Alunos desconhecem como funciona a pontuação do Enem
Segundo pesquisa, 86% dos estudantes entendem mais ou menos ou não entendem
Da Agência Brasil - 21/07/2013
A maior parte dos estudantes tem dúvidas sobre como funciona a pontuação final do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Segundo pesquisa divulgada pelo Ibope, feita pelo painel Conectaí, com 1.953 usuários que navegaram no site do Guia do Estudante, entre 4 e 9 de junho, 86% dos estudantes entendem mais ou menos ou não entendem como são pontuados.
O levantamento mostra que 62% dos estudantes entendem mais ou menos como funciona a pontuação, 24% não entendem e 14% entendem muito bem. A pesquisa mostra também que 23% dos estudantes desconfiam do sistema de correção do exame, 20% não confiam nem desconfiam e pouco mais da
metade, 58%, dizem confiar nas correções.
Todos os anos, o Enem é alvo de processos judiciais. Especialistas e estudantes dizem que a desconfiança e o desconhecimento vêm da falta de transparência na divulgação dos resultados.
O especialista em Enem e presidente de honra do Cursinho Henfil de São Paulo, Mateus Prado, explica que a nota do Enem é dada por desvio padrão. Dessa forma, mesmo que um estudante acerte o mesmo número de questões que outro estudante, isso não garante que eles tenham a mesma pontuação.
— Primeiro todas as provas são corrigidas, depois verifica-se a porcentagem
de estudantes que acertaram uma questão ou outra. Aqueles que erram
questões que a maioria acerta têm a pontuação reduzida, pois é esperado que tenham esse conhecimento. O que acontece é que aqueles que acertaram muito ficam com a impressão que tiraram uma nota menor e a grande maioria acredita que tirou mais do que acertou.
Prado diz que o sistema é melhor para que seja avaliado o conhecimento do estudante, mas também mais complexo. Outra dificuldade é a falta de transparência: mesmo que o aluno saiba fazer os cálculos ele não consegue,
por não ter disponíveis todas as variáveis.
Uma das diretoras do 3º ano do Pré-Vestibular Charles Darwin, de Vitória e
Vila Velha (ES) disse que só quem tem conhecimento das questões consideradas fáceis, médias ou difíceis é o Inep [Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira - responsável pelo exame].
— Mesmo que os alunos soubessem como é feito o cálculo, não conseguiriam fazer e isso causa muita indignação.
Segundo ela, a falta de transparência também na correção das redações faz
com que um baixo percentual confie nas correções.
— Esse índice deveria ser não 58%, mas 80%, 90%. Levada para um universo mais amplo, a pesquisa mostra que de 6 mil inscritos no exame, pouco mais de 3 mil confiam nas correções.
A estudante Thais Bastos se sentiu injustiçada com as correções e levou o caso
à Justiça no último exame.
— Ninguém sabe explicar direito a pontuação.
Ela reclama da “ausência da possibilidade de revisão de qualquer parte da prova.
Segundo a estudante, caso pudessem ser revisitadas questões pontuais
poderiam ser aperfeiçoadas, o que não é possível conhecendo-se apenas a
nota final.
O também estudante Ricardo Bolelli disse que teve aulas no cursinho sobre
como a nota do Enem é calculada. Mesmo assim decepcionou-se quando veio
o resultado. Ele obteve uma nota maior no segundo ano, quando fez a prova apenas para treinar. Na ocasião, ele acertou 130 questões.
— A nota foi maior do que a do Enem que fiz no meu terceiro ano do ensino médio e acertei 150 questões da prova. Vivemos a realidade da prova. Presenciamos casos que nos fazem perder a fé no exame. Pessoas que acertam 20 questões a menos e mesmo assim tiram notas maiores.
Thais e Ricardo também reclamaram da correção das redações. “Todo ano o Ministério da Educação (MEC) vem com inovações que teoricamente garantirão correções mais justas, mas não é isso que vemos na prática”, diz Ricardo.
O Inep considera positivo o fato de quase 60% dos estudantes confiarem na correção e apenas 23% desconfiarem. Além disso, a autarquia informa que são disponibilizados vários canais para que os estudantes tenham acesso a informações do exame. O Inep cita o espaço virtual do Enem; o próprio edital, que informa os critérios utilizados na correção da prova objetiva e da redação, assim como esclarecimentos sobre o cálculo da nota final do exame; o site do Inep; além do atendimento pelo telefone 0800 61 61 61 ou pelo espaço virtual
da autarquia.
Em relação à correção das redações, o MEC fez vários ajustes para o Enem 2013. A expectativa é que o processo seja mais rigoroso e ainda mais confiável. Entre as medidas, brincadeiras não serão toleradas e os corretores terão mais horas
de treinamento.
A pesquisa do Ibope mostra ainda que a maioria dos que responderam à pesquisa, 73% vão usar o Enem para participar do Sistema de Seleção Unificada (Sisu) - que seleciona candidatos a vagas de instituições públicas de ensino superior -, 44% usarão o Enem também para concorrer a uma bolsa do Programa Universidade para Todos (ProUni) - em instuições particulares de ensino superior - e 27% para obter um financiamento do Fundo de Financiamento Estudantil (Fies).
O Enem de 2013 recebeu número recorde de inscrições, 7.173.574. As provas serão aplicadas nos dias 26 e 27 de outubro.
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