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sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

O futuro da energia renovável - De cabo a cabo numa e-bike

O futuro da energia renovável - De cabo a cabo numa e-bike

 

Gijs Stevers, pesquisador holandês de 26 anos, atravessou 23 países em 10 meses, cobrindo 20 mil quilômetros do extremo norte europeu, em Cabo Norte, Noruega, até o extremo sul da África, onde encerrou sua jornada em Cabo da Boa Esperança: tudo a bordo de uma bicicleta elétrica.

 

Revista Bicicleta por Anderson Ricardo Schörner

O futuro da  energia renovável - De cabo a cabo numa e-bike 

Foto: Gijs Stevers

A população da Holanda é conhecida mundialmente pelo amplo uso que faz da bicicleta. Com os recentes avanços de tecnologia e fabricação das bicicletas elétricas, muitos holandeses têm optado por esta versão com auxílio elétrico, inclusive para situações que tipicamente seriam encaradas com bicicletas convencionais. Uma jornada cicloturística de 20 mil quilômetros, por exemplo!
Gijs Stevers nasceu em 1987 em Eindhoven, na Holanda, e em 2009 começou o seu mestrado em Meio Ambiente e Economia dos Recursos Naturais, na Universidade de Copenhague. Com a intenção de explorar o futuro da energia renovável, ramo em que pretende trabalhar futuramente, ele planejou sua viagem para conhecer como as comunidades utilizavam suas fontes de energia. “Não quis apenas instalar painéis solares e dirigir um carro elétrico. Achei que viajar com uma bicicleta, conversar com as pessoas que estão trabalhando no futuro da energia renovável e compartilhar meus aprendizados ministrando oficinas em escolas secundárias seria mais proveitoso. O projeto da viagem veio em um momento perfeito, em que eu queria estar em forma, aberto para um mundo em mudanças e curioso como sempre”, conta Gijs.
O holandês disse que a sua paixão por mapas foi um dos motivos para a realização da expedição. “Quando eu era adolescente, tinha o hábito de ler atlas antes de dormir. Eu podia ficar horas vendo todos os tipos de mapas, sendo surpreendido com a quantidade de informações que podem ser armazenadas ali. Nos meus pensamentos, eu fazia mapas e viagens imaginárias. Eu percebi que o mundo inteiro já havia sido explorado por homens como Vasco da Gama e Cristóvão Colombo, então, eu pensei: o que eu gostaria de explorar? Meu plano inicial era partir de Copenhague até a Cidade do Cabo; mais tarde percebi que de Cabo a Cabo (Cape to Cape, como foi batizada a viagem do Cabo Norte até Cabo da Boa Esperança) soa muito melhor, além de a rota ficar mais agradável em um mapa”.
A viagem também foi um teste extremo para a sua bicicleta elétrica, considerada por Gijs, como bom holandês, o melhor meio de locomoção para a empreitada. “Ela saiu intacta, pronta para mais 20 mil quilômetros”, afirma. A cultura da bicicleta está impregnada no seu modo de vida. Isso é bem marcante quando ele conta sobre como o projeto o ajudaria a vencer outro duelo: “meu pai, quando era mais jovem, pedalou de Tilburg, na Holanda, até Roma, na Itália, e me desafiou a superar isso. Eu consegui superar ao completar o percurso”.
A bicicleta é um símbolo de aproveitamento inteligente de energia, e mesmo com o auxílio elétrico, o holandês acredita que tenha sido a melhor escolha. “Acho que a bicicleta elétrica se encaixa muito bem com o tema das energias renováveis. E, para esta viagem, acredito que a bicicleta elétrica foi uma opção melhor do que uma bicicleta comum, por poder contar com o motor quando eu subi as terras altas da Etiópia, por exemplo. Eu sei que uma bicicleta elétrica é menos sustentável do que uma bicicleta normal, e que eu não pude carregar minha e-bike apenas usando energia renovável ao longo de toda a rota. No entanto, ela ainda é mais sustentável do que qualquer outro meio de transporte. Eu poderia ter feito a viagem de moto, carro, transporte público, mas essas opções deixariam uma pegada maior no meio ambiente”, explica Gijs. Mesmo assim, após a viagem, ele instalou 16 painéis solares na casa de seus parentes. “Em duas semanas a instalação irá produzir a mesma quantidade de energia elétrica que consumi com a minha e-bike em 10 meses de viagem”, comemora.
A bicicleta utilizada no trajeto possui duas baterias de platina que permitiram uma grande autonomia, de 100 a 150 km. Estas baterias recarregam totalmente em três horas. O motor, acoplado na roda dianteira, tem potência de 250 W. A bicicleta foi levemente personalizada e ganhou raios da roda traseira mais fortes e garfo dianteiro também mais forte, para suportar os alforjes com a bagagem de cerca de 70 kg, ou mais. Um exagero para os cicloturistas, que Gijs diz poder ter se permitido por estar em uma e-bike. “Com o auxílio elétrico, pude levar uma bagagem mais pesada”, afirma.
Em meio à sua bagagem estavam os equipamentos de camping, já que o holandês preferiu economizar com estadias. Para isso, ele também ficou em casas de amigos e conhecidos, além de encontrar abrigo com pessoas cadastradas no Couchsurfing.org, um serviço de hospitalidade que busca ligar pessoas e lugares: o usuário anfitrião cadastra-se oferecendo alojamento, a priori, de maneira gratuita. 
Dos medos da viagem, como uma chuva de pedras lançadas por meninos etíopes, tempestades de areia, leões no Quênia ou regiões com conflitos, o que mais desafiou o viajante foi a solidão. “Parecia algo tão grande antes de começar a viagem, mas uma vez que eu estava na estrada, foi surpreendentemente fácil. O maior desafio foi o tédio; eu passei muito tempo sozinho, às vezes pedalava por 100 km sem cruzar com nenhum ser humano. Na próxima vez, uma coisa que eu faria diferente seria levar alguém comigo”, analisa.

