Conflito colombiano só será superado com mudanças políticas, econômicas e sociais
Em entrevista, Carlos Lozano Guillén, porta-voz
do movimento Marcha Patriótica, fala sobre o conflito colombiano e o
processo de paz
Em
visita à Caracas, na Venezuela, por convite do Comitê de Solidariedade
Internacional (COSI) para promover o apoio ao processo dos diálogos de
paz na Colômbia, o porta-voz do movimento Marcha Patriótica, Carlos
Lozano Guillén, concedeu entrevista ao Tribuna Popular, jornal do
Partido Comunista Venezuelano.
Guillén, que é
membro do Comitê Executivo Central do Partido Comunista Colombiano (PCC)
e diretor do semanário VOZ, detalhou a análise e a visão do PCC sobre o
conflito colombiano e o processo de paz. Segundo ele, “é preciso
erradicar as causas que originaram o conflito”.
Guillén
alerta que a classe dominante colombiana ataca o conflito para
restringir a democracia no país. Nesse sentido, ele defende que as
garantias democráticas sejam dadas também para a esquerda e os setores
democráticos. “É necessário que se abra caminho para a Constituinte. É
fundamental a pressão popular e internacional para que [o presidente
colombiano Juan Manuel] Santos permaneça na mesa. O processo de paz não
pode ser refém das eleições”, afirmou.
Tribuna
Popular: No povo colombiano e na América Latina existe muita
expectativa pelos diálogos que estão se desenvolvendo em Havana pelo
processo de paz na Colômbia. Qual é o significado destes novos diálogos?
Carlos Lozano Guillén:
Têm um duplo significado, o que é muito importante para a Colômbia.
Porque os diálogos de paz significam a busca de uma solução política,
democrática, do longo conflito colombiano, de colocar um ponto final à
guerra de mais de seis décadas, que deixou imensas tragédias e que, é
claro, se converteu numa espécie de espada de Dâmocles para nosso país,
não só pelo drama da confrontação, mas também pela precariedade da
democracia, cada vez mais restrita, na medida que a classe dominante
colombiana acredita que a melhor forma de atacar o conflito é
restringindo a democracia, precarizando as condições e as liberdades
públicas do povo colombiano.
As
forças revolucionárias vem caracterizando o conflito colombiano como
social e político. Os diálogos de paz apontam a solução das razões que
deram origem ao conflito social e político?
Tem
que ser assim. Ou seja, o conflito colombiano não é apenas militar.
Possui sua origem econômica, social e política. Por isso, para superar o
conflito, é preciso que se erradique as causas da origem do mesmo. É
preciso consistir numa abertura da democracia e para as melhores
condições do povo colombiano. Por isso é que nós falamos de paz com
democracia e com justiça social.
Estes
diálogos estão avançando com base numa agenda que foi acordada pelo
governo de Juan Manuel Santos e as FARC-EP, em agosto do ano passado.
Nesta agenda se encontra condensada a solução dos problemas econômicos,
sociais e políticos do povo colombiano?
Existe
um acordo geral que contém uma agenda que apresenta seis pontos, entre
eles o tema agrário, o da participação política, o tema das vítimas, o
marco jurídico que se chama de justiça transicional, o tema do cessar
fogo, os direitos humanos. No segundo tema, sobre participação política,
cujas negociações começaram agora, as FARC fizeram dez propostas que
contemplam temas fundamentais políticos, para poder avançar rumo à
melhores condições em matéria de liberdades públicas, do estatuto da
oposição, dos direitos de participação cidadã e das garantias, não
somente para as insurgências que se beneficiam com os processos de paz,
mas para a esquerda e os setores democráticos, de que vão ter um
tratamento de igualdade ante a lei para efeitos dos espaços políticos e
eleitorais.
Os temas econômicos e sociais têm que
estar contemplados. De fato, uma parte deles já o estão, no tema
agrário. Porém, o tema de participação política e os temas superiores
relacionados à agenda, serão aprofundados, por exemplo, o modelo
econômico, o tema dos direitos trabalhistas. Sem dúvida que, na estreita
relação com o modelo, tem que se incluir o tema da saúde, que está
totalmente privatizada e está precarizando as condições de vida.
