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quinta-feira, 8 de setembro de 2016

ACONTECIMENTOS DE UM GOLPE

ACONTECIMENTOS DE UM GOLPE 


Minhas humildes observações acerca dos últimos acontecimentos no Brasil, entendo que não da para abordarmos estes acontecimentos sem fazermos algumas breves considerações históricas, amarrando Brasil e conjuntura internacional, a nossa democracia que sempre apresentou fragilidades, chega ao fim novamente; a nossa história recente mostra que após vivermos 21 anos de um regime golpista, entre 1964 à 1985, que por meio da força e com amplo apoio da elite nacional, toma o país de assalto, deixaram o poder quando quiseram em 1985, aí nós temos a primeira inserção do PMDB - Partido do Movimento Democrático Brasileiro no poder, que naquele momento venceu a eleição, porém no colégio eleitoral com Tancredo Neves e por armadilhas do poder não assumiu sendo então substituído pelo vice, José Sarney, que até então era o líder do governo golpista pela ARENA - Aliança Renovadora Nacional e que desde o final da década de 1970, com o multipartidarismo passou a se chamar PDS - Partido Democrático Social, aí temos uma grande ironia: o líder do governo militar e golpista, no senado federal se torna presidente da república, era o início do período que os livros didáticos passaram a denominar de Nova República. Em 1988 é promulgada a nova constituição, a primeira sob os ventos da democracia, mas para muitos faltava a consolidação com o voto direto para presidente e isso ocorreu em 1989, a grande mídia sem perder a sua herança coronelista influi na vitória do seu candidato, Fernando Collor de Mello, que sofre um processo de impeachment em 1992, em um cenário muito diferente do de 2016 e é substituído pelo vice, Itamar Franco, novamente o PMDB a frente do país e novamente sem ter um voto. Fernando Henrique Cardoso, o FHC,  o "príncipe da Sorbone, agora no PSDB, fruto de uma desarticulação do PMDB, aliás o PSDB já foi bem diferente, como diria Bresser Pereira: "ele se afastou da social democracia e se alinhou ao neoliberalismo", na disputa do poder a qualquer custo, traça um caminho de articulações estabelecendo um pacto com o novo governo, ocupa mais de um ministério, usa o Plano Real como uma de suas bandeiras para derrubar o "sapo barbudo" e estabelece uma aliança com o PFL, atual DEM, o ápide do retrocesso político, inicia-se então a era PSDB, e o neoliberalismo no Brasil atinge o seu momento máximo, a política de privatizações devora estatais e dois mandatos são o suficientes para o esgotamento deste modelo. Vamos aqui abrir uma outra frente de ideias , enquanto a América Latina vivia as suas ditaduras sanguinárias, entre as décadas de 1960 à 1980, muitos países da Europa viviam a em um mundo bem diferente da social democracia; ainda a América Latina teria de viver governos neoliberais que infestaram o continente, durante a década de 1990, sob a influência do Consenso de Washington com políticas baseadas no "estado mínimo" proporcionando privatizações, avanço da terceirização, a economia ditado pelos interesses do capital, ventos de esquerda atingem o continente (que já foi considerado o "quintal" dos EUA), somente no inicio do novo século, apesar de que da vitória de Chávez, na Venezuela, já em 1998, esse movimento se espalha com as vitórias de Kirchner, na Argentina, Evo Morales na Bolívia, Lula no Brasil, Fernando Lugo no Paraguai e um pouco depois de Rafael Correa no Equador, entre outros exemplos, acredito que essas vitórias não transformaram estruturalmente parte da população e principalmente muitos eleitores não conseguem assimilar esse processo de vai do neoliberalismo para a centro esquerda, se deslumbram, muitas vezes, com as benesses deste momento e parte deles muda rapidamente de lado quando vê a crise chegar. 
Agora vamos nos ater ao golpe, um monstro com muitos tentáculos, o mais amplo é o político, com mais uma derrota em 2014 a oposição, particularmente PSDB/DEM, veem a possibilidade do PT permanecer no poder com Lula, em 2018 e 2022, desde o dia seguinte a derrota a oposição passa a trabalhar arduamente para a construção do golpe, temos inicialmente Aécio Neves incitando o ódio, que já o fazia durante a campanha eleitoral, seguem muitas marionetes nas manifestações que ocorrem já no final de 2014 nas ruas das principais cidades do páis, observamos um movimento articulado na classe média, (recomendo aqui a leitura do livro do Jesse Souza, "A tolice da Inteligência Brasileira"), mas para isso dar certo era preciso tirar o PMDB do governo e o capitão deste processo é Eduardo Cunha, o corrupto deputado federal do PMDB do Rio e então presidente da Câmara dos Deputados, ligado ao fundamentalismo evangélico, líder de um grupo de deputados que representam cerca de 40% da Câmara, seria necessário encontrar um pretexto: os votos que o PT não destinou a ele para salvá-lo da Comissão de Ética da Câmara, a partir disso se tem um show de horrores e o permanente discurso mentiroso das pedaladas e do "conjunto da obra", o outro tentáculo estava na justiça, que trabalha nas investigações da Operação Lava Jato e passa a enfatizar prisões de petistas, contando sempre com o apoio do último tentáculo: a grande mídia, os PIGs em ação, tudo que diz respeito a incriminar petistas sopram da justiça para a grande mídia, o ápice disso é a divulgação da gravação da conversa entre Dilma e Lula, quando da divulgação de que Lula seria indicado para Ministro da Casa Civil. Voltando a Eduardo Cunha, ele é o kamikaze do golpe, atrai a responsabilidade para si é incriminado pelo STF, até hoje não julgado, perde a presidência da Câmara dos Deputados, mas os golpistas precisam presentear Cunha pelos serviços prestados e isso poderá ocorrer com ele se livrando da cassação e a consequente permanência como deputado federal. O PMDB de volta ao poder e novamente sem disputar nenhuma eleição, Temer no poder sela o fim de regimes verdadeiramente democrático, avança com políticas neoliberais, estabelecerá uma agenda de privatizações e o fim de muitos programas sociais, desarticulará mecanismos de controle social, pois não haverá diálogo com a sociedade, governará como um déspota, se afastará dos BRICS e se entregará aos braços das corporações estadunidenses. 
Mesmo nos momento finais da votação do impeachment, a articulação para impedir a inelegibilidade de Dilma, deixa claro que ela não sofreu o processo porque era culpada e tratou-se, na verdade, de um julgamento puramente político, mas ainda neste momento e nos dias que se sucederam fica claro que o grande grupo que está envolvido no golpe não tinha uma visão de consenso.  



Prof. Marcos Geo