Personagens e ideias do caminho

Gijs conheceu muitas pessoas e ideias pelo caminho, e afirma que a energia que mais lhe atraiu foi a humana. “Durante a viagem, aprendi que as pessoas que estão envolvidas com o futuro das energias renováveis têm um denominador comum: todas são positivas e cheias de energia. Elas parecem mais felizes por estarem contribuindo por um mundo mais sustentável”. Gijs diz que a humanidade, ao invés de explorar os recursos, deveria ser capaz de trabalhar em conjunto com a natureza. Acompanhe abaixo algumas das pessoas e das ideias que surgiram em seu caminho.
Parque eólico Havoygavlen, em Masoy, Noruega: o parque é o mais setentrional do mundo em funcionamento, onde se encontra ventos muito fortes e tempestades de neve. O francês Aurelien e o alemão Hans usaram a rica experiência que possuem com parques eólicos europeus para abastecer 7 mil domicílios com o Havoygavlen.
Energia que vem do mar, em Uppsala, Suécia: a Universidade de Uppsala utilizou turbinas com eixo vertical no fundo do mar para capturar as imensas forças naturais das correntes de água e transformar em energia. Anders, Stefan e Sandra receberam Gijs na estação onde estão construindo as turbinas.
EgenEI, paraíso da energia renovável, Suécia: trata-se de um centro construído por Johan, dono de uma revista, para mostrar que qualquer pessoa pode produzir energia e ganhar dinheiro com isso, ao invés de pagar para ter acesso à ela. Neste centro há várias formas de geração de eletricidade, como a solar e a eólica.
Hidrelétricas em pequena escala, Suécia: Jan-Ake mostrou ao cicloturista uma forma interessante de interação entre homem, máquina e natureza. Ele propaga o desenvolvimento de pequenas hidrelétricas, que ao contrário das grandes hidrelétricas, não altera a vazão do rio, sendo uma maneira mais sustentável de produzir eletricidade. Depois de 30 anos de monitoramento, Jan-Ake nota que o fluxo em “seu” rio só aumenta.
A ambiciosa Dinamarca: Gijs esteve com Martin, ministro dinamarquês do Clima, Energia e Construção, que possui a meta de substituir de 50 a 75% da energia gerada a carvão por energias renováveis nos próximos 20 anos. Cerca de 80% dos investimentos em nova capacidade de geração de energia na Europa são direcionados para formas de energia renovável.
A ilha das energias renováveis, Samso, Dinamarca: a população desta ilha foi incentivada, especialmente nos últimos 15 anos, a encontrar opções alternativas de geração de energia. Todas as emissões de CO2 são neutralizadas e projeta-se que a ilha esteja livre de combustível fóssil até 2030.
Plantas e bactérias geram energia em Wageningen, Holanda: na Universidade de Wageningen, pesquisadores produziram eletricidade a partir de plantas vivas e bactérias. Annemieke explicou a Gijs sobre a eletrólise microbiana, e David falou sobre a sua empresa de produção de eletricidade com a ajuda de plantas, que geram 0,2 W por metro quadrado.
Biodigestor em Klarenbeek, Holanda: Tonnie construiu um biodigestor em sua fazenda. O esterco, sob a ação de bactérias, produz gás que gera calor e eletricidade. Gijs brinca que essa “vaca de concreto” precisa ser alimentada como tal.
O brinquedo de infância que virou estação de energia, Holanda: a energia eólica é bastante efetiva naquele país, e há quem queira torná- la ainda mais barata e espetacular. A Siemens já está construindo aerogeradores de 100 metros de altura, mas o sonho de Robin, John, Melvin e Allert é ir muito mais alto. Para aproveitar a densidade de potência eólica, que é maior quanto maior for a altitude, o grupo está testando pipas. Conforme os ventos desenrolam a linha, geram eletricidade. Apesar dos testes já gerarem 20 kW, o sistema ainda não é eficiente e automático como os pesquisadores querem o tornar.
Energia solar na Alemanha: o país passou a incentivar o uso de painéis solares em empresas e residências, através da Lei da Energia Renovável. O resultado foi claramente visível na paisagem alemã, com mais da metade dos telhados virados para o sul cobertos com os painéis em várias comunidades.
Energia do morango, em Belgrado, Sérvia: não é a fruta que gera energia, o nome deve-se apenas à criatividade com que o sérvio Milos nomeou a sua start-up. A ideia é plantar miniestações de energia solar para recarregar gadgets, como o celular ou o Ipad. A “árvore” possui bancos e wi-fi, tornando-se um local de descanso e um ambiente sócio- educador sobre as formas de energia renovável.
