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domingo, 5 de outubro de 2014

A mudança já começou

A mudança já começou

Publicado em 30/09/2014
Por Magdala Arioli*
(Foto: Ana Paula Hirama/Flickr)
Enquanto as mudanças no clima são tratadas como um desafio internacional, a ação climática no setor dos transportes é uma questão localizada, que deve ser observada atentamente por governos e também pela população.
As discussões iniciadas na Cúpula do Clima da ONU em Nova York (UN Climate Summit), na última semana de setembro, mostram a necessidade de ações ousadas para enfrentar a mudança climática. O relatório do Painel Intergovernamental da Mudança do Clima da ONU (IPCC), previsto para ser lançado em novembro, irá mostrar que as emissões contínuas de gases de efeito estufa devem mesmo causar aumentos de temperaturas e até “mudanças irreversíveis” para o meio ambiente.
(Fonte: Global Atlas / Arte: ZH/Graphic News)
Há quatro anos, o Brasil assumiu o compromisso voluntário de reduzir entre 36,1% e 38,9% as emissões de carbono até 2020, através do Plano Nacional de Mudanças Climáticas. Recente estudo lançado pelo Observatório do Clima aponta que o Brasil está em um caminho que lhe permite cumprir com o compromisso estabelecido, mas alerta para um preocupante incremento das emissões de gases de efeito estufa em alguns setores, em especial, no setor de energia, cuja principal fonte de emissões está no uso de combustíveis fósseis no setor de transporte.
O transporte é um elemento essencial na atividade econômica e conectividade social. Embora o aumento da mobilidade traga benefícios, o ritmo vertiginoso deste crescimento exige novos desafios, tornando necessária atenção política para atenuar as externalidades causadas pelo crescimento da mobilidade urbana. Os efeitos da urbanização e da mudança climática estão convergindo de forma perigosa, potencializando seus impactos negativos.
As emissões de gases poluentes dos veículos automotores implicam em uma série de efeitos que contribuem para problemas ambientais e de saúde, e as estatísticas são alarmantes. A poluição atmosférica compromete a saúde de pessoas em todo o mundo. Em 2012, 3,7 milhões de mortes prematuras foram atribuídas aos efeitos da poluição atmosférica (WHO, 2014). Em São Paulo estima-se um excesso de 7 mil mortes prematuras ao ano na região metropolitana e 4 mil na capital, decorrentes do impacto da poluição na saúde das pessoas, além da redução de 1,5 anos de vida (ISS, 2013). Uma pesquisa recente da rede EMBARQ mostra que 11 novos projetos de BRT (Bus Rapid Transit) registrados no México, Colômbia, China, Índia e África do Sul tem potencial de reduzir as emissões em 31,4 milhões de toneladas de CO2 nos próximos 20 anos. Esse montante equivale a emissões anuais dos GEE de mais de 6,5 milhões de carros.
Muitas iniciativas estão sendo desenvolvidas no Brasil, e influenciam direta e indiretamente o impacto das emissões do setor de transporte. Não existe uma única solução e sim um conjunto de ações e mudanças comportamentais. O Plano Setorial de Transporte e de Mobilidade Urbana para Mitigação e Adaptação à Mudança do Clima (PSTM), lançado em 2013, estabelece medidas para atingir a meta de redução de 36,1%, dentre as medidas está o investimento em infraestrutura para a mobilidade urbana proporcionada pelo PAC Mobilidade. As cidades brasileiras estão tendo a oportunidade de investir na mobilidade urbana e potencializar a redução das emissões globais e locais, além de promover a inclusão social e atrair usuários de carro para o transporte coletivo.
O Plano Setorial de Transportes ainda estabelece outras medidas como a substituição da fonte de energia utilizada no transporte público por ônibus, no entanto nenhuma ação concreta até o momento foi imposta. Ótimas iniciativas já foram implantadas para uso de combustíveis renováveis no transporte público, como o Programa Ecofrotas em São Paulo, entretanto o Brasil ainda carece de incentivos significativos para aumentar a participação de energias renováveis no setor de transportes.
O aquecimento global é uma realidade, não restam dúvidas. As decisões que estão sendo discutidas na Cúpula do Clima da ONU em Nova York (UN Climate Summit) irão influenciar nas condições para um novo e ambicioso acordo climático global possa ser assinado durante a Conferência do Clima de Paris (COP 21), em dezembro de 2015. Ainda que sejam muitos os desafios para direcionar os grandes planos e investimentos do Brasil para uma trajetória de re¬duções de emissões no longo prazo, espera-se que o país retome iniciativas apropriadas para conduzir o desenvolvimento de baixo carbono da nação.

*Magdala Arioli” é coordenadora de Projetos de Transporte e Clima na EMBARQ Brasil e autora do estudo”Exhaust emissions of transit buses: Brazil and India case studies”.

2. WHO, 2014. WORLD HEALTH ORGANIZATION. Ambient (outdoor) air quality and health. 

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