Egito busca reiniciar revolução de 2011,
mas resultado é incerto
Atualizado em 5 de julho, 2013
As cenas de forte cunho emocional vistas nos últimos
dias na praça Tahrir, no Cairo, remetem a imagens de dois anos e meio
atrás, quando a revolução egípcia depôs o regime de três décadas de
Hosni Mubarak.
Em fevereiro de 2011, fogos de artifício surgiam
no céu e multidões agitavam bandeiras do Egito celebrando a queda de
Mubarak, após 18 dias de protestos consecutivos - e sem precedentes no
país.
Em seguida, houve um turbulento período sob um regime militar, até as
eleições livres e democráticas do ano passado, que elegeram o islamista
Mohammed Morsi com 51,7% dos votos.
Agora, bastaram quatro dias de manifestações em
massa para depor Morsi, depois de crescer a rejeição contra o presidente
e de as Forças Armadas terem deixado de apoiá-lo - da mesma forma como
fizeram com Mubarak.
Será, então, que a deposição à força de Morsi e a
tomada de poder por parte do Exército darão uma chance para o Egito
refazer sua revolução - ou será que a crise atual resultará em mais
divisões internas e violência?
Manobras militares
Quando o comandante militar Abdul Fattah al-Sisi
anunciou a suspensão da Constituição (tida por muitos como muito
favorável aos islâmicos) e anunciou um plano para um retorno ao regime
democrático, ele tomou o cuidado de não repetir o erro de seu
antecessor.
Ao contrário de Hussein Tantawi, que fora
ministro da Defesa de Mubarak e temporariamente o substituiu após a
revolução, Sisi nomeou o presidente da Corte Suprema Constitucional,
Adli Mansour, como líder interino do país.
Sisi afirmou que um governo tecnocrata dará assistência a Mansour até as próximas eleições presidenciais e parlamentares.
Seu anúncio, transmitido ao vivo pela TV, contou
com a presença simbólica de importantes líderes políticos e religiosos.
E o líder da igreja cristã Copta também apoiou o Exército, algo
significativo em meio às ondas de violência sectária alvejando cristãos
no Egito.
Por sua vez, Mohammed ElBaradei, líder da
oposição liberal, disse que as demandas da população haviam sido
escutadas e que a revolução de 2011 tem de ser relançada.
Tensões
O número de manifestantes pró-Morsi, reunidos na
praça Rabaa al-Adawiya, em Nasr, não é tão grande quanto o de críticos
do presidente aglomerados no centro do Cairo. Mas evidencia as
crescentes tensões no país.
Entre simpatizantes de Morsi há um forte
sentimento de indignação pela repentina mudança de rumo do país e pelo
que veem como um claro golpe militar que vai contra a experiência
democrática do Egito.
A Irmandade Muçulmana, partido de Morsi, é a
maior e mais antiga organização islamita existente e continua sendo o
grupo político mais forte do Egito. Desde que o grupo foi posto
autorizado a se organizar legalmente como um partido político, em 2011,
provou ser capaz de mobilizar simpatizantes e eleger seus candidatos à
Presidência e ao Legislativo.
Ainda que haja desconfiança entre a Irmandade e as demais forças políticas, seria um erro tentar excluí-la do cenário político.
Precedentes preocupantes
Alguns analistas lembram os preocupantes
precedentes já abertos em outros países da região que foram alvo de
intervenção militar.
Apesar de ter recentemente se afastado da política, as Forças Armadas da Turquia já removeram quatro governos eleitos no país.
Na Argélia, mais de 150 mil pessoas foram mortas
em um brutal confronto civil depois que militares anularam os
resultados das eleições de 1992, vencidas por um partido islâmico.
Os desdobramentos recentes no Cairo servem de
recordação de que o Exército é a instituição mais forte do Egito e
guardião dos valores seculares do país.
Os próximos acontecimentos dependerão muito da
capacidade dos militares em restaurar a ordem sem causar derramamento de
sangue, bem como de cumprir a promessa de construir um governo
inclusivo e coeso que seja capaz de conduzir o país durante tempos
difíceis.
A primeira tarefa do próximo governo será lidar
com uma grave crise econômica: os investimentos e o turismo têm sido
devastados pelos constantes distúrbios e pelos problemas
administrativos. A inflação disparou, e há constantes apagões e
racionamento de combustível.
O eventual fracasso em enfrentar esses problemas levará a mais insatisfação e pode criar um círculo ininterrupto de protestos.
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