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quarta-feira, 7 de agosto de 2013

Com os investimentos elevados e o consumo reduzido, a China é como uma pirâmide que precisa expandir-se continuamente. Por Paul Krugman, do The New York Times

A bicicleta chinesa


Com os investimentos elevados e o consumo reduzido, a China é como uma pirâmide que precisa expandir-se continuamente. Por Paul Krugman, do The New York Times

por Paul Krugman, do The New York Times — publicado 07/08/2013

Shanghai
Shanghai, na China. Um enorme mercado de construção
Recentemente, eu me vi usando diversas metáforas para explicar mais ou menos as mesmas teses expostas em uma coluna que escrevi sobre a economia da China no início do mês de julho.
Uma delas era que, de certa maneira, a economia de alto investimento e baixo consumo da China é uma espécie de pirâmide. Os empresários chineses investiam furiosamente não para construir capacidade para servir aos consumidores, que não estavam comprando muito, mas para atender compradores de bens de investimento. Na verdade, investiam para se beneficiar do investimento futuro, acrescentando ainda mais capacidade. Haveria compradores finais para o que toda essa capacidade poderia produzir? Não está claro. Portanto, uma espécie de pirâmide.
Minhas preocupações também são de que a China não saiba desacelerar, que ela seja uma economia bicicleta, que cairá se parar de avançar. E, é claro, afirmei que ficar sem agricultores dispostos a aceitar baixos salários cria um muro. A bicicleta-pirâmide corre para um muro de tijolos. E o polvo fascista já despontou.
Suponha que aqueles de nós que nos preocupamos que a bicicleta-pirâmide da China atinja um muro de tijolos (ou, como sugeriram alguns leitores, um muro de BRICs) estejamos certos. O quanto o resto do mundo deveria se preocupar, e por quê?
Eu agruparia as respostas sob três cabeçalhos:
1 . Ligações “mecânicas” via exportações, são surpreendentemente pequenas.
2 . Preços das matérias-primas, que poderiam ser um negócio maior.
3 . Política e estabilidade internacional, a envolver alguns riscos sérios.
Sobre o primeiro: isto é o que muitas pessoas pensam imediatamente. A economia chinesa vacila, portanto, a China compra menos do resto do mundo. O resultado é uma recessão global. Ou talvez nem tanto.
Um pouco de matemática rápida, grosseira, mas que considero útil: em 2011, o PIB combinado do mundo, sem incluir a China, foi de pouco mais de 60 trilhões de dólares. Enquanto isso, as importações chinesas de bens e serviços foram de cerca de 2 trilhões, 3% do PIB do restante do mundo.
Agora, suponha que a economia da China experimente uma desaceleração de 5% em relação à tendência. As importações cairiam mais que isso: as estimativas típicas da “elasticidade de renda” das importações (a mudança porcentual de uma mudança de 1% no PIB, sendo as outras coisas iguais) são de aproximadamente dois. Então, poderíamos estar vendo uma queda de 10% nas importações chinesas, um choque adverso para o mundo de um décimo de 3%, ou 0,3% do PIB. Não é igual a zero, mas não é catastrófico.
Mesmo isso talvez seja um exagero, pois uma parte significativa das importações chinesas é de peças para suas exportações e não depende da demanda interna. Como eu disse, então, as ligações mecânicas através dos fluxos comerciais são relativamente pequenas, embora elas possam crescer muito para alguns vizinhos da China (mas seriam menores para os Estados Unidos).
Os preços das matérias-primas são uma história potencialmente maior. A China é um grande consumidor de matérias-primas. Um exemplo: responde por algo em torno de 11% do consumo mundial de petróleo. Uma queda acentuada na demanda chinesa poderia levar a fortes quedas nos preços das commodities. Por isso, o choque da bicicleta-pirâmide poderia ser um problema maior para os países exportadores de matérias-primas, quer vendam para a China, quer não, do que para os exportadores chineses.
Finalmente, a política de relações internacionais. Obviamente, não sou especialista, mas é evidente, primeiro, que o regime político da China é notável, mesmo diante dos anais da história, pela hipocrisia de sua posição: oficialmente, está construindo o futuro socialista, e na prática preside uma Era de Ouro capitalista. Então, de onde vem a legitimidade do regime? Principalmente do sucesso econômico. Se o sucesso falhar, o que acontece?
Estou surpreso de a econoblogosfera ainda não ter notado muito o interessante artigo de Keith Bradsher no New York Times sobre o renascimento da Rota da Seda, não com camelos a transportar seda chinesa, mas enormes trens de produtos eletrônicos.
Mas, realmente, se você se interessa por globalização, isso deve ser de grande interesse. A tecnologia do transporte é muito importante – as remessas em contêineres revolucionaram o mundo. E o renascimento dos trens é uma história interessante.

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