Professor Venko, Bulgária: o professor de engenharia química e bioquímica recebeu Gijs e lhe explicou sobre duas formas de geração de energia bem peculiares. Uma delas é aproveitando a matéria orgânica depositada por milhares de anos no Mar Negro, por rios como o Danúbio, por exemplo. Essa matéria produziu um acúmulo de gás tóxico de sulfeto de hidrogênio abaixo dos 200 metros da superfície. O que era um incômodo passou a se tornar uma oportunidade para gerar energia há cerca de 20 anos, através das pesquisas do grupo de Venko, que encontrou uma forma de concentrar o gás e extrair o hidrogênio. Além disso, o professor falou sobre a pirólise a 3 mil graus, que transforma tudo em monóxido de carbono, hidrogênio e carvão em poucos segundos, podendo ser um ótimo método para gerar energia.
Energia Solar Concentrada, Cairo, Egito: a Usina Kuraymat mostra uma forma inovadora de aproveitar a grande quantidade de energia recebida pelos desertos. Os estudos de viabilidade começaram em 2009, e a ideia é que grandes espelhos consigam concentrar o sol e o calor em um ponto, e a partir daí ele seja utilizado para dessalinizar a água, gerar eletricidade ou como entrada para processos industriais. 
Energia do esterco para a produção de alimentos, Etiópia: sempre que Gijs passava por alguma aldeia na Etiópia, sentia o cheiro de fumaça. Para cozinhar, a maioria dos etíopes utiliza lenha e carvão vegetal. Mas em alguns dos locais foi possível perceber a presença de biodigestores, alimentados por excrementos de gado (e até de humanos) que resultam em biogás utilizado em fornos para o cozimento, além de compostos que podem ser usados no campo.
Solarkiosk, Etiópia: também conhecida como uma unidade de negócios autônoma, trata-se de um quiosque otimizado com painéis solares, planejado para ser instalado em áreas de países em desenvolvimento que não estão conectadas a uma rede elétrica. “Ali eu pude desfrutar de uma bebida fria e um chocolate não derretido”, diz Gijs. 
Olkaria, usina geotérmica no Quênia: quem conduziu a visitação foi Isaac, um engenheiro de perfuração. O potencial desta energia no Vale do Rift é enorme e tem alimentado o crescimento do país. A usina encontra-se no Hell's Gate National Park, um parque cheio de zebras, leões e outros animais selvagens pelo qual Gijs teve que cruzar com sua bicicleta. A energia térmica gerada pelo calor do interior da terra é transformada em energia elétrica. Atualmente, o Quênia depende fortemente de usinas hidrelétricas, e nas épocas de seca a geração de energia fica fortemente comprometida.
Módulos de painéis solares “made in Kenya”, Quênia: a Ubbink, inicialmente uma empresa de materiais de construção, é a primeira fábrica de módulos de painéis solares na África Oriental. Além de aproveitar uma boa oportunidade de negócio, a empresa é uma iniciativa empreendedora que auxilia no desenvolvimento da região. Enquanto Elizabeth mostrava a fábrica para Gijs, ela afirmou sentir orgulho de trabalhar lá. “Este trabalho está em sintonia com minha formação em Engenharia Elétrica. É fascinante ver como, a partir do zero, podemos conectar as partes e fazer os painéis que podem fazer tantas coisas para uma casa”, vibra Elizabeth.
Energia solar em Malaui: o jovem Makaiko comprou um painel solar que gera até 85 W para ter em sua loja. Ele percebeu uma oportunidade para gerar renda oferecendo o serviço de carregar telefones celulares das pessoas de sua aldeia por 40 kwacha, o que equivale a 0,10 euros. Parece pouco, mas ele conseguiu pagar o painel e já pensa em comprar uma bateria melhor.
ONG que auxilia pessoas afetadas pela Aids em Harare, no Zimbábue: a fundação Seta auxilia com alojamento e tratamento medicinal contribuindo a reintegração social de pessoas portadoras do vírus HIV. Localizada na Sociedade de Engenharia e Tecnologia na África, a fundação tem a meta de ensinar habilidades para reparar e até produzir os seus próprios gadgets, ao invés de importar tudo do Japão. Gijs pôde ver um conjunto de luzes de LED recarregáveis por painéis solares e um balde especial que pode ser utilizado para tomar um banho quente.

"Quando podemos colocar em prática o aproveitamento da energia naturalmente produzida pelo vento, a água ou o sol, sentimo-nos mais leves, mas felizes. É o mesmo princípio que nos leva a defender o uso da bicicleta para a mobilidade."

Essas e outras ideias e pessoas resultaram em uma rica experiência para Gijs, que agora colocará em andamento a sua própria empresa de energia renovável. O impacto da interferência humana no meio ambiente é um problema que pesa em nossa consciência, e quando podemos colocar em prática o aproveitamento da energia naturalmente produzida pelo vento, a água ou o sol, sentimo- nos mais leves, mais felizes. É o mesmo princípio que nos leva a defender o uso da bicicleta para a mobilidade. É uma integração entre nós, o suprimento de nossos desejos e necessidades, e o que de mais natural e sustentável está disponível no mundo. Inspirações não nos faltam.


