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terça-feira, 3 de dezembro de 2013

Artigos tratam da precariedade de uma das belezas naturais do Rio de Janeiro

Biólogo: baía de Guanabara ainda é “latrina” após gastos de US$ 1,2 bi

 

Apesar de já terem sido consumidos US$ 1,2 bilhão em recursos públicos para despoluir a Baía de Guanabara, as águas de um dos principais cartões postais do Rio de Janeiro e que serão palco das provas de iatismo dos Jogos Olímpicos de 2016 continuam uma “latrina”, afirmou em entrevista à Agência Efe o biólogo Mario Moscatelli, um de seus principais defensores.
Para Moscatelli, “quem deveria fiscalizar os maus administradores públicos, ou está fiscalizando mal ou não está fiscalizando”. Só assim, segundo ele, se pode entender que passados 20 anos e gastos mais de US$ 1,2 bilhão, a Baía de Guanabara “continue praticamente a mesma, ou seja, uma grande latrina e uma grande lata de lixo”.​
O biólogo alega que o atual trabalho de limpeza dos rios que desembocam na baía é insuficiente. Na sua opinião de Moscatelli, são necessários “pelo menos cinco unidades de tratamento e um trabalho intensivo de recuperação e limpeza” para cumprir o compromisso assumido pelo governo estadual de limpar 80% das águas da baía até 2016. A promessa foi feita ao Comitê Olímpico Internacional (COI) quando o Rio de Janeiro foi escolhido sede dos próximos Jogos Olímpicos.
Segundo o biólogo, as principais ações para despoluir a baía foram deixadas para os próximos 32 meses, até os Jogos de 2016, o que o faz ter “uma forte expectativa e muita angústia de que se perca o pouco tempo que falta”. Atualmente, ele afirma, a situação é “dramática” em grandes áreas da baía, como no Canal do Fundão.
“Apesar das obras que foram feitas recentemente de dragagem, a quantidade de esgoto que desce dos rios e dos canais é muito grande. então, você praticamente não tem mais vida nesse canal. Você tem áreas da Baía de Guanabara extremamente contaminadas que, devido à descarga de esgoto dos rios, praticamente são desprovidas de vida”, declarou.
Para Moscatelli, “infelizmente, a Baía de Guanabara se transformou numa grande galinha dos ovos de ouro pros maus administradores públicos”, criticou.
“O que nós precisamos efetivamente são bons projetos, cronogramas, bons administradores públicos, e fiscalização. E quem não usar adequadamente o recurso público, ‘cana’, ‘cana’. Nós precismos é terminar com a impunidade no uso dos recursos públicos no Brasil, porque aqui não falta dinheiro, o que está faltando é vergonha na cara”, finalizou.

Carlos Minc: “Há 30 anos a Baía de Guanabara está podre”

 

Um dos cartões postais mais famosos do Rio de Janeiro, a Baía de Guanabara, que vai receber as competições de iatismo dos Jogos Olímpicos de 2016, vem sendo alvo de muitas reclamações de velejadores por conta de sua poluição e foi duramente criticada por Carlos Minc, ex-ministro e atual secretário estadual do Meio Ambiente, em entrevista à Agência Efe.
“Há 30 anos a Baía de Guanabara está podre”, afirmou o responsável pelo programa de despoluição das águas de um dos lugares mais emblemáticos da Cidade Maravilhosa e que nos próximos dias deixará o cargo para reassumir o mandato como deputado estadual.
Minc estendeu assim a denúncia feita à Efe pelas velejadoras Isabel Swan e Renata Decnop, da classe 470, que se dizem “envergonhadas” pelo alto grau de poluição das águas nas quais devem competir em 2016.
“É uma vergonha treinar e o barco bater em caixas de madeira, pneus e sacolas plásticas”, disse Isabel, medalhista de bronze nos Jogos Olímpicos de Pequim, em 2008.
“Em outro dia estávamos velejando aqui e parecia muito sujo, quase um esgoto”, contou a atleta.
Minc foi um dos artífices do plano de despoluição da baía, que agora deixa sem estar completo, mas, segundo ele, com grandes avanços.
Nos últimos sete anos, “acabamos com todos os lixões do entorno da Baía de Guanabara. Só eles jogavam um Maracanã até a tampa de chorume (líquido poluente originário da decomposição de resíduos orgânicos), afirmou o secretário.
O problema mais urgente agora, para ele, é o tratamento das águas residuais, embora enxergue alguns avanços: “nos últimos 7 anos passamos de 12% para 40% de limpeza de esgoto tratado”.
“Maravilha?”, questiona, para em seguida responder: “maravilha nada, 60% continuam ‘in natura’. São os detritos de todo mundo na baía”.
As águas residuais, segundo especialistas, são as causadoras de boa parte da poluição da baía de Guanabara.
A falta de saneamento básico e de coleta de lixo nas favelas próximas à baía transformam os rios que nela desaguam em depósitos de lixo de 8,5 milhões de pessoas que vivem nessas comunidades.
Para combater este problema, junto com as obras de canalização, Minc aposta nas chamadas Unidades de Tratamento de Rio (UTR), que limpam as águas antes que desemboquem na baía.
“Vamos inaugurar uma em dezembro e outra em agosto do ano que vem, o que vai reduzir em um terço a poluição na Baía de Guanabara”, declarou.
Apesar de deixar o posto de secretário, Minc se propõe a fiscalizar os trabalhos de recuperação a partir da Comissão do Meio Ambiente da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro.
“É possível completar o compromisso político de sanear 80% das águas da baía daqui até 2016 ao combinar os sistemas tradicionais de despoluição e os novos meios, como as UTRs, as ecobarreiras ou os ecobarcos”, que recolhem o lixo flutuante na água, disse.
O compromisso foi assumido pelo governo estadual quando o Comitê Olímpico Internacional (COI) escolheu o Rio de Janeiro como sede dos Jogos de 2016.
Para Minc, esse compromisso tem que estar à frente do evento esportivo. “As Olimpíadas não são o início, nem o meio, nem o final: são uma etapa. Queremos chegar a 2018 com 80% da Baía de Guanabara recuperada, porque há recursos e projetos suficientes”, afirmou.
Segundo o ex-ministro do Meio Ambiente, a principal razão da limpeza das águas da baía é salvar vidas.
“A primeira causa de mortandade infantil no Brasil são as doenças produzidas pela ingestão de água contaminada”, frisou. “O saneamento é a divisa entre a civilização e a barbárie, concluiu.

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