Lucas Mendes: Lição americana
De Nova York para a BBC Brasil - Atualizado em 27 de junho, 2013
Nos Estados Unidos, a crise no ensino elementar não é
novidade. Mas porque o sistema fracassa e não consegue competir com os
asiáticos, escandinavos, neo-zelandeses e outros líderes em educação
consome os americanos. O país está perto de um ponto crítico.
O pai do grande plano educacional "No Child Left
Behind" (Nenhuma Criança Fica para Trás, em tradução livre) foi o
senador Ted Kennedy. O mesmo plano assinado pelo presidente Bush em
2001. Uma dupla surpreendente e neste caso os liberais não podem culpar
os republicanos. Nem vice-versa.
Foi um investimento caro, a longo prazo nas escolas públicas
primárias e secundárias para adotar padrões e currículos nacionais
acompanhados de rigorosos testes, reforçados por horas extras. Escolas
que fracassassem perderiam verbas federais e seriam provavelmente
fechadas. O ano de cobrança é 2014.
As escolas públicas passam nove semanas do ano,
22% do período letivo, preparando os alunos para os testes . "Uma
tragédia", diz Ron Berler autor de Raising the Curve, a year inside one of America’s 45.000 failling schools.
No desespero, várias escolas falsificam testes, mas este é um problema menor.
As ênfases nos testes em matemática e inglês
enfraquecem outros cursos do currículo e os resultados nas duas matérias
dominantes ainda são decepcionantes.
Renda é fator. Na escola onde Ron Berler passou o
ano, Brookside, em Norwalk, Estado de Connecticut, só 38% dos alunos
que entram no primeiro ano sabem escrever o próprio nome, a diferença
entre maiúscula e minúscula ou contar até 10.
Dois terços dos moradores da cidade ganham menos
de US$ 45 mil por ano. Em New Cannan, uma cidade próxima, onde metade
dos moradores tem renda média de US$ 200 mil por ano, todos sabem as
respostas.
Além da ênfase exagerada nos testes que ele acha
duvidosos, Ron Berler diz que os pais são mais culpados do que os
professores. Neste caso são 500 alunos mas nas reuniões periódicas de
pais e professores para discutir os problemas dos filhos, aparecem menos
de 30 pais, a maioria deles de bons alunos que não precisam de reforços
e correções.
Contra o argumento que muitos pais trabalham
mais horas do que os pais ricos e não podem ir à escola no fim do dia,
Ron explica que as reuniões foram marcadas em diferentes dias, horários,
nos fins de semana e o comparecimento só foi alto quando a escola
informou que serviria pizzas. Compareceram125 pais.
Com os cortes mandatórios impostos pelo
Congresso, "o sequester", as escolas públicas já começaram a sangrar e
as principais vítimas são as crianças dos cursos pré-primários e dos
dois primeiros anos, considerados os blocos essenciais na formação dos
estudantes. Depois, mostram os estudos, é muito mais difcil "consertar"
um aluno.
Nos Estados Unidos houve pequeno progresso na
matemática, mas no inglês o avanço foi medíocre mesmo nas escolas
"charter", as públicas/privadas, que recebem dinheiro do estado mas têm
completa autonomia nos currículos, horários e métodos de ensino. No
Brasil, pesquisas recentes entre crianças da mesma idade, mostram que o
problema maior está na matemática e os números são muito piores do que
os americanos.
O brasileiro Paulo Blikstein, professor na
Escola de Educação e de Ciência da computação de Stanford, na
Califórnia, tem ideias revolucionárias sobre ensino, uso de computadores
e robótica para cursos de ciências e matemática, inclusive em
vizinhanças urbanas pobres.
Paulo acha que os testes são ótimos e lucrativos
para a enorme indústria que produz os testes mas não é a melhor fórmula
para testar escolas e alunos. "O ideal", diz Paulo, éh uma avaliação
holística que olhe para uma série de fatores, inclusive os testes, mas
isto é caro, trabalhoso e ninguém quer fazer” . Ele vê um ponto positivo
nas escolas "charter": "Muitas são laboratórios para novas ideias em
educação".
O Brasil foi as ruas pedir mais dinheiro para
educação e conseguiu. Os americanos investiram e investem bilhões sem
resultados. Onde os brasileiros vão investir?
Na minha última coluna, "Indignados e indignos" ,
escrevi que a violência contaminava os protestos brasileiros. Recebi
e-mails perguntando quem são mais vândalos: os políticos, construtores e
administradores corruptos, que roubam escolas, merendas de crianças,
hospitais, constroem prédios e estradas podres, ou os manifestantes que
destroem e queimam meia dúzia de ônibus e propriedades? Concordo que os
corruptos são vândalos muito piores do que os depredadores. Mas
revoluções mais profundas na Índia, Estados Unidos e África do Sul,
foram lideradas pelos pacifistas Gandi, Luther King e Mandela. Sem
quebrar e queimar, os protestos no Brasil teriam feito consquistas
maiores. Quem apostou na violência. Porque?
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