Rolezinho ou Ocupa Shopping Center?

Rolezinho ou Ocupa Shopping Center?

 

Brasil ocupa posição 77 em ranking de países mais verdes

Brasil ocupa posição 77 em ranking de países mais verdes

 

Apesar de toda sua exuberância natural, o Brasil ocupa o 77º lugar no ranking de países mais verdes do mundo em 2014. É que pelos critérios do Environmental Performance Index (EPI), lista bienal elaborada pelas Universidades de Yale e de Columbia, o que conta mesmo é como os países cuidam dos seus recursos naturais.
E aí o desempenho brasileiro deixou a desejar. No ranking, o país somou 52.97 pontos de 100, bem distante da líder Suíça, que fez 87.67 pontos.
Na análise por categoria, o país apresentou melhor desempenho no quesito qualidade do ar, com 97.67 pontos. Mas se saiu pior na preservação de recursos florestais, levando um vexatório 10 de 100 pontos, o que coloca o Brasil como o 115º país que melhor cuida de suas florestas.
Os pesquisadores americanos classificaram 178 países com base em 20 indicadores distribuídos por 9 categorias: critérios de saúde ambiental; poluição do ar; recursos hídricos; biodiversidade e habitat; recursos naturais; florestas; energia e clima; recursos pesqueiros e água e saneamento.

Janeiro mais quente de São Paulo traz secura de inverno

Janeiro mais quente de São Paulo traz secura de inverno

 


O mês de janeiro na cidade São Paulo continua a surpreender. A tarde desta quarta-feira (29) foi a mais seca do ano. Às 16 horas, o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) registrou 24% de umidade relativa do ar no Mirante de Santana, na zona norte da capital. No Campo de Marte, foi 17% de umidade, ao passo que no aeroporto de Congonhas chegou a 15%.
Segundo o Climatempo, que compilou os dados, os níveis de umidade relativa do ar observados na tarde de ontem poucas vezes ocorrem no verão. Eles são mais comuns no inverno.
A queda da umidade do ar é atribuída ao que os especialistas em clima chamam de subsidência, um movimento do ar de cima para baixo, que faz com que ele fique mais seco. O deslocamento é provocado por um grande sistema de alta pressão atmosférica sobre a Região Sudeste.
Calor histórico – Dados do Inmet mostram que janeiro caminha para se tornar o mais quente da capital paulista desde 1943. A média de temperatura do mês até hoje é de 31,7 graus.
A maior média de temperatura máxima registrada no local, desde 1943, considerando os 31 dias de janeiro foi a ano de 1956: 30,9°C.
De olho na água – A falta de chuva e o calor levaram o principal reservatório da cidade a registrar o pior nível de água nos últimos 10 anos.
Na última terça-feira (28), segundo a Sabesp, o Sistema Cantareira responsável pelo abastecimento de São Paulo, registrou 22,9% de armazenamento.

Argentina e Uruguai compartilharão arquivos da ditadura

Argentina e Uruguai compartilharão arquivos da ditadura



Itamaraty assinou dois acordos para criar intercâmbio de investigação dos casos de violações no Brasil

por Redação — publicado 30/01/2014
jango
Suspeita-se que o presidente João Goulart, cujo corpo foi exumado, tenha sido assassinado  Dick DeMarsico / Biblioteca do Congresso dos EUA

O Brasil assinou na quarta-feira 29 dois acordos bilaterais com o Uruguai e a Argentina que permitem compartilhar documentos sobre as violações de direitos humanos ocorridas durante o período do regime militar nos três países. Firmado em Havana, Cuba, onde participam da II Cúpula da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac), o memorando de entendimento prevê que as nações desenvolvam a cooperação e o intercâmbio de informações sobre o assunto e permite que os países solicitem arquivos que tenham sido conservados sobre o assunto.
O governo militar comandou o Brasil entre 1964 e 1985. As Forças Armadas argentinas governaram o país de 1976 a 1983, enquanto a sociedade uruguaia viveu a ditadura entre os anos de 1973 e 1985.
O objetivo dos acordos é contribuir para o processo de reconstrução histórica da memória, verdade e justiça. De acordo com o Itamaraty, o acordo com os dois países deverá auxiliar as atividades da Comissão Nacional da Verdade, que apura os crimes cometidos durante a ditadura brasileira. Os tratados Brasil-Argentina e Brasil-Uruguai são idênticos e estabelecem que os países colaborem com a investigação das “violações de direitos humanos no passado recente” e com o esclarecimento de casos de “desaparecimento forçado de pessoas e outras graves violações”. A iniciativa visa criar um intercâmbio de pesquisas e investigações sobre as “ditaduras que assolaram ambos os países no passado recente”.
O Itamaraty informou que o governo brasileiro considera o acordo um avanço fundamental para a “elucidação de períodos históricos recentes desses três países” e ressaltou que o esclarecimento de tais fatos contribuirá “decisivamente para o fortalecimento da democracia”.
*Com informações da Agência Brasil

quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

Indústria farmacêutica, mentiras e (muito) dinheiro

Indústria farmacêutica, mentiras e (muito) dinheiro



Seis casos revelam: efeitos graves de medicamentos são omitidos, para sustentar consumo e lucros. Verdade aparece quando patentes estão expirando…

