Peça leva público ao futuro e mostra desintegração da União Europeia
Atualizado em 19 de setembro, 2013
Na mostra ficcional, o mundo está em 2060, após a Terceira Guerra e o fim da UE
O ano é 2060. Em um museu, os
visitantes se deparam com relíquias, mapas e reconstituições que contam a
história da União Europeia (UE), desintegrada em 2018 após o
ressurgimento de uma onda de nacionalismo em vários países do bloco que
veio à tona com a grave crise econômica.
Essa visita ao museu é a experiência vivida pelos espectadores de A Casa da História Europeia no Exílio ("Domo de Europa Historio en Ekzilo" no original, em esperanto), uma "peça" sem atores na qual o público é levado ao futuro.
A ideia é do diretor de teatro belga Thomas Bellinck, que queria imaginar como a UE será vista no futuro.
"Como artista, sempre busco uma nova maneira de
contar uma história. Tive essa ideia durante uma visita ao Museu do
Teatro de Riga (Letônia). Eu era o único visitante. O edifício parecia
estar em reforma há anos e havia coisas amontoadas que não estava claro
se faziam parte da exposição ou não", contou em entrevista à BBC Brasil.
"Na minha ficção, estamos em 2060 e o museu,
meio abandonado, está em constante reforma, em um prédio meio destruído
depois da Terceira Guerra Mundial, quando ninguém mais está interessado
na UE".
Relíquias da atualidade
Para transmitir essa sensação, Bellinck aproveitou a estrutura de uma
escola abandonada em Bruxelas, um edifício dos anos 1960 com salas
estreitas, escuras e empoeiradas. Ele escolheu o esperanto como língua
para todas as sinalizações do local.
A visita é individual e os visitantes são
obrigados a esperar sua vez em uma vetusta sala de espera. Na parede do
vestíbulo, um amarelado mapa da União Europeia após sua última suposta
ampliação, em 2017, quando a Escócia passou a ser o 33º membro do bloco.
No museu, relíquias que mostram como teria sido a
vida, o modo de pensar e o funcionamento da "antiga UE": um típico
quarto de imigrantes ilegais, cartazes extremistas, uma sala repleta de
cartões de visitas de lobistas, um espremedor de cítricos na forma da
cabeça da chanceler alemã, Angela Merkel, uma foto do último líder da
extinta União Soviética, Mikhail Gorbatchev, como garoto-propaganda da
grife de luxo Luis Vuitton.
Com exceção dos mapas, todos os objetos reunidos no local são reais ou uma reprodução caricatural da realidade.
Ao final da exposição, um cartaz explica que
antes de sua dissolução, entre 2009 e 2015, a UE teria vivido uma onda
de suicídios provocada pelas "medidas draconianas de austeridade que
cobraram um pesado tributo" para salvar o bloco da crise econômica.
A mostra termina em um sala escura, onde a única
luz que entra por uma pequena janela ilumina uma carta escrita pelo
criador do museu fictício a um desses "suicidas da crise", uma pessoa
real, pai de um grande amigo de Bellinck, falecido em 2012.
O texto lamenta que o homem tenha sido "vítima
de uma sociedade que precisa ser reformada". O artista deseja que ele se
esteja melhor, "em um lugar sem bancos ou empréstimos".
'Brincar com a realidade'
Desde sua concepção até a instalação dos objetos, o projeto levou um ano para ser concluído.
Bellinck mergulhou na leitura de livros sobre a UE e entrevistou
deputados europeus, lobistas, cientistas políticos, historiadores e uma
agência belga de prevenção de suicídios.
"Não quero dizer que eu sei tudo sobre a UE. Ao
contrário: tenho muitas questões e quero compartilhar isso com os
outros", afirmou à BBC Brasil.
É isso que ele faz de trás de um bar instalado ao final da exposição, onde recebe pessoalmente cada visitante.
"Dessa experiência, aprendi que nós, europeus,
não recebemos educação sobre a UE, não temos certeza de como ela
funciona. Por isso as pessoas saem dessa exposição sem saber o que é
real ou não. É divertido brincar com a realidade", contou ao servir uma
taça de vinho.
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