urbana promovido pela Folha, no Tucarena, em São Paulo, aponta para um cenário: a adoção de um sistema de transporte que privilegie o carro está saturada na capital paulista.
Ao todo, 20 especialistas, entre engenheiros, arquitetos, políticos e jornalistas, participaram do evento, que deixa como legado uma série de sugestões para o enfrentamento dos problemas relacionados à mobilidade urbana numa metrópole como São Paulo.
E esse ambiente é realmente plural. O prefeito Fernando Haddad (PT), por exemplo, defendeu as faixas exclusivas de ônibus, cuja implantação foi intensificada após os protestos de junho -- a cidade atingiu 224,6 km de faixas na gestão do petista. "Elas [faixas] vieram para ficar e vão redesenhar a paisagem de São Paulo", disse.
Já o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), manteve a aposta estadual na ampliação da malha metroviária de São Paulo. Para ele, o metrô é insuficiente na cidade e a meta é chegar a 200 km de linhas - hoje, são 74,3 km. "É pouca linha, é preciso estender rapidamente". O metrô transporta 7,3 milhões passageiros por dia -- em todo o Brasil, são 9 milhões.
O secretário estadual de Transportes Metropolitanos, Jurandir Fernandes, seguiu o chefe e também afirmou que é preciso reduzir o número de carros nas vias, dando mais flexibilidade aos horários de trabalho, reduzindo as grandes viagens internas e dando preferência a transações bancárias via internet. "Esse é um processo que passa por uma grande mudança de comportamento", destacou.
TRÂNSITO
Nos painéis compostos por arquitetos e engenheiros, na quarta-feira (9) e nesta quinta (10), foi defendido que o paulistano deve deixar mais o carro em casa. Ao falar no painel "Eficiência no Transporte Urbano", o ex-prefeito de Curitiba e ex-governador do Paraná, Jaime Lerner, defendeu esse hábito: "o carro vai ser o cigarro do futuro."
Como alternativa, o curitibano apresentou o seu BRT (Bus Rapid Transit, em vigor há mais de 30 anos na capital paranaense). "Precisamos dar aos ônibus e táxis a mesma mobilidade do metrô e melhorar a integração do sistema como um todo", frisou.
Uma das soluções mais radicais defendidas no evento foi a adoção da cobrança de um pedágio na região central da cidade. Na opinião do professor da FEA-USP e membro do Conselho da Cidade, Paulo Feldmann, a cobrança de R$ 10 de pedágio na região central seria o suficiente para gerar um aumento de R$ 3 bilhões na receita anual da capital e diminuir o caos no transporte da cidade.
Feldmann citou o exemplo de Londres como uma ótima saída para a cidade. "Lá o pedágio urbano funciona bem e custa cerca de R$ 36 por carro", disse.
Quem tem opinião semelhante é o arquiteto e urbanista Cândido Malta. Para ele, não existe mais espaço para o investimento em grandes obras, como o complexo viário Jacu-Pêssego.
Malta é favorável a uma estratégia que alie pedágio urbano e uma malha de microônibus auxiliar. "É necessário fazer um planejamento realista e não esses sonhos que dizem que farão tudo e enganam a população", afirmou.
OUTRAS ALTERNATIVAS
O vereador José Police Neto (PSD) defendeu a construção de ciclovias em São Paulo e o compartilhamento das vias na cidade. Segundo ele, 85% da ruas paulistanas são locais que têm velocidade máxima de 30 km/h. Tais ruas poderiam receber ciclovias compartilhadas.
O vereador defende a mudança do comportamento dos motoristas. "A bicicleta deve funcionar como um meio de transporte integrado com outros modais. O motorista deve proteger o ciclista, não atacá-lo", disse.
PLANO DIRETOR
Há quem defenda que o futuro da mobilidade urbana passe pelos desdobramentos do novo Plano Diretor, com o desenvolvimento de um uso correto do solo e da preocupação com a questão social da habitação.
A professora da FAU-USP Regina Meyer, por exemplo, defende que a cidade precisa ser vista sob a ótica do conceito de cidade compacta. "Precisamos trazer gente para a infraestrutura", diz. Para ela, "o zoneamento obrigou a locomoção das pessoas."
Para Raquel Rolnik, professora da FAU-USP e colunista da Folha, é preciso habitar as regiões com infraestrutura. "Dá para ter áreas heterogêneas do ponto de vista social". Para ela, ricos e pobres precisam "conviver dentro das mesmas possibilidades que a cidade oferece", diz.

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