Por Martha Rosenberg | Tradução: Gabriela Leite

Quando um medicamento causa efeitos colaterais, esta informação muitas vezes não é exposta durante anos, o que permite à indústria farmacêutica continuar ganhando muito dinheiro.
O Food and Drug Administration (FDA) [órgão governamental dos EUA para alimentos e medicamentos] e a indústria farmacêutica argumentam que os efeitos colaterais perigosos em uma droga só aparecem quando é usada por milhões de pessoas – e não no grupo relativamente pequeno de pessoas que fazem testes clínicos. Mas existe outra razão pela qual os consumidores acabam sendo cobaias. Os remédios são levados apressadamente ao mercado, após um período muito curto (de apenas seis meses) para que a indústria possa começar a ganhar dinheiro, enquanto a segurança ainda está sendo determinada.
Tanto a droga para os ossos Fosamax, repleta de riscos, quanto a analgésica Vioxx, ambas da indústria Merck, foram ao mercado após seis meses de revisão. No caso da Vioxx, isso ocorreu porque “o medicamento potencialmente provia uma vantagem terapêutica sinificativa sobre outras drogas já aprovadas”, disse a FDA.
Obrigado por isto. E cinco drogas (TrovanRezulinPosicorDuract e Meridia), que entraram no mercado em 1997 por pressões da indústria e do Congresso sobre a FDA, diz a PublicCitizen, foram em seguida retirados.
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Abaixo, algumas drogas cujos riscos não impediram que seus fabricantes fossem autorizados a colocá-las a venda e exercer seu “valor de patente”.
1. Singulair
Você imaginaria que a Merck aprendesse, após os problemas com Vioxx e a Fosamax, que marketing agressivo pode esconder apenas por algum tempo os riscos emergentes das drogas. Mas não. Para vender o Singulair, sua droga contra asma e alergias para crianças, a indústria fez uma parceria com Peter Vanderkaay, o nadador medalha de ouro nas Olimpíadas, com acadêmicos e com a Academia Norte-americana de Pediatras – mesmo após a FDA advetir sobre os “eventos neuropsiquiátricos” do medicamento, incluindo agitação, agressão, pesadelos, depressão, insônia e pensamentos suicidas.
Enquanto a Merck fazia a propaganda do Singulair (que vem em fórmula mastigável e com gosto de cereja), com slogans como “Singulair é feito pensando nas crianças”, a Fox TV e mais de 200 pais relataram, no site askapatient [“pergunte a um paciente”] que suas crianças, ao tomar o remédio, exibiam humor alterado, depressão e déficit de atenção (ADHD), hiperquinesia e sintomas suicidas. Cody Miller, um garoto de 15 anos de Queensbury, Nova York, tirou sua própria vida dias após tomar o medicamento, em 2008. Ainda assim, o Singulair arrecadou 5 bilhões de dólares para a empresa, em 2010. Após sua patente expirar, em 2012, a Administração de Bens Terapêuticos da Austrália (equivalente à FDA ou à Anvisa) reportou 58 casos de eventos psiquiátricos adversos em crianças e adolescentes, primariamente pensamentos suicidas. Quem sabia?
2. Zyprexa
Como vender uma droga que provoca ganho de peso de cerca de 10kg, em 30% dos pacientes, chegando até 45kg, em alguns? Enterrando seus riscos. O antipsicóticoZyprexa era a nova aposta da Eli Lilly, depois de seu antidepressivo campeão de vendas Prozac – mesmo que o laboratório soubesse, já em 1995, de acordo com o New York Times, que a droga está ligada a um ganho de peso incontrolável e até diabetes. Os efeitos colaterais do Zyprexa de “ganho de peso e possível hiperglicemia fazem um grande mal ao sucesso de longo prazo desta molécula criticamente importante”, havia escrito Alan Breier, da Lilly, segundo documentos obetidos pelo jornal. Mais tarde Alan tornou-se médico-chefe da empresa.
Mesmo após a Lilly ter pagado multas, após acusada de ocultar informações sobre a relação entre a droga e altos níveis de açúcar no sangue ou diabetes (e de ter comercializado ilegalmente a droga para pacientes com demência), o Zyprexa rendeu 5 bilhões de dólares em 2010, acima até do Prozac. Quem disse que crime não compensa? O Zyprexa foi especialmente comercializado para os pobres e virou um dos medicamentos principais do Medicaid, o programa público de saúde norte-americano, extraindo pelo menos 1,3 bilhões de dólares do orçamento do país, só em 2005. Em 2008, a empresa estabeleceu um acordo para cobrir o custo dos pacientes do Medicaid que desenvolveram diabetes após usar a Zyprexa. Como raposa vigiando galinheiro, a Lilly ofereceu um “serviço gratuito” para “ajudar” os estados a comprar drogas como a Zyprexa para doenças mentais — e vinte deles aceitaram a oferta. A patente do remédio acabou em 2012.
3. Seroquel
O antipsicótico Seroquel, produzido pelo laboratório AstraZeneca, do Reino Unido, tornou-se um dos medicamentos mais vendidos nos EUA, arrecadando mais de 5 bilhões de dólares em 2010, apesar de seus riscos, frequentemente relatados. O remédio foi comercializado tão vastamente para crianças pobres que, em 2007, o Departamento de Justiça para a Juventude da Florida comprou duas vezes mais Seroquel que Advil. Sua elevada aquisição no serviço militar, para usos não aprovados — como para estumular o sono e para distúrbio de estresse pós-traumático (PTSD) — também foi espantosa. Relatos de mortes repentinas de veteranos que utilizavam a droga emergiram quando as compras do Seroquel pelo Departamento de Defesa dos EUA cresceram 700%.
