Protestos na Turquia: Juntos pelo sistema?
Osama Hajjaj/Caglecartoons
As manifestações contra o primeiro-ministro turco
Recep Tayyip Erdoğan são comparáveis à revolta de Maio de 1968. Mas na
altura os jovens nas ruas queriam derrubar o sistema. Hoje lutam para
que o Estado-Providência sobreviva.
Há sempre algo inebriante no espetáculo da insurreição popular, quer aconteça em Istambul, Frankfurt, Atenas, Madrid ou Londres.
No seu íntimo, cada um encoraja com paixão as lutas pela justiça, pois,
do nosso ponto de vista de cidadãos abastados, julgamos que o mundo é
injusto – mesmo se na Alemanha já ninguém sofre com a repressão ou a
miséria. Cedemos rapidamente a uma visão romântica. Os manifestantes da
Praça Taksim vestem t-shirts com imagens do herói da revolução cubana,
Che Guevara, como relata o jornalista de uma rádio alemã –
induzindo-nos, assim, numa pista errada.
Nos últimos anos o entusiasmo com a contestação transformou-se rapidamente em frustração. Os movimentos na Grécia, Espanha e Grã-Bretanha são um fiasco, à semelhança do movimento mundial dos Occupy.
Falta-lhes grandeza revolucionária, brilho e força. Ao observador
faltam-lhe pontos de referência. Até porque, mesmo no século XXI, a
imagem romântica da revolução que prevalece ainda é a de 1968, o ano de
referência.
É difícil escapar à imagem romântica de insurreição. Para alguns,
1968 não passa de um símbolo, que a perceção coletiva associa a todos os
acontecimentos importantes desde 1954 a 1973, dos concertos de Bob
Dylan às guerrilhas na América Latina, passando pelas barricadas
parisienses e pelas festas nos blocos ocupados de apartamentos na
Alemanha. A cultura pop está, até hoje, marcada por uma nostalgia desta
época revolucionária, que a maioria dos adultos dos nossos dias não
viveu, ou apenas experimentou pelo seu olhar de criança. Mas porque
influenciaram o curso dos acontecimentos, as revoltas populares e os
movimentos de defesa dos direitos civis da nossa época seguem, ainda
hoje, o modelo em questão.
Defesa das conquistas do século XX
No entanto, é na estratégia que reside a diferença fundamental entre
1968 e 2013. Em 1968 o objetivo era romper com o passado e mudar o
sistema. Em 2013 é preservar o passado e garantir que o estado das
coisas mude o mínimo possível. Na Europa e nos Estados Unidos é uma luta
pela defesa das conquistas do século XX. Em 1968 queríamos ser o mais
diferentes possível dos nossos progenitores. Em 2013 queremos, a
qualquer preço, viver tão bem como eles – mas se possível saindo de casa
dos pais. Muitos jovens adultos já não têm acesso às carreiras estáveis
da geração anterior. E quando acontece uma crise, a liberdade que uma
vida profissional nómada oferece, transforma-se rapidamente em pobreza.
O fenómeno não é recente. A geração “X” já se queixava de não viver
tão bem como os seus pais. Estávamos no início da década de 1990. Os
estágios, o desenvolvimento liderado pela comunidade, o auto
empreendedorismo, mas também a cultura das jovens empresas, em voga
atualmente, são outros tantos sinais da rápida degradação das
perspetivas burguesas. Entre eles, todas as coisas que os revoltosos de
1968 relacionavam com a vida pequeno-burguesa: a reforma, o acesso à
propriedade, os seguros, o contrato de trabalho, os sindicatos, a
família. Ainda assim, a burguesia e os trabalhadores lutaram durante um
século para conquistar todas estas referências de segurança da pequena
burguesia.
Revolta é uma luta pela sobrevivência
Em Espanha e na Grécia
já não é possível usufruir deste tipo de vida burguesa. Em Inglaterra e
nos Estados Unidos está ameaçada. Já o contexto dos conflitos na
Turquia é bem mais complexo do que o dos outros países do Mediterrâneo.
Ao lado das t-shirts de Che flutuam bandeiras dos kémalistas
conservadores e o estandarte do Islão. Ainda assim, o objetivo é a
preservação dos direitos adquiridos e não o derrube do sistema.
A semelhança com a oposição ao projeto da gare ferroviária Estugarda 21
não é uma coincidência. A alteração estrutural não é tão dramática na
Alemanha. Os custos da crise do euro são controláveis. Percebemos aqui,
também, que este furor revolucionário é apenas a expressão do desespero,
que a revolta não é para derrubar o sistema, mas uma luta pela
sobrevivência. No entanto, a defesa nunca é tão poderosa como o ataque.
Até porque lhe falta o triunfo da conquista.
As manifestações contra o primeiro-ministro turco
Recep Tayyip Erdoğan são comparáveis à revolta de Maio de 1968. Mas na
altura os jovens nas ruas queriam derrubar o sistema. Hoje lutam para
que o Estado-Providência sobreviva.
Há sempre algo inebriante no espetáculo da insurreição popular, quer aconteça em Istambul, Frankfurt, Atenas, Madrid ou Londres. No seu íntimo, cada um encoraja com paixão as lutas pela justiça, pois, do nosso ponto de vista de cidadãos abastados, julgamos que o mundo é injusto – mesmo se na Alemanha já ninguém sofre com a repressão ou a miséria. Cedemos rapidamente a uma visão romântica. Os manifestantes da Praça Taksim vestem t-shirts com imagens do herói da revolução cubana, Che Guevara, como relata o jornalista de uma rádio alemã – induzindo-nos, assim, numa pista errada.
