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segunda-feira, 7 de outubro de 2013

A mobilidade e as cidades: as lições de Bogotá

A mobilidade e as cidades: as lições de Bogotá


06/10/2013

DC 2013-09-28 As licoes de Bogota

Veja o artigo completo enviado para o Fronteiras do Pensamento, do qual participará o ex-prefeito de Bogotá Enrique Peñalosa. A Versão reduzida foi publicada no caderno Cultura do periódico Diário Catarinense em 28 de setembro de 2013.

A Mobilidade e as Cidades

Em pouco tempo, ele resgatou a autoestima dos habitantes da capital colombiana, então preocupada com a onda de violência que assolava o país. Enrique Peñalosa foi um dos responsáveis por uma série de medidas que tiveram reflexos importantes na mobilidade, cultura, segurança, lazer e educação de Bogotá. Tudo isso, ao priorizar os espaços públicos e equilibrar as oportunidades às pessoas socialmente mais vulneráveis.
Contra todos os sentimentos do medo que imperava no país, conseguiu-se trazer as pessoas de volta às ruas. E começou investindo nas formas mais banais e eficientes para se deslocar: o caminhar, o pedalar e o transporte coletivo.
A ocupação do espaço público exigiu uma postura política arrojada, mas coerente. O espaço para o automóvel individual foi diminuído, as calçadas alargadas e ciclovias e corredores de ônibus construídos. A mobilidade urbana, por fim, melhorou.
As cidades catarinenses podem aprender muito com o passado de Bogotá. Ele nos leva a refletir a consequências das ações do gestor público e a necessidade de priorização de determinados setores para se gerar uma verdadeira isonomia.
A segurança de passeios largos e bem iluminados levou os colombianos a redescobrirem o andar. Locais antes sujos e mal frequentados passaram a ganhar vida. O comércio embelezou-se e tornou-se aprazível, colaborando para afastar a violência. As calçadas são para todos, não importando classe social ou deficiência.
DC 2013-09-18 fig.1
Aqui, ainda estamos carentes do mais básico: acessibilidade. E olha que Florianópolis tem um dos grupos de trabalho mais importantes do país, o Floripa Acessível, cujos estudos embasaram a legislação nacional. Na capital catarinense, quase nenhuma calçada possibilita a mobilidade de pessoas com deficiência. E são justamente elas as quem têm mais dificuldades para usufruir a cidade. Semáforos sonoros, pisos guias e táteis bem dispostos, que não joguem as pessoas aos obstáculos urbanos, rampas largas e com baixa inclinação, ônibus com elevadores, são todas ações simples e que colaboram para dar dignidade à cidade.
Em três anos, foram construídos 280km de pistas cicláveis decentes em Bogotá. O número de viagens por bicicleta multiplicou-se por 10. O alvo eram os cidadãos do futuro: as crianças e adolescentes. A lógica por trás disso é fácil: o caminhar e o pedalar são as únicas formas de mobilidade individual para eles – e para 70% da população mundial! A bicicleta é a forma mais eficiente energeticamente para se deslocar. De acordo com a pesquisadora Carme Miralles-Guasch, da Universitat Autònoma de Barcelona, que esteve recentemente em Florianópolis, se considerarmos os custos temporais envolvidos direta e indiretamente nos deslocamentos, hoje, com toda a modernidade tecnológica dos veículos, ainda não conseguimos superar a velocidade média de uma bicicleta. Ela ainda faz uma ressalva: “Tempo é o nosso bem mensurável mais valioso! É o único que não conseguimos reaver de forma alguma”.
A política de transportes local pode ser um dos geradores de exclusão social, ao dificultar ou mesmo impossibilitar o acesso universal aos ambientes de aprendizado, cultura, trabalho e lazer. Uma rede de transportes deve prever a disponibilidade de diferentes formas de deslocamento. Caso contrário, o sistema colapsa. Como bem lembra Peñalosa, com o êxito econômico apenas uma coisa piora: a mobilidade, desde que ela esteja baseada preponderantemente no automóvel particular. São exatamente os congestionamentos crescentes que nos demonstram que a política pública foi insuficiente para equacionar corretamente o direito de acessar a cidade. Os incentivos à compra de veículos novos estão sendo tardiamente gestados com as políticas voltadas à mobilidade. É preciso considerar esta de maneira holística, como um todo, sem deixar de lado o planejamento urbano. Considerar, por fim, as redes de transporte coletivo – terrestre, ferroviário e/ou aquático – como sistemas integrados, acessíveis e interligados à uma rede cicloviária e pedestrial.
Fabiano Faga Pacheco*
* O autor é membro da União de Ciclistas do Brasil (UCB) e da Associação dos Ciclousuários da Grande Florianópolis (ViaCiclo). Atualmente é secretário da Comissão Municipal de Mobilidade Urbana por Bicicleta de Florianópolis (Pró-Bici).

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