Páginas

domingo, 27 de abril de 2014

BRASIL ENCABEÇA CORRIDA CONTRA HEGEMONIA DOS EUA NA REDE

BRASIL ENCABEÇA CORRIDA CONTRA 

HEGEMONIA DOS EUA NA REDE



Camila Moreira Cesar, pesquisadora associada do ISAPE, jornalista e Mestranda em Communication et Information na Université Sorbonne Nouvelle Paris III.
Após descobrir no ano passado que a agência de inteligência norte-americana NSA havia interceptado suas comunicações, a presidente Dilma Rousseff intensificou o combate à hegemonia dos Estados Unidos na governança da web, colocando o Brasil na vanguarda do processo.
Imagem: Canal Tech.
Imagem: Canal Tech.
Diego Canabarro, pesquisador em Política na Era Digital e Governança da Internet, explica que mesmo que os Estados Unidos tenham manifestado uma abertura da atual gestão da rede, ainda é prematuro falar em uma completa “desamericanizaçao” do processo. A maior parte das empresas de bens e serviços ligados à internet são americanas, o que mostra que o processo de reformulação da governança do ciberespaço ainda terá de enfrentar muitas etapas até que se chegue a uma verdadeira mudança da paisagem informacional atual.
Para o pesquisador, a chamada de atenção do governo brasileiro para a questão concretiza uma vontade antiga do país na busca de alternativas para combater a dominância dos EUA na rede. “Desde o início do processo de institucionalização de governança da internet em 1998 e, mais especificamente, a partir das reuniões da Cúpula Mundial sobre as Sociedades de Informação de 2003 e 2005, o Brasil já vem tentando mostrar para o mundo que é necessário uma democratização do ciberespaço, que é necessário que países desenvolvidos e menos desenvolvidos também sejam integrados no processo para determinar como vai se dar o avanço da tecnologia pelo planeta”, afirma.
Aprovação do Marco Civil da Internet e realização do NetMundial apontam avanços no debate
O professor de Design Digital e pesquisador Gilberto Consoni também chama a atenção para a necessidade de criar condições estruturais viáveis nos países para que o projeto se concretize, mas aponta o lugar privilegiado que a internet ocupa na economia norte-americana. “A internet é comercial, e os EUA dependem dessa internet comercial. Segundo Daniel Castro, que é o analista sênior da Information Technology and Innovation Foundation , as perdas em função dessas denúncias podem chegar a 35 bilhões de dólares em 2016”, aponta.
Consoni também destaca o papel pioneiro do Brasil na luta pela democratização das comunicações e pela preocupação com a segurança na rede, que resultou no Marco Civil da Internet (espécie de Constituição para internautas e provedores) aprovado na última terça-feira (22) pelo Senado e sancionado pela presidente Dilma durante a abertura do NetMundial, conferência realizada em São Paulo nos dias 23 e 24 de abril para discutir as atuais assimetrias da governança da internet. “Há anos se discute a questão da liberdade de expressão e segurança na rede e o governo foi bastante cuidadoso nisso. Chamou tanto a sociedade civil, que é a principal interessada, as empresas e setor político para debater o tema”, adiciona.
Para Canabarro, o modelo brasileiro é uma excelente proposta que pode servir de inspiração a outros países e promover, a longo prazo, uma dinâmica de governança global mais participativa e democrática. Ele lembra a importância do Comitê Gestor da Internet no Brasil, orgão multisetorial criado em 1995 e que integra representantes do governo, do setor privado, terceiro setor e representantes da academia e técnicos para debater as questoes ligadas à governança na rede. “Esse Comitê adotou uma carta de 10 princípios fundamentais que são projetados como o cenário ideal para se organizar as coisas na internet, como a proteção dos direitos humanos fundamentais, inclusão digital e neutralidade da internet. Essa carta evoluiu para que a própria sociedade brasileira, através do Marco Civil, quisesse decidir e delimitar de forma mais institucionalizada os direitos e deveres de todos os usuários e provedores de bens e serviços de internet que operam dentro do país”, salienta.
Segundo os pesquisadores, a visibilidade que o tema ganhou depois das denúncias do ano passado tem a tarefa de alertar o mundo para a maneira desequilibrada como o ciberespaço vinha sendo governado até então. “Acredito que o legado do NetMundial seja de alertar todos os usuários a respeito da necessidade conhecer o tema e se inserir nos debates e dar publicidade a essa realidade americanizada, assimétrica, que precisa ser constantemente combatida para que a maior parte da população do planeta também tenha condições de aproveitar os benefícios dessa ferramenta”, enfatiza Canabarro, lembrando que aproximadamente 65% das pessoas no mundo não tem acesso à rede.

Nenhum comentário:

Postar um comentário