Nos últimos anos o entusiasmo com a contestação transformou-se rapidamente em frustração. Os movimentos na Grécia, Espanha e Grã-Bretanha são um fiasco, à semelhança do movimento mundial dos Occupy. Falta-lhes grandeza revolucionária, brilho e força. Ao observador faltam-lhe pontos de referência. Até porque, mesmo no século XXI, a imagem romântica da revolução que prevalece ainda é a de 1968, o ano de referência.
É difícil escapar à imagem romântica de insurreição. Para alguns, 1968 não passa de um símbolo, que a perceção coletiva associa a todos os acontecimentos importantes desde 1954 a 1973, dos concertos de Bob Dylan às guerrilhas na América Latina, passando pelas barricadas parisienses e pelas festas nos blocos ocupados de apartamentos na Alemanha. A cultura pop está, até hoje, marcada por uma nostalgia desta época revolucionária, que a maioria dos adultos dos nossos dias não viveu, ou apenas experimentou pelo seu olhar de criança. Mas porque influenciaram o curso dos acontecimentos, as revoltas populares e os movimentos de defesa dos direitos civis da nossa época seguem, ainda hoje, o modelo em questão.
O fenómeno não é recente. A geração “X” já se queixava de não viver tão bem como os seus pais. Estávamos no início da década de 1990. Os estágios, o desenvolvimento liderado pela comunidade, o auto empreendedorismo, mas também a cultura das jovens empresas, em voga atualmente, são outros tantos sinais da rápida degradação das perspetivas burguesas. Entre eles, todas as coisas que os revoltosos de 1968 relacionavam com a vida pequeno-burguesa: a reforma, o acesso à propriedade, os seguros, o contrato de trabalho, os sindicatos, a família. Ainda assim, a burguesia e os trabalhadores lutaram durante um século para conquistar todas estas referências de segurança da pequena burguesia.
Há sempre algo inebriante no espetáculo da insurreição popular, quer aconteça em Istambul, Frankfurt, Atenas, Madrid ou Londres. No seu íntimo, cada um encoraja com paixão as lutas pela justiça, pois, do nosso ponto de vista de cidadãos abastados, julgamos que o mundo é injusto – mesmo se na Alemanha já ninguém sofre com a repressão ou a miséria. Cedemos rapidamente a uma visão romântica. Os manifestantes da Praça Taksim vestem t-shirts com imagens do herói da revolução cubana, Che Guevara, como relata o jornalista de uma rádio alemã – induzindo-nos, assim, numa pista errada.
Nos últimos anos o entusiasmo com a contestação transformou-se rapidamente em frustração. Os movimentos na Grécia, Espanha e Grã-Bretanha são um fiasco, à semelhança do movimento mundial dos Occupy. Falta-lhes grandeza revolucionária, brilho e força. Ao observador faltam-lhe pontos de referência. Até porque, mesmo no século XXI, a imagem romântica da revolução que prevalece ainda é a de 1968, o ano de referência.
É difícil escapar à imagem romântica de insurreição. Para alguns, 1968 não passa de um símbolo, que a perceção coletiva associa a todos os acontecimentos importantes desde 1954 a 1973, dos concertos de Bob Dylan às guerrilhas na América Latina, passando pelas barricadas parisienses e pelas festas nos blocos ocupados de apartamentos na Alemanha. A cultura pop está, até hoje, marcada por uma nostalgia desta época revolucionária, que a maioria dos adultos dos nossos dias não viveu, ou apenas experimentou pelo seu olhar de criança. Mas porque influenciaram o curso dos acontecimentos, as revoltas populares e os movimentos de defesa dos direitos civis da nossa época seguem, ainda hoje, o modelo em questão.
Defesa das conquistas do século XX
No entanto, é na estratégia que reside a diferença fundamental entre 1968 e 2013. Em 1968 o objetivo era romper com o passado e mudar o sistema. Em 2013 é preservar o passado e garantir que o estado das coisas mude o mínimo possível. Na Europa e nos Estados Unidos é uma luta pela defesa das conquistas do século XX. Em 1968 queríamos ser o mais diferentes possível dos nossos progenitores. Em 2013 queremos, a qualquer preço, viver tão bem como eles – mas se possível saindo de casa dos pais. Muitos jovens adultos já não têm acesso às carreiras estáveis da geração anterior. E quando acontece uma crise, a liberdade que uma vida profissional nómada oferece, transforma-se rapidamente em pobreza.O fenómeno não é recente. A geração “X” já se queixava de não viver tão bem como os seus pais. Estávamos no início da década de 1990. Os estágios, o desenvolvimento liderado pela comunidade, o auto empreendedorismo, mas também a cultura das jovens empresas, em voga atualmente, são outros tantos sinais da rápida degradação das perspetivas burguesas. Entre eles, todas as coisas que os revoltosos de 1968 relacionavam com a vida pequeno-burguesa: a reforma, o acesso à propriedade, os seguros, o contrato de trabalho, os sindicatos, a família. Ainda assim, a burguesia e os trabalhadores lutaram durante um século para conquistar todas estas referências de segurança da pequena burguesia.
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