Então,
esses temas estão na agenda, possuem relação com o conflito, estão
reconhecidos no preâmbulo e no contexto do acordo geral que fala de que o
conflito colombiano só pode ser superado se existirem mudanças de
natureza política, econômica e social. Isso foi acordado pelo governo
que, no entanto, agora diz que esses pontos não estão na agenda, porque
separa a agenda do preâmbulo e do contexto. Porém, sem dúvida, isso tem
que ser levado em consideração e, se querem a paz, têm que incluir os
temas sociais, econômicos e político que possuem espaço na agenda. O que
acontece é que o governo, em sua visão estreita, acredita que tudo pode
ser resolvido dizendo à guerrilha que seus dirigentes poderão ser
senadores, congressistas, que poderão aspirar aos cargos de eleição
popular...
Uma barganha?
Sim,
uma barganha. E, certamente, isso é importante, pois se as FARC e o
ELN, as guerrilhas, conquistam a paz, aspirarão um espaço de
participação. No entanto, eles dizem que isso não é o fundamental,
porque o que será resolvido em Havana são problemas da sociedade
colombiana, de todo o país e, por isso, caso se queira a paz, a paz com
democracia e com justiça social, são fundamentais as mudanças sociais,
econômicas e políticas.
O
Estado colombiano e o governo têm uma identidade capitalista e as FARC,
historicamente, se reivindicam como marxistas-leninistas. Portanto,
possuem um projeto socialista. Como podem se acordar forças que possuem
projetos de país absolutamente antagônicos?
Aí,
o importante é que tanto as FARC como o governo saibam colocar os
limites existentes nessa mesa de diálogo. Porque não se pode aspirar uma
revolução por contrato, não se pode fazer isso numa mesa de diálogo. As
revoluções são feitas pelos povos, são feitas pelas massas populares e
creio que isso é perfeitamente compreendido pela guerrilha das FARC.
Então,
ali na mesa de diálogos de Havana, o alcance das mudanças é relacionado
aos problemas que originaram o conflito, que são os que estão
contemplados nessa agenda contida no acordo geral. Ou seja, não são
marximalistas, são mudanças muito concretas e, por isso insisto, do que
se fala é de paz com democracia e com justiça social, não estamos
falando de paz com socialismo ou paz sem capitalismo. Isso não se está
negociando.
Uma vez que se conquiste a paz com
democracia e justiça social, o desafio para a esquerda, incluindo as
forças insurgentes que se beneficiam com o processo de paz, é a
acumulação de forças para a construção de caminhos para uma
transformação revolucionária da sociedade colombiana. Isso está claro,
ou seja, a esquerda unitária deve converter-se numa opção real de poder
popular na Colômbia. Uma abertura democrática pode ajudar esse projeto,
justamente, por conta do fato de que a esquerda não ter avançado o
suficiente na Colômbia não se deve apenas aos erros – porque eles
existem, é claro –, porém não se deve só e exclusivamente aos erros da
esquerda. O fundamental foi o vazio da democracia, a guerra suja, a
intimidação, as campanhas de extermínio, a estigmatização da esquerda,
que é o que conseguiu enfraquecê-la, quase aniquilá-la em muitos
episódios trágicos da história colombiana.
Aqui
se trata é de ganhar um espaço democrático suficiente para que essa
esquerda e os setores democráticos possam atuar no cenário político em
pé de igualdade, sem intimidações, sem que se afete a vida e a
existência dessas organizações de esquerda, de tal maneira que possam
atuar no espaço político, no panorama nacional com opção de poder.
Tanto
as FARC como outras organizações revolucionárias ressaltaram que o
diálogo de paz não pode resumir-se à mesa de Havana e estimulam Fóruns,
Encontros, espaços de debate e discussão, elaborando propostas para o
estudo das partes em diálogo. Este chamado à participação é para o
conjunto da sociedade ou para uma parte dela?