Poucos meses após a aprovação da Seroquel, em 1997, um artigo no Jornal de Medicina de Dakota do Sul já levantava questões sobre a interação perigosa da droga com outros onze medicamentos. Passados três anos, pesquisadores da Cleveland Clinic questionavam o efeito da Seroquel na atividade elétrica do coração. Mas mesmo quando as famílias de veteranos falecidos prestaram testemunhos em audiências no FDA, em 2009, e exigiram respostas de dirigentes e legisladores, o órgão protegeu a empresa. Depois, em 2011, com pouco alarde, o FDA emitiu novos avisos que confirmavam as notícias devastadoras: tanto o Seroquel quanto sua versão estendida, que fora lançada, “deveriam ser evitados” na combinação com pelo menos outros 12 remédios. A droga também deveria ser evitada pelos idosos e pessoas com doenças cardíacas, por causa de seus claros riscos ao coração. Ops… A patente expirou no ano seguinte.
4. Levaquin
Os antibióticos à base de fluoroquinolona estão entre os mais vendidos. Muitas pessoas lembram-se do Trovan (na época dos ataques com antrax, logo após o 11 de setembro), mas a indústria farmacêutica espera que não nos lembremos de que foi retirado de circulação por causa de danos ao fígado, e do Raxar, removido por causar eventos cardíacos e morte súbita. O Levaquin, da Johnson & Johnson, igualmente baseado em fluoroquinolona, foi o antibiótico mais ventido nos EUA em 2010, com receitas acima de US$1 bilhão por ano — mas agora é tema de milhares de processos.
Em 2012, um ano após a patente do Levaquin expirar, uma enxurrada de efeitos colaterais começou a emergir, sobre este medicamento e toda a classe de fluoroquinolonas, lançando dúvidas sobre sua segurança. A revista da Associação Médica Norte-Americana relatou que, de 4.384 pacientes diagnosticados com descolamento de rotina, 445 (10%) foram expostos a fluoroquinolone no ano anterior ao diagnóstico. A Revista de Medicina da Nova Inglaterra relatou no mesmo ano que o Levaquin estava ligado a um risco crescente de morte cardiovascular, especialmente morte súbita por distúrbios no ritmo cardíaco.
Embora a FDA tenha alertado sobre as rupturas de tendão — especialmente os tendões de Aquiles — provocadas por fluoroquinolonas em 2008, e adicionado uma tarja preta de advertência na embalagem, novos avisos graves foram feitos dois anos após o fim da patente do Levaquin. Em 2013, a FDA advertiu sobre o “efeito colateral sério de neuropatia periférica” — um tipo de dano nos nervos no qual as vias sensoriais são prejudicadas — nas fluoroquinolonas. Neuropatias periféricas causadas por esta classe de antibióticos podem “ocorrer logo após a administração destas drogas, e podem ser permanentes”, alertou a ageência. Fluoroquinolonas também estão ligadas ao Clostridiumdifficile, também chamado de C. Diff, um micróbio intestinal sério e potencialmente mortífero.
5. Topamax
Antes de sua patente expirar, em 2009, a droga Topamax deu à Johnson & Johnson um bilhão de dólares por ano, e foram mais US$ 538 milhões depois disso. O remédio foi tão preferido, para condições de dor no serviço militar, que recebeu o apelido de “Stupamax” – uma referência à maneira com que diminuia os tempos de reação e prejudicava a coordenação motora, a atenção e a memória, de acordo com oArmyTimes. Não era muito bom para o combate…
Um ano antes de cair a patente do Topamax, a FDA alertou que ela e outras drogas estão correlacionadas com suicídios, e pediu a seus fabricantes para adicionar avisos na caixa. Quatro pacientes usuários da droga mataram-se, contra nenhum sob placebo, declarou a FDA após rever os testes clínicos. Já em 2011, o órgão anunciou que o Topamax pode causar defeitos de nascimento nos lábios, nos bebês de mães que ingerem a droga. “Antes de começar com o topiramato, grávidas e mulheres em idade fértil devem discutir outras opções de tratamento com seu profissional de saúde”, alertou o FDA, mas isso não impediu o órgão de aprovar uma nova dieta de medicamentos contendo o genérico do Topamax, em 2012.
6. Oxycontin
Oxycontin, do laboratório Purdue Pharma, é a avó de drogas que geram muito dinheiro, apesar de seus efeitos colaterais letais. Junto de outros opióides, ele causou o número assutador de 17 mil mortes no ano passado — quatro vezes mais que em 2003. “O aumento [no uso] foi alimentado em parte por médicos e organizações de defesa de analgésicos, que recebiam dinheiro de empresas e faziam alegações enganosas sobre a segurança e a efetividade de opióides — inclusive afirmando que o vício é raro”, relatou o Journal Sentinel. A Sociedade de Geriatras Norte-Americanos usou pesquisadores ligados à indústria farmacêutica para reescrever guias clínicos em 2009, diz a publicação. Após reescritos, eles especificavam opióides para todos os pacientes com dor moderada a severa
Devido a sua fórmula, que lhe permite agir por um longo período, pensou-se que o Oxycontin teria toxidade e potencial de provocar dependência reduzidos – ao menos até seus efeitos tornarem-no mais popular que a cocaína nas ruas (todos os 80mg de pílulas podíam ser tomados de uma vez). Em 2010, respondendo aos vícios, overdoses e mortes associadas à droga, a Purdue Pharma desenvolvou um Oxycontin inviolável, e, dois anos depois, passou a pressionar por leis que exigissem inviolabilidade de todos os opiácios. A empresa garantiu que sua maior preocupação era a saúde pública, mas muitos se perguntaram sobre o porquê desta preocupação só se revelar às vésperas do fim da patente da droga, em 2013…

