Às vésperas de uma guerra obscena
Os Estados Unidos querem ampliar seu poder geopolítico no Oriente Médio: eis o real motivo da escalada contra Damasco
03/09/2013
Tariq Ali
O
objetivo da “guerra limitada” organizada pelos EUA e seus vassalos
europeus é simples. O regime sírio estava lentamente restabelecendo seu
controle sobre o país, contra a oposição armada pelo Ocidente e seus
Estados tributários na região (Arábia Saudita e Qatar). Essa situação
exigia correção. Nessa deprimente guerra civil, era preciso fortalecer
militar e psicologicamente a oposição.
Desde
quando Obama afirmou que as armas químicas eram a “linha-limite”, era
claro que elas seriam utilizadas. Cui prodest? como costumavam perguntar
os romanos. Quem se beneficia? Claramente, não o regime sírio.
Há várias semanas, dois jornalistas do Le Monde
já tinham descoberto as armas químicas. A questão é: de fato foram
usadas, quem as lançou? O governo Obama e seus seguidores gostariam que
acreditássemos no seguinte enredo: Assad permitiu que os inspetores de
armas químicas da ONU entrassem na Síria; então, anunciou a chegada
deles lançando um ataque de armas químicas contra mulheres e crianças, a
mais ou menos 15 quilômetros do hotel onde estavam hospedados. Isso
simplesmente não faz sentido. Quem, então, cometeu a atrocidade?
No
Iraque, sabemos que foram os EUA a utilizar “fósforo branco” em
Fallujah, em 2004 (não havia “linhas-limites”, exceto aquelas traçadas
no chão por sangue iraquiano). Portanto, a justificativa é tão turva
quanto nas guerras anteriores.
Desde a invasão e
guerra no Iraque, o mundo árabe está dividido entre sunitas e xiitas.
Apoiando a invasão à Síria estão dois velhos conhecidos: Arábia Saudita e
Israel. Ambos querem o regime do Irã destruído. Os sauditas, por
disputas de facção; os israelenses, por estarem desesperados para acabar
com o Hezbollah. Esse é o grande objetivo que têm em mente e
Washington, após resistir por um tempo, está voltando a considerá-lo.
Bombardear a Síria é o primeiro passo.
Os
iranianos reagiram fortemente e ameaçaram retaliação apropriada. Pode
ser um blefe, mas o que isso revela é que até o novo líder “moderado”,
prestigiado pela mídia ocidental, assumiu posição não distinta à de
Ahmadinejad. Teerã compreende bem o que está em jogo e por quê. Cada uma
das intervenções ocidentais no mundo árabe e seus arredores tornou as
condições piores. Os ataques que estão sendo planejados pelo Pentágono e
suas filiais na OTAN provavelmente terão o mesmo padrão.
Enquanto
isso, no Egito, um Pinochet árabe está restaurando a “ordem” da velha
maneira violenta já consagrada e com o apoio dos líderes, ligeiramente
constrangidos, do conglomerado EUA/Europa.
Tariq
Ali é um escritor e ativista paquistanês. Escreve periodicamente para o
jornal britânico The Guardian e para a revista New Left Review
Publicado originalmente em London Review of Books.
Tradução: Vinícius Gomes
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