Afonso Capelas Jr. - 27/09/2013

Depois da pegada de carbono, os cientistas agora resolveram avaliar a “pegada de materiais” dos países. Nada mais é do que a mensuração da quantidade de recursos naturais que determinada nação faz uso para produzir bens. Segundo uma pesquisa das universidades australianas de Sidney e de New South Wales, o Brasil está em quinto lugar em um ranking de 186 países avaliados com as maiores pegadas de materiais do planeta. Nesse quesito perdemos apenas para China, Estados Unidos, Índia e Japão, deixando para trás grandes potências como Alemanha e o Reino Unido.
De acordo com os pesquisadores, o trabalho aborda uma questão fundamental em ciência da sustentabilidade: quantos e quais são os recursos naturais necessários para sustentar as economias modernas? O estudo confirmou que todos os países industrializados com crescimento do Produto Interno Bruto nas últimas décadas tiveram aumentada a sua pegada de materiais.
Os cientistas também constataram que o indicador comum que analisa somente o consumo interno de recursos naturais de um país não é preciso. Isto porque na medida em que o país cresce e se desenvolve tende a diminuir a extração interna de recursos preferindo importá-los. Em compensação, o consumo desses recursos naturais aumenta.
Para ter uma idéia, a Austrália – que ficou em 20º lugar na lista dos pesquisadores – tem a maior pegada de materiais per capita, levando-se em conta o tamanho reduzido da sua população. Cada australiano tem uma pegada de nada menos que 35 toneladas por ano. A Índia, por sua vez, tem uma pegada anual de 3,7 toneladas per capita. Nós, brasileiros, estamos consumindo cerca de 10 toneladas anualmente.
É muito, mas os cientistas alertam que pode piorar. “Há algumas projeções de como o crescimento econômico vai se desenvolver em alguns países asiáticos”, diz o principal autor do estudo Tommy Wiedman “Algumas estimativas grosseiras sugerem que, se continuarmos nesse caminho por muito tempo, em 2050 vamos utilizar até quatro vezes mais recursos que atualmente”.
A preocupação com a escassez dos recursos naturais extrapolou o meio científico e já bate com força no mercado econômico, ratificando de vez essa história. O guru do mundo dos negócios Jeremy Grantham – famoso por prever crises e quebras de grandes bancos internacionais – também está preocupado com a falta cada vez maior de recursos.
Em entrevista recente ao The Wall Street Journal, Grantham fez advertências sobre uma catástrofe ambiental que se aproxima rapidamente, com a falta mundial de alimentos, a ameaça das mudanças climáticas e o aumento dos preços dos recursos naturais cada vez mais raros.
O guru alerta para o alto consumo dessas matérias-primas: “O jogo mudou. E suspeito que mudou graças aos índices de crescimento altos da China, com 1,3 bilhão de pessoas consumindo 45% de todo o carvão utilizado no mundo, 50% de todo o cimento e 40% de todo o cobre. Quer dizer, são números que não podem continuar nesse ritmo sem que algo saia dos trilhos”.
Jeremy Grantham também disse ter feito análises minuciosas das reservas mais importantes. “Concluímos que o mais valioso e o mais crítico é o fosfato ou fósforo. Não é possível fabricar fósforo. É um elemento necessário para todas as coisas vivas. Ele é extraído pela mineração e está se esgotando”.
O especialista em previsões econômicas está aconselhando os acionistas a investir em recursos cada dia mais escassos como o petróleo, os metais e os fertilizantes, além dos alimentos.
Tudo isso deixa evidente uma situação que só tende a agravar-se, caso o mundo não contenha o consumo, o desperdício e se conscientize da necessidade urgente da reciclagem dos resíduos sólidos que descartamos diariamente.
Imagem – Creative Commons
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