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sexta-feira, 9 de agosto de 2013

Quando vamos enfrentar os cartéis que tomaram conta de nossas cidades?

Quando vamos enfrentar os cartéis que tomaram conta de nossas cidades?


Há pouco mais de duas semanas a revista Isto É denunciou um esquema montado para desviar recursos das obras do metrô e dos trens metropolitanos de São Paulo há quase 20 anos. Uma das integrantes do esquema, a multinacional Siemens, assinou um acordo com o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), do Ministério da Justiça, a fim de obter imunidade civil e criminal para revelar como diversas empresas se articulavam num cartel para ganhar as licitações da área de transporte sobre trilhos, superfaturar preços e desviar recursos das obras para distribuí-los entre os envolvidos. Segundo a Isto É, apenas em contratos com governos de São Paulo, “duas importantes integrantes do cartel apurado pelo Cade, Siemens e Alstom, faturaram juntas até 2008 R$ 12,6 bilhões.”
Em casos como este, a imprensa costuma focar seus holofotes no envolvimento dos gestores públicos – no prefeito, governador, secretário ou funcionário envolvido no “esquema” – e suas ligações com partidos e eleições, engrossando o caldo da tese de que o problema das contratações públicas é a corrupção endêmica do Estado brasileiro. Entretanto, raramente se aborda como as empresas operam para combinar os esquemas e repartir entre si as obras e seus lucros. Cartéis de empresas que controlam a coleta e destinação do lixo, que prestam serviços de transportes ou que executam grandes obras públicas é o “arroz com feijão” da gestão das cidades brasileiras. Pude testemunhar pessoalmente como as empresas prestadoras de serviço combinam e distribuem as obras e lotes de concessões entre si – definindo de forma cartelizada os preços –; e quando o poder público, seja em que nível for, municipal, estadual ou federal, não se submete a esses esquemas, ou seja, não contrata de acordo com essas combinações, as empresas inviabilizam qualquer tipo de contratação. O lock-outse dá, por exemplo, sob a forma de boicote das licitações (que podem ser esvaziadas), de recursos no judiciário interpostos aos resultados das licitações, adiando indefinidamente o início das obras e a prestação dos serviços… E aí o gestor – ou responsável político – tem que responder para a população por que o lixo está acumulado no meio da rua, ou por que a anunciada nova intervenção não saiu até agora…
É verdade que repartir – com os gestores pessoalmente ou com fundos partidários – os lucros dos esquemas com as empresas tem sido a resposta predominante por parte do Estado, resposta que, além de perpetuar os esquemas, prejudica a população já que o superfaturamento significa um gasto maior, pago pelos cidadãos…
Como qualquer outro caso, obviamente, este escândalo nas contratações das obras do metrô e dos trens de São Paulo precisa ser apurado, os responsáveis punidos e os recursos públicos desviados têm que ser ressarcidos. No entanto, mais uma vez temos a chance de discutir – e a imprensa, no geral, se exime de fazer isso – como esse modelo tomou conta das contratações em nossas cidades e estados. Em algum momento teremos que enfrentar esta questão.

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