Infográfico: divulgado o diagnóstico da educação no mundo

Infográfico: divulgado o diagnóstico da educação no mundo

 


A UNESCO divulgou um relatório que demonstra a situação da educação em diversos países do mundo. Confira as informações no infográfico preparado pela Universia Brasil 
 
Universia Brasil - 29/01/2014


 
A UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) divulgou nesta quarta-feira (29) um documento que mostra a situação da educação no mundo. Trata-se do 11° Relatório de Monitoramento Global de Educação para Todos. A seguir, leia o diagnóstico da educação global, incluindo o Brasil, no infográfico que preparamos:
 
 
 


































































































































































































 

Hamburgo quer banir carros em 20 anos

Hamburgo quer banir carros em 20 anos

 

 “Em 15 a 20 anos será possível explorar a cidade exclusivamente de bike e a pé” – Angelika Fritsch, porta-voz do departamento de planejamento urbano e meio ambiente de Hamburgo ao The Guardian

 

Por TheCityFixBrasil

Hamburgo quer banir carros em 20 anos 

Cidade será tomada pelo verde e áreas de pedestres e bicicletas integrará todos os parques
Foto: Divulgação

Segunda maior cidade da Alemanha, Hamburgo foi eleita a Capital Verde Europeia em 2011 e quer um futuro ainda mais promissor. A meta, agora, é a criação da Rede Verde, que vai conectar o centro aos subúrbios e interligar os parques da cidade com área verde e vias exclusivamente para pedestres e ciclistas.
Em até 20 anos, a a cidade vai cobrir 40% de seu território com vegetação. Com isso, pretende-se eliminar por completo a circulação dos carros na região central, mudando o paradigma de que grandes metrópoles são feitas de concreto e de grandes avenidas. A grande questão não é a proibição, mas simplesmente a não necessidade de dirigir. Afinal, o que você prefere? Uma rede cercada de natureza, limpa e segura para circular a pé ou de bicicleta, ou congestionamentos quilométricos e poluição?
Além de levar qualidade de vida a seus moradores – estudos mostram que a satisfação de viver perto de áreas verdes é semelhante a casar-se, a medida é uma resposta às mudanças climáticas. Nos últimos 60 anos, a temperatura média na cidade aumentou 9ºC, e o nível do mar subiu 20 centímetros.
A ambição de Hamburgo vai contra tudo o que temos em mente quando pensamos em grandes metrópoles, com shoppings centers, telões tecnológicos e vida no asfalto. Prova disso é o ideal do departamento de planejamento urbano local:
A Rede Verde vai oferecer às pessoas oportunidades para caminhar, nadar, praticar esportes aquáticos, fazer piqueniques e observar a natureza na cidade. Isso reduz a necessidade de levar o carro para passeios de fim de semana fora da cidade e também reduz o dano ao meio ambiente, disse Fritsch.

Inspeção veicular e a poluição em SP: ruim com ela, pior sem ela

Inspeção veicular e a poluição em SP: ruim com ela, pior sem ela



Para Paulo Saldiva, do Laboratório de Poluição Atmosférica da USP, esse meio de controle, mesmo com limitações, é o que dispomos para evitar mais mortes e danos à saúde

AutorRegina Rocha / Mobilize Brasil  |  Postado em27 de janeiro de 2014

Frota é responsável por 90% da poluição do ar
Frota é responsável por 90% da poluição do ar  créditos: Reprodução

"A inspeção veicular não é o 'melhor remédio', mas é a única alternativa que temos. Seria mal negócio suspendê-la", diz o professor Paulo Saldiva, do Laboratório de Poluição Atmosférica da Faculdade de Medicina da USP.  A polêmica em São Paulo sobre este serviço ganha ares de novela. Sem sinais de entendimento, a briga entre a Prefeitura de São Paulo e a empresa Controlar vem desde o início da atual gestão. No último capítulo, a Justiça de São Paulo negou pedido da Controlar para continuar operando após 31 de janeiro, data limite obtida por liminar pela empresa. Por ora, segundo a assessoria de imprensa da Controlar, a inspeção está ocorrendo normalmente. 

