Os franceses, não tão "misérables"
Neste momento, existe muito menos sofrimento na
França do que nos EUA. Não deixe que aqueles rostos taciturnos o enganem
por Paul Krugman, The New York Times
—
publicado
24/07/2013
O colunista do New York Times
Roger Cohen escreveu recentemente uma bela coluna intitulada “O
glorioso mal-estar da França”. Ele defende, de modo impressionista, uma
tese que eu pretendia levantar em tom quantitativo: as coisas não estão
tão ruins na França como muitas reportagens na mídia britânica e
americana dão a entender. Sim, os franceses parecem taciturnos, mas os
franceses sempre parecem taciturnos. Não são do tipo “tenha um bom dia”,
mas isso não diz muito sobre a economia.
Embora você não pudesse
saber disso pelas coisas que lê nos Estados Unidos, de certa forma a
economia francesa ainda está se saindo melhor do que a nossa. O
economista Dean Baker citou um aspecto disso outro dia em seu blog: o
desemprego jovem. Sim, o índice de desemprego entre os jovens franceses é
muito maior que o dos jovens americanos. Mas, como indica Baker, a
fração de jovens desempregados é mais ou menos a mesma aqui e lá. Como
isso é possível? Porque muito menos estudantes de faculdade franceses
têm de buscar emprego, graças às bolsas de estudo vastamente mais
generosas.
Mas há uma comparação ainda mais surpreendente que aprendi
com Baker. Vamos não olhar para os índices de desemprego, passíveis de
ser distorcidos da maneira como acabamos de ver. Em vez disso, veja os
índices de emprego, a fração da população que está empregada. E divida-a
pela idade.
Os jovens franceses têm muito menos
probabilidade de estar trabalhando. Assim como os franceses mais velhos,
por causa das políticas que tornaram financeiramente atraente a
aposentadoria precoce. Mas na idade ideal de trabalho, surpresa! A
imagem do emprego francês, pelo menos até o fim do ano passado, era
significativamente melhor do que a nossa.
E lembre-se: isso em um sistema no qual
você terá muito menos sofrimento se, por acaso, ficar sem emprego. Neste
momento, existe muito menos sofrimento real na França do que nos EUA.
Não deixe que aqueles rostos taciturnos o enganem.
•
O economista Jared Bernstein escreveu
recentemente da Europa um comentário sobre a total indisposição dos
fazedores de políticas europeus a aprender com seus erros; chame isso de
“euroderp”. E é de fato uma coisa notável: apesar das evidências de que
a austeridade não funciona como anunciado, não houve basicamente
qualquer relaxamento da ortodoxia ou admissão de erro.
No percurso, Bernstein mencionou a
análise de multiplicadores de Blanchard-Leigh, em que os economistas
Olivier Blanchard e Daniel Leigh, do FMI, admitiram que o Fundo deixou
de avaliar quanto dano a austeridade causaria, porque subestimou os
multiplicadores em cerca de dois terços. E isso ilustra um ponto: a
diferença entre “urpar”, que é perdoável, e “derpar”, que não é.
Com “urpar”, quero dizer simplesmente
entender algo errado, e então admitir, com o surgimento de evidências,
que você realmente entendeu errado: “Urp! Foi um mau palpite!”
Obviamente, se alguém “urpa” o tempo todo, sua credibilidade diminui,
mas todo mundo o fará de vez em quando. “Urpar” é humano.
“Derpar”, por outro lado, significa que,
apesar das provas em contrário, você continua afirmando em alto som a
mesma coisa, sem se importar. Blanchard e Leigh “urparam”, mas não
“derparam”. Os inflacionistas, por outro lado, simplesmente continuam
“derpando”.
Algumas pessoas não parecem compreender a
distinção. Apontam erros que cometi no passado, principalmente meu mau
palpite sobre os déficits e taxas de juro em 2003. E dizem: “Você também
derpa!” Mas eu admiti ter sido um mau palpite e adaptei a minha análise
apropriadamente. Eu gostaria de ter acertado, mas todo mundo, com a
possível exceção do papa, “urpa” de vez em quando. Tudo o que posso
dizer é: tenho “urpado” menos que a maioria. E realmente me empenho
muito em não “derpar”.
•
Zachary Goldfarb, repórter do The Washington Post,
espantou-se em um recente artigo online com o fato de que, enquanto os
americanos usam cada vez menos transações em dinheiro, a quantidade de
moeda em circulação cresce. Por quê? Ele sugere ser isso motivado pelo
medo, preocupações com a estabilidade política e financeira.
Eu sugeriria uma explicação diferente. Os
motivos para ter dinheiro vivo, na forma de notas de 100 dólares,
existem há um bom tempo: em grande parte têm a ver com burlar o Fisco.
Com os juros perto de zero, o que mudou foi o custo de oportunidade de
deter dinheiro, que caiu muito.
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