Mas as esperanças são pequenas sobre a reversão.
Porque no próprio Reino Unido o clima está mais para tragédia shakespeareana e comédia de erros. Uma plêiade de pré-candidatos a suceder os atuais líderes dos principais partidos, o Conservador e o Trabalhista, estão se esfaqueando mutuamente, nos bastidores e em público.
Entre os Conservadores, o atual secretário da Justiça, Michael Glove, “esfaqueou” o ex-prefeito de Londres Boris Johnson, a quem apoiara antes, dizendo que ele não tinha condições de assumir a liderança. Ferido de morte, Johnson renunciou à disputa. Mas isso só fez Therese May, atual secretária do Interior, afiar as próprias facas, assim como os outros pré-candidatos Liam Fox e Andrea Leadsom. O atual chanceler, George Osborne, tirou o time de campo, antes de ser esfaqueado. Desses todos, ninguém quer se comprometer com novo referendo.
Do lado trabalhista, Jeremy Corbyn, o atual lícer, diz que não renuncia, mas, como na peça Júlio César, boa parte dos atuais deputados da Câmara dos Comuns quer apunhalá-lo. Corbyn alega que foi eleito pela maioria dos filiados, enquanto seus desafetos alegam que ele não pode liderar um partido sem a confiança dos deputados. A deputada Angela Eagle, apontada como pré-candidata, ainda não se manifestou.
A cena sugere mais uma peça do italiano Luigi Pirandello, Seis Personagens em Busca de um Autor. A ideia que fica é que quase ninguém esperava o resultado que saiu das urnas, e agora a batata quente (no Reino Unido não dá para dizer o abacaxi…) fica rodando de mão em mão.
Quem sabe a chanceler Angela Merkel possa decidir a parada, em algum corte salomônico… Mas o Reino Unido não é a Grécia.
Enquanto isto, na Áustria...
A Suprema Corte do país, lá chamada de Tribunal Constitucional, anulou o segundo turno da eleição presidencial, de 22 de maio. Nele o independente, mas apoiado pelo Partido Verde, Alexander Van der Bellen derrotou o candidato do Partido da Liberdade, de extrema-direita, Norbert Hoffer, por uma diferença de menos de 31 mil votos, num universo de quase 4,5 milhões de eleitores.
Hoffer, inconformado, entrou com recurso. Depois de ouvir mais de 90 testemunhas, a Suprema Corte decidiu anular o pleito, embora dissesse que não houve manipulação dos resultados. Reconheceu que houve irregularidades na apuração. Por exemplo: os votos enviados pelo correio forma contados antes, em algumas juntas, do encerramento da votação nas urnas. Em outras, membros confessaram que assinaram as atas sem lê-las por inteiro.
Haverá novas eleições no outono. Lá por setembro, outubro, por aí. Até lá, a Áustria ficará com um presidente interino, pois o atual, Heinz Fischer, já está de malas prontas e não deseja embalar o fondue (também não dá para falar em abacaxi ou pepino).
E na Dinamarca…
Pela primeira vez, de acordo com a nova lei, candidatos a refugiados viram aplicada a nova e controversa lei que permite o confisco de seus bens para custear as despesas decorrentes de sua permanência. Cinco iranianos tiveram, no conjunto, cerca de 80 mil coroas (US$ 12 mil, mais ou menos) confiscadas em valores. A lei permite que cada um fique com apenas 10 mil (mais ou menos US$ 1.500). Além disso, como chegaram com passaportes falsos, serão indiciados por falsificação de documentos.
Para refugiados e imigrantes, a vida não está fácil na Europa, pois eles são o traço comum entre todas estas situações problemáticas. Ou a repulsa a sua presença. Prova de que preconceito não tem fronteiras.