No capítulo anterior, a Prefeitura rebateu a declaração do presidente da Controlar de que não há chance de o serviço ser prestado ainda este ano. Em nota, o governo garante que a inspeção veicular será realizada em 2014, "nos moldes da nova lei aprovada pela Câmara de Vereadores, sem cobrança de taxa e com calendário adaptado à idade do veículo"; e que o processo de contratação de novas empresas deve começar no segundo semestre. 

Que o paulistano terá de conviver algum tempo sem este mecanismo de controle de emissões em carros, ônibus, caminhões e motos, é certo. Mas, qual a consequência da suspensão para a qualidade do ar e a saúde da população, numa cidade onde a poluição atmosférica mata 4 mil pessoas por ano; onde 90% dessa poluição é produzida pelos carros; e onde a frota de veículos só cresce, tendo dobrado nos últimos 20 anos?

Os impactos da inspeção veicular no município de São Paulo já foram analisados e quantificados em estudos realizados em 2011 (para veículos a diesel) e 2012 (ainda não disponível), explica o engenheiro e pesquisador do Laboratório de Poluição Atmosférica da USP, Paulo Afonso de André, do Núcleo de Equipamentos e Projetos (NEP). 

Segundo Paulo Saldiva, é possível estimar em cerca de 350 mortes/ano evitadas por conta do programa de inspeção veicular. Ver outros estudos relacionados ao tema no site do Instituto Nacional de Análise Integrada do Rico Ambiental.

Em outro estudo que coordenou, um grupo de pesquisadores da Faculdade de Medicina da USP traçou um mapa mundial da poluição atmosférica. Artigo sobre este trabalho foi publicado em setembro do ano passado na revista Nature Reviews Cancer. Saldiva destaca um trecho do estudo, que analisa - e relativiza - o papel da tecnologia como único modo de resolver os problemas nessa área, como mobilidade e saúde pública. O estudo observa que de fato a melhoria tecnológica nos motores no período 1996-2004 conseguiu promover um decréscimo na emissão do material particulado. Mas que, a partir de 2004, fatores como o aumento no número de veículos e a intensidade de seu uso contínuo fizeram retroceder qualquer avanço, e o ar da cidade de São Paulo voltou a apresentar altos índices de poluentes provocados pelos carros.      

Abrangência deveria ser maior
"Numa cidade que não tem um plano constituído para o transporte coletivo, nem qualquer estímulo a outros modos de mobilidade, o que resta é a inspeção veicular, por isso não há como descartá-la. Não estamos em Berlim, onde a idade da frota é menor, onde as pessoas não usam o carro tão intensamente e o sistema de transporte público é muito, muito mais eficiente", ressalta o médico. Caso contrário, para ter um ar de melhor qualidade, ficaríamos na dependência tão somente de fatores climáticos, da dispersão dos poluentes pelo vento, pontua Saldiva.

O que não quer dizer que esta forma de controle ambiental esteja sendo feita como deveria. O atual modelo não atinge a frota irregular  - "30% dos carros não faz a inspeção", conta Saldiva. E a abrangência do serviço como é hoje só inclui a frota da capital, permitindo a entrada de autos com placa de outras localidades, inclusive da Região Metropolitana. Saldiva concorda com a proposta do prefeito Fernando Haddad de estender a obrigatoriedade a todos os municípios paulistas, responsabilizando assim o estado pela prestação do serviço. "Só não entendo porque o governo do estado ainda está de fora", critica.  

Com uma frota de 7 milhões de veículos, congestionamentos gigantes, sem políticas para atrair a população a morar mais perto do centro, não é de admirar que em São Paulo a poluição seja tão alta, com o principal componente, o ozônio, fora de controle, além do material particulado (MP10) em níveis 2,5 vezes maiores do que o recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS). 

Para tentar melhorar esse quadro, ele lembra que algumas políticas avançaram nos anos 1980, quando a fabricação de veículos incorporou melhorias tecnológicas e surgiram os carros flex, os combustíveis a etanol e gás, que conseguiu reduzir a poluição dos motores. Mas a mobilidade urbana não melhorou, comenta Saldiva, lembrando ainda o aumento das 'doenças da poluição' (doenças multifatoriais, ensina) como câncer, infarto, alergias, pressão arterial elevada... E, com a intensidade do uso do carro, o combustível queimado nos congestionamentos põe a perder qualquer avanço, diz ele: "Continuamos com o 'programa Jetsons', a visão de que para enfrentar os problemas basta apertar um botão e, sem fazer força, tudo se resolve sem precisar mudar nada". Segundo ele, é o que se vê agora na proposta do carro elétrico, ainda um modelo de transporte individual. "É a 'engenharia do bem'", ironiza, “mas a seguir essa lógica, em breve teremos enormes congestionamento de carros elétricos, o que não resolve o problema da mobilidade”, completa o professor.