É
justamente gerar o espaço de participação. Como dizíamos antes, em
Havana não se vão resolver os problemas da guerrilha ou do governo, mas
problemas da sociedade. Então, essa sociedade, que é heterogênea, tem
que garantir esse espaço de participação. Um deles são os Fóruns
nacionais convocados pela mesa, que são organizados pelas Nações Unidas e
pela Universidade Nacional, as mesas regionais, que são organizadas
pelo Congresso. Porém, além disso, as próprias iniciativas das
organizações populares, democráticas também estão ocorrendo. A Marcha
Patriótica, por exemplo, está promovendo as Constituintes Regionais,
Territoriais e Temáticas em todo o país, que são expressões da vontade
do povo de construir uma opção própria para respaldar o processo de
Havana e, também, de fazer suas próprias propostas, apresentar quais são
suas iniciativas, que enriquecem o debate de Havana.
Essa
iniciativa de Constituintes Regionais está inserida na proposta feita
pelas FARC sobre a necessidade de uma Assembleia Nacional Constituinte?
Sim.
De fato, as Constituintes Regionais estão, porque são propostas pela
Marcha Patriótica e convocam todas as organizações populares. De toda a
maneira tratam-se de exercícios pedagógicos do que pode ser uma
Assembleia Nacional Constituinte (ANC) e têm como objetivo principal
promover a ANC, já que a mesma precisa ser um acordo entre as partes,
legitimado e legalizado pelo próprio Congresso da República.
Então,
as Constituintes Regionais são um peso real na vida nacional, na medida
que contribuem para abrir caminho à ANC, que é a vontade do eleitorado,
que é a participação cidadã, com o entendimento de que é múltipla. Ou
seja, aí estarão as organizações populares, democráticas, os sindicatos,
os Partidos políticos de direita ou de esquerda, os diferentes
estamentos que compõem a sociedade, por alguns chamada de “sociedade
civil”.
Na Colômbia, legalmente, como se pode convocar uma ANC?
A
ANC é convocada pelo Congresso da República, como proposta do governo
nacional ou de um grupo representativo de cidadãos. Neste caso,
certamente seria uma proposta do governo ao Congresso como parte do
acordo da mesa de Havana.
As
FARC preveem que o governo faça a proposta ao Congresso e que este faça
essa convocatória e estabeleça a forma de integração da ANC?
Prevê
isso ou sua alternativa, que um grupo numeroso, conforme dito na
Constituição, de cidadãos e cidadãs, o solicite, mediante um documento
público. Ou seja, caso o governo se negue a fazê-lo, seria possível
utilizar essa alternativa. Claro, como é uma mesa de negociação, o que
se pretende é que o governo a aceite e a apresente ao Congresso, tendo
em vista que o governo possui a maior quantidade de parlamentares.
Através de sua coalizão de governo, chamada “Unidade Nacional”, tem 92%
do Congresso. Portanto, não pode dizer que não têm força suficiente para
isso.
É um pouco o que dizia um dos dirigentes
das FARC, Pablo Catatumbo, numa entrevista em que falava que o governo
necessita de capacidade de manobra, governabilidade. Porque, na
realidade, o que se vê é que, apesar de controlar o Congresso, existem
demasiadas fissuras, inclusive no próprio governo, pois enquanto Santos
diz uma coisa, o Ministro de Defesa diz outra. Então, quando reclamamos
ao governo e ao presidente que faça coesão no governo, o que Santos
explica é: “ah, é que existem uns Ministros que saem da linha do
governo”. Não, um governo não pode ter duas linhas e a solução ele tem.
Para que exista apenas uma linha, aqueles que não se submeterem, têm de
sair.
O PCC é otimista sobre as possibilidades reais deste diálogo?
O
Partido Comunista é moderadamente otimista. Não somos pessimistas, mas
tampouco exageradamente otimistas. Somos conscientes das contradições do
presidente Santos, de suas veleidades, de suas vacilações, das
concessões que faz ao militarismo. Então, esse vaivém pode levar a um
determinado momento em que adote uma linha distinta da que vem mantendo
até agora.
Santos não é uma pessoa de confiança.
Nós o reconhecemos como uma pessoa audaz, para chamá-lo de alguma
maneira, por ter se sentado numa mesa de diálogo com as FARC, mas também
reconhecemos suas profundas debilidades. Uma delas é que ele é
indeciso, faz concessões, se deixa levar pelas mudanças de ânimo, pelas
pesquisas. Quando as pesquisas mostram sua popularidade muito baixa, ele
busca uma maneira de subi-la, fortalecendo, às vezes, a linha militar
para aproximar-se da direita ou promovendo qualquer outro tipo de
concessão. Então, numa dessas veleidades dele, repentinamente, pode
terminar rompendo o processo. Essa é uma possibilidade. Certamente, aqui
é fundamental a pressão popular na Colômbia, a pressão internacional,
para que este senhor fique na mesa, pois ele nunca se comprometeu em
permanecer ali, qualquer que seja a situação que se dê. Em
contrapartida, a delegação das FARC sempre disse: daqui não nos
levantamos. Se vai romper, que rompa o governo.
Para
2014, estão previstas, na Colômbia, as eleições legislativas em março e
presidenciais em maio. As FARC apresentaram a ideia de que se adiem as
eleições. Santos e o governo imediatamente responderam negativamente a
essa possibilidade. Ajudaria aos diálogos de paz adiar as eleições por
um ano?
Nós somos partidários de
discutir o assunto. Acreditamos que está fundamentado, a delegação de
paz das FARC apresentou a proposta com argumentos, com argumentos
orientados a continuar pressionando o governo quanto aos tempos fatais,
que são os tempos eleitorais, e aos tempos de mandato, dizendo: o tempo
da atual legislatura se esgotará e não serão introduzidas mudanças que
requeridas no país...
O processo de paz deve ser ligado aos períodos eleitorais?
O
processo de paz não pode ser refém das eleições e nem do tempo de
mandato. O processo de paz possui sua dinâmica. É que estamos falando de
um conflito de seis décadas, de profundas contradições. É, justamente,
por isso que estão sentados, negociando, porque são partes que não
pensam igual e que, sobre alguns temas, pensam de maneira diametralmente
oposta. Construir acordos sobre essa base não é fácil: requer tempo,
requer a busca de consensos. Aqui tem que ser com base em consensos, é a
forma como vão se definir os caminhos. Então, o processo de paz não
pode depender de prazo. A proposta das FARC foi orientada um pouco nesse
sentido: bom, se esse é o problema, prolonguemos o tempo. Isso também
não agrada o país. Além disso, não sei, a partir do ponto de vista
legal, o quão fatídico seria, o quão ajustado à lei e à Constituição.
Seria necessário analisar, falar com os especialistas nestes temas.
Ainda que na Colômbia os advogados, eu também o sou, são especialistas
em buscar brechas... se diz “feita a lei, feita a armadilha”.
O processo de paz colombiano e estes diálogos em particular, não têm prazo, não se sabe o quanto vão durar?
O
governo vem violando o acordo geral, pois o acordo geral não contempla
tempo, o acordo geral fala de um tempo razoável. O que é um tempo
razoável? O tempo que não é indefinido, que não é eterno, mas que é
estritamente indispensável para resolver um assunto, um problema. É
disso que se trata, que o processo de diálogo tenha o tempo estritamente
indispensável para ele. Além disso, o acordo agrega uma metodologia e
diz a cada período é necessário apresentar um balanço quanto o andamento
do diálogo, a fim de dinamizar o processo, de fazer os ajustes que
sejam necessários. Em nenhuma parte se defende que tais acordos
transcorram de maneira lenta. Então, o governo pode romper. Não, muito
pelo contrário. Quando se diz que é preciso fazer um balanço para
dinamizar o diálogo, o objetivo é que, se descoberto que o mesmo não
segue num bom ritmo, seja colocado o ritmo e não para romper. Então, o
governo incorre em duas violações do acordo: a primeira, estabelece um
tempo arbitrariamente, o que, de fato, não consta no acordo. A segunda,
ameaça com a ruptura, quando não está tampouco prevista a ruptura no
acordo. No acordo, o que se diz é que o objetivo é a paz estável e
duradoura, não a ruptura.
Justamente,
falando sobre essas possibilidades de ruptura e de ações que sabotam os
diálogos, o presidente Santos recebeu em Bogotá o ex-candidato
presidencial Capriles Radonski. Qual é a apreciação do PCC com respeito a
esta ação e o impacto do papel que o governo venezuelano tem jogado no
processo de paz?
O Partido Comunista
repudiou essa reunião, além de qualificá-la como um ato de inimizade e
desleal do presidente Santos com o governo bolivariano da Venezuela,
porque Capriles não é o chefe da oposição simplesmente. Como explica
Santos: “a qualquer país que vá, eu me reúno com a oposição”, e alguns
dizem: ah, Piedad Córdoba ia à Venezuela, se reunia com Chávez e agora
se reúne com Maduro. Porém, esse não é o ponto. O senhor Capriles não é
um líder da oposição, é um líder dos golpistas, dos que querem minar a
democracia na Venezuela e que desconhece os resultados legítimos,
constitucionais, democráticos de um processo eleitoral, desconhece o
governo bolivariano. Então, é um ato no qual se está favorecendo não a
um chefe da oposição, mas a um perturbado, a um golpista.
E
o outro é o ato de deslealdade com quem serviu à causa da paz na
Colômbia. O presidente Chávez foi definitivo para que funcionasse a mesa
de diálogo e, hoje, o é o presidente Maduro. Isso foi dito pelo próprio
chefe da delegação do governo, o Doutor de la Calle Lombana: a
Venezuela foi fundamental para que possamos chegar a um final feliz. O
mesmo foi repetido por Iván Márquez, representante da delegação de paz
das FARC. Aqui Santos se equivocou. Eu não acredito que tão de boa fé,
não acredito que tenha sido ingênuo nisto, porque essa decisão de Santos
resultou depois da visita do Vice-presidente dos EUA à Colômbia. Foi
então que recebeu Capriles e quando anunciou, inclusive, o ingresso à
OTAN, que é um pacto militarista, agressivo.
A
OTAN protagonizou invasões e agressões imperialistas em distintos
países. Qual é a opinião do PCC sobre a proposta de Santos de incorporar
a Colômbia nessa organização militarista?
Essa
é a questão: o que tem a ver a Colômbia com um pacto
agressivo-militarista como a OTAN? Inclusive, os próprios europeus que
fazem parte da OTAN disseram que, geograficamente, a Colômbia não cabe
na organização. Os EUA disseram que eles poderiam ajudar para que a
Colômbia estivesse no Pacto da OTAN, porque têm interesse no território
colombiano para instalar suas bases militares, ameaçando todo o
continente e, certamente, intervindo mais diretamente no conflito
colombiano, mais do que vem fazendo não ao longo destes últimos anos,
mas ao longo de todo o conflito colombiano.
Durante
os dois mandatos presidenciais de Uribe, se dizia muito no mundo que o
governo colombiano era o Israel da América Latina. E com Santos,
continua sendo assim?
Claro, é o Caim da
América. Não é um problema de presidentes, é um problema da classe
dominante colombiana. Concordemos que foi em Bogotá onde se fundou a
OEA, o ministério de colônias ianques, como dizia o comandante Fidel
Castro em seu tempo, e o primeiro Secretário Geral foi o Chanceler
Lleras Camago, que era um símbolo dos norte-americanos, uma
personalidade colombiana. A classe dominante colombiana, a oligarquia
colombiana sempre foi servil, submissa aos interesses do imperialismo.
Para eles o tempo não passou, continuam sem a dignidade de se colocarem
em sintonia com as novas realidades que existem hoje na América Latina,
de se colocarem próximos à CELAC, à UNASUL e à ALBA. Não, a Colômbia
continua olhando pelos olhos de Washington e, por isso, não é
coincidência que Mister Biden chegue a Bogotá e que, três dias depois,
Santos receba Capriles e faça o anúncio da OTAN, que é um velho sonho
dos EUA: converter a Colômbia num território de Bases norte-americanas.
Em
abril do ano passado lançou-se um movimento denominado Marcha
Patriótica, do qual faz parte o PCC. O que é a Marcha Patriótica e qual é
sua perspectiva?
A Marcha Patriótica é
uma organização social e política que é integrada fundamentalmente por
organizações de base, agrárias, sindicais, estudantis, de mulheres, de
trabalhadores, de pessoas ligadas à cultura, de todos que representam o
espectro da sociedade colombiana ávida de mudanças, de transformação. É
isso que representa a Marcha Patriótica. E, portanto, também de
organizações políticas, como o Partido Comunista, como o grupo liberal
Poder Cidadão, de Piedad Córdoba, outros grupos menores que saíram do
Polo e que fazem parte da Marcha Patriótica.
A
Marcha Patriótica tem uma dupla finalidade dentro de sua premissa
fundacional, que é: 1 – trabalhar pela paz, defender o processo de paz
de Havana, construir um caminho para a saída política, democrática, do
conflito colombiano; 2 – a Unidade, a unidade da esquerda e dos setores
democráticos. Não só a unidade revolucionária, mas a unidade democrática
também, para formular uma opção de poder, que é a que pode consolidar a
paz. Um poder popular e democrático na Colômbia pode iniciar a mudança
para o Socialismo. Não podemos aspirá-lo na mesa de Havana. Em Havana,
ocorrerá uma abertura democrática para que se alcance o objetivo final,
que é o que desejamos. Porém, isso tem que ser complementado com um
movimento muito amplo, muito forte, influente, alternativo no país. Um
movimento de movimentos populares que possa capturar o poder para
produzir as mudanças e abrir caminho para o Socialismo, para uma nova
realidade de uma Colômbia nova, possível.
Para o PCC continuam vigentes os postulados do fundamentais do marxismo-leninismo na luta pelos Socialismo e o Comunismo?
Disso
não resta a menor dúvida. Nós fizemos nosso Congresso Nacional no ano
passado, onde reafirmamos o caráter marxista-leninista do Partido
Comunista e nossa concepção socialista e comunista para uma nova
sociedade. Para isso trabalhamos. Portanto, dentro desse conceito,
adotamos nossa tática e tudo isto que estamos fazendo hoje, de construir
um conceito de unidade popular, muito amplo, com opção de poder, vai na
direção de gerar as condições para que possamos avançar rumo esse
desafio socialista, rumo esse desafio revolucionário.
Nesse contexto, qual é o papel que está cumprindo o semanário VOZ?
O
VOZ cumpre o papel de ser uma ferramenta ideológica no campo da
comunicação e da batalha de ideias. O VOZ, é claro, é um meio de
comunicação expressamente ligado à vida e à existência do Partido
Comunista Colombiano, porém vai mais além do Partido Comunista. É uma
espécie de ponte entre o PCC e o movimento popular, o movimento
sindical, os setores mais avançados. Por isso, nos preocupamos muito que
nosso discurso, nossa mensagem, interprete essa realidade, sem
abandonar nossos princípios, sem abandonar nossa condição militante e
comunista. No entanto, também devemos entender que nossa mensagem
transcende os limites do Partido.
Então, nesse
sentido, o periódico é uma ferramenta para a luta ideológica, para a
luta popular, para a luta de massas e, por isso, insistimos. O periódico
expressa a plena vigência do conceito leninista de ser um organizador,
um educador, um agitador, um propagandista, um organizador da luta
popular, nossa mensagem tem que ser muito direto e tem que ir nessa
direção. Reclamamos sempre o direito que temos de fazê-lo. Não caímos na
hipocrisia da imprensa burguesa de dizer que somos neutros. Não, nós
não somos neutros. Nós, ao contrário, estamos alinhados com uma
política, com uma concepção, com uma ideologia revolucionária e com ela
trabalhamos e não a ocultamos e não a negamos.
A
única condição que colocamos para tornar mais eficaz nosso trabalho é
nos apoiarmos na verdade, isso sim. Não inventamos nada. Não
descontextualizamos as propostas que fazemos, nos baseamos em conceitos
reais, verídicos, em coisas que existiram, em fatos históricos que se
dão e que nos auxiliam na formulação de nossos projetos teóricos, nossos
projetos ideológicos e que são parte de nossa contribuição a esta luta
revolucionária na Colômbia.
Tradução: Partido Comunista Brasileiro (PCB)
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