A GEADA NEGRA NO PARANÁ – 18/07/1975
Foi no amanhecer de 18 de junho de 1975 que uma das geadas mais intensas do século passado reduziu a zero a área cultivada com café no Estado do Paraná. Em escala maior, o próprio Paraná nunca mais foi o mesmo. Aquela manhã fria, aliada a outros fatos ocorridos na mesma época, disparou uma série de transformações econômicas e demográficas que fizeram do Estado o que ele é hoje.
As estatísticas dão uma dimensão grandiosa dos eventos daquele dia. Na safra de 1975, cuja colheita já havia sido encerrada antes da geada, o Paraná havia colhido 10,2 milhões de sacas de café, 48% da produção brasileira. Era o maior centro mundial nessa cultura e tinha uma produtividade superior à média nacional. No ano seguinte, a produção foi de 3,8 mil sacas. Nenhum grão de café chegou a ser exportado e a participação paranaense na produção brasileira caiu para 0,1%.
Nos dias seguintes já começava a consolidar-se uma idéia de que o estrago seria duradouro. O governador Jayme Canet Júnior anunciava que o orçamento do Estado seria reduzido em 20% no ano seguinte.
O prognóstico dos especialistas era de que o prejuízo chegaria a Cr$ 600 milhões (o equivalente, pela cotação da época, a US$ 75 milhões), apenas nas lavouras de café. Outras culturas, como o trigo, também sofreram perdas importantes, de mais de 50%. Mas era o café que sustentava a economia do Paraná naquela época – uma situação que mudaria logo em seguida, já que os cafeicultores nunca mais se recuperariam desse impacto.
Em uma geração muita coisa pode mudar. Mas parece certo que a geada negra de 1975 foi um daqueles raros momentos em que um único fato é capaz de precipitar mudanças históricas. “É bem difícil imaginar como seria o Paraná hoje se a geada não tivesse ocorrido”, diz o agrônomo Judas Tadeu Grassi Mendes, que à época trabalhava na Secretaria de Agricultura do Estado e hoje é pró-reitor acadêmico do Centro Universitário FAE, em Curitiba. “O mais provável é que tudo o que aconteceu de 1975 para cá – a perda de importância da agricultura cafeeira, a supremacia da soja, o fortalecimento das cooperativas, a migração, a industrialização – tivesse lugar do mesmo jeito, mas não à mesma velocidade”, opina. Movida pelo vento frio da História, no entanto, a vida dos paranaenses nunca mais foi à mesma.
A geada negra de 1975, que mudou a história paranaense ao aniquilar a principal cultura agrícola existente no Estado, tornou a vida difícil para muita gente. Ao mesmo tempo, outros fatores surgiram para dar um empurrão extra. No oeste do Estado, a construção da usina de Itaipu obrigou pelo menos 8 mil agricultores a deixarem suas propriedades, gerando uma demanda por terra que não tinha como ser suprida na região. Ao mesmo tempo, culturas tradicionais no Estado, como o trigo e o algodão, sofriam com o clima e com a conjuntura econômica. Em escala menor, uma geada ocorrida em 1983 repetiu para os produtores de trigo o estrago que os cafeicultores haviam sentido oito anos antes.
Produtores de lugares como Cornélio Procópio, Maringá, São Miguel do Iguaçu e Engenheiro Beltrão começaram a sonhar com as terras planas e baratas de que se falava, mais ao Norte. Começou então um movimento migratório impressionante, o que fez com que o Estado perdesse 13% da população ao longo dos anos 80. O Estado de Mato Grosso foi um dos principais destinos. A magnitude da migração pode ser avaliada pelos dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), feita pelo Instituto Nacional de Geografia e Estatística (IBGE). Em 2001, a Pnad mostrava a presença de 248 mil pessoas residentes em Mato Grosso que declaravam ter nascido no Paraná – o equivalente a 9,6% da população total, e o maior contingente de migrantes no Estado. A pesquisa também não deixa dúvidas sobre o que eles foram fazer por lá: 68% deles vivem em áreas rurais.
Não demorou muito e Rondônia era a terra de visão do futuro. A maioria das famílias que hoje residem em solo rondoniense, são frutos e/ou vitimas do caos que foi a onda de frio no Sul do Brasil entre as décadas de 70 e 80.
Robson Bertasso
Administração História do Paraná.
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NA FOTO: Governador Jaime Canet. (Arquivo MIS/PR).
REFERÊNCIA: Texto de Daniel Panobianco, retirado da Revista Cafeicultura.
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