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sexta-feira, 12 de julho de 2013

Turma Fênix, para entender a Primavera Árabe e os seus desdobramentos no Oriente Médio

Democracia ou desordem? As quatro lições 

da Primavera Árabe

Atualizado em  11 de julho, 2013


Alguns analistas estão dizendo que tudo não passou de uma ilusão, que a Primavera Árabe - que parecia ser o prenúncio da democracia – não trouxe nada além de desordem.
Outros vão ainda mais longe e argumentam que árabes, ou muçulmanos, estão presos ao sectarianismo e à intolerância e que, por isso, são incapazes de promover a democracia.
Nenhum dos dois argumentos, no entanto, sobrevivem diante de uma análise mais criteriosa dos fatos.
É evidente que aqueles dias empolgantes de 2011 – quando os árabes tomaram as ruas e depuseram três ditadores – se transformaram agora em uma memória distante.
Muitos dos que participaram dos protestos há dois anos agora estão profundamente desiludidos. Suas vidas não melhoraram e, em muitos casos, pioraram.
Mas é necessário questionar o que deu errado, e tirar as lições corretas.

1. Nunca será fácil e rápido


A primeira lição é que a Primavera Árabe é um processo, e não um evento. Nunca ninguém poderia imaginar que os governantes árabes, e as elites que os sustentavam, um dia cairiam ou morreriam.

O papel do Ocidente sempre foi ambivalente. Ele sempre esteve nos dois lados – ansioso por encorajar as novas democracias, mas sem derrubar as velhas autocracias.
Em sociedades em que os movimentos democráticos eram suprimidos há muito tempo, não se pode esperar que a tolerância, o pluralismo e os direitos humanos aflorem do dia para noite.
Isso sempre será, nessa região, um longa luta geracional.

2. Não há um padrão único

A segunda lição - bastante óbvia mediante um rápido retrospecto - é que circunstâncias diferentes produzem resultados diferentes.
Na Tunísia, as forças armadas abandonaram o ditador - e, em seguida, saíram do cenário político.
No Egito, ocorreu o oposto. Por duas vezes, após protestos em massa, o Exército interveio e retirou um ditador do poder.
Mas ao assumirem o controle do país, os militares foram inábeis. A noção de que as Forças Armadas poderiam ser um instrumento para a democracia sempre foi suspeita.
Na Líbia – até agora um caso excepcional -, foi uma intervenção do Ocidente que virou o jogo, selando o destino do ditador Muammar Kadhafi.
Na Síria, o Ocidente está – com razão – relutante a agir, deixando para as forças locais e regionais resolver o conflito.
Não há um padrão fixo e, por isso, não há resultados uniformes.

3. Os muçulmanos estão em uma encruzilhada

Em toda a região, os muçulmanos puderam experimentar o que é ter poder, mas o usaram de formas diferentes.
Na Tunísia, eles entenderam que não poderiam governar sozinhos.
Já os muçulmanos egípcios cometeram o erro de se livrar brutalmente de seus oponentes.
Por outro lado, incapazes de se livrarem de uma paranoia enraizada, eles tendem a ver todos os opositores como conspiradores.
E, fatalmente, subestimaram o poder dos militares.
Mas é um erro achar que, regionalmente, os muçulmanos estão recuando. Eles estão na defensiva, mas longe de serem vencidos.
A questão é qual lição eles vão tirar dos eventos recentes.
Alguns muçulmanos egípcios podem chegar à conclusão de que não podem culpar os outros pelo próprio destino: afinal, tiveram sua chance de exercer o poder, mas perderam essa oportunidade.
Outros, no Egito, na Síria ou em outros locais, podem argumentar que a democracia não leva a nada, e que apenas por meio da violência podem alcançar a utopia islâmica.

4. O poder do povo não é suficiente

Por último, as revoltas árabes mostraram o poder, e também as limitações, dos protestos em massa.
A ideia do empoderamento popular criou raízes, alimentada pela TV por satélite e pelas mídias sociais. E nenhum país está imune a isso.
A Primavera Árabe pode não ter alterado o balanço de poder regional, mas derrubou as expectativas populares.
É uma revolução na mente.
Mas a dura lição é que, por si só, o poder popular não é suficiente.
O desafio a longo prazo é traduzir o protesto popular e o ódio do povo em uma mudança real e duradoura.
Se isso não acontecer, a promessa da Primavera Árabe não será concretizada.

* Roger Hardy é autor do livro 'A Revolta Muçulmana: uma Jornada pelo Islã Político' (2010). Ele é professor associado nas universidades London School of Economics e King's